São Paulo, quarta-feira, 01 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

IRAQUE SOB TUTELA

Grupo islâmico divulga vídeo com degola e fuzilamento de nepaleses; franceses continuam sob ameaça

Terroristas anunciam a morte de 12 reféns

DA REDAÇÃO

O Exército Ansar al Sunna anunciou ontem que os 12 nepaleses que haviam sido seqüestrados no dia 19 no Iraque foram mortos. O grupo terrorista divulgou vídeo e fotos dos assassinatos na internet. O Nepal pediu à comunidade internacional que tomasse ações contra os responsáveis pelo "ato selvagem de terrorismo".
O vídeo mostra dois homens mascarados segurando um dos reféns. Com uma faca, um dos seqüestradores corta a cabeça do cativo e depois a coloca sobre o corpo. Em seguida, as imagens exibem os demais sendo mortos com tiros na nuca.
Caso se confirme a autenticidade das gravações, será o maior número de seqüestrados mortos de uma só vez no país. Neste ano, insurgentes já fizeram mais de cem seqüestros de estrangeiros. Cerca de uma dezena de reféns já foi morta no Iraque, e ainda há 20 mantidos em cativeiros.
O ministro das Relações Exteriores do Nepal, que não participa da coalizão liderada pelos EUA e que proibiu seus cidadãos de trabalhar no Iraque, disse que os seqüestradores não fizeram exigências. "Matar civis inocentes sem pedir qualquer condição para sua libertação vai contra os mínimos comportamentos da civilização humana", afirmou o chanceler Ram Sharan Mahat.
A exemplo de milhares de turcos, indianos, filipinos e jordanianos, os nepaleses foram para o Iraque trabalhar como motoristas, cozinheiros, faxineiros, seguranças e em outras funções de apoio às forças da coalizão.
Estima-se que existam 17 mil nepaleses nessas condições. Os 12 que foram mortos trabalhavam para uma empresa prestadora de serviços da Jordânia.
"Que pecados cometi para merecer isso?", disse Jit Bahadur Khadka, pai de um dos seqüestrados, Ramesh, 19. "Ele foi para a Jordânia dizendo que mandaria dinheiro em três meses e que voltaria em dois anos. Agora tenho de ouvir isso." Ramesh foi atraído para ir ao Iraque com um salário de cerca de R$ 1.600 -seis vezes o que ganhava trabalhando em um restaurante.
Na capital, Katmandu, cerca de 50 pessoas fizeram um protesto, acusando o governo de não ter agido adequadamente. "O governo deveria ter mandado negociadores para conseguir a libertação", disse um dos manifestantes.
O embaixador nepalês em Qatar, Shyamananda Suman, responsável pelos interesses do país na região, afirmou que o governo tentou negociar. "Não houve maneira de fazermos contato. Falei com a imprensa e apelei aos seqüestradores que os libertassem ou pelo menos fizessem suas exigências. Mas tudo foi em vão."
O chanceler Mahat afirmou que o Nepal processará os empregadores dos reféns. "O governo vai ajudar as famílias e tomará ações contra as pessoas que os mandaram ilegalmente para trabalhar naquela região perigosa."

Jornalistas franceses
O Conselho Francês da Fé Islâmica pode mandar hoje para Bagdá uma delegação de quatro membros para tentar negociar a libertação dos jornalistas franceses Christian Chesnot e Georges Malbrunot.
Segundo um representante da Liga Árabe, a extensão no prazo dado pelos seqüestradores do Exército Islâmico no Iraque para que o governo francês cancelasse a proibição do uso de véus por muçulmanas nas escolas públicas foi de 48 horas -e não 24 horas, como inicialmente informado. Desse modo, o prazo do ultimato expira na tarde de hoje.
O cessar-fogo entre os rebeldes leais ao clérigo xiita Moqtada al Sadr e as forças iraquianas parece estar funcionando. Ontem, a polícia circulou sem incidentes pelo bairro Sadr City, em Bagdá. O premiê interino, Iyad Allawi, anunciou aos líderes do bairro que o governo investirá US$ 115 milhões no local em projetos para melhorar as redes de saneamento, água e luz.
Na zona sul de Bagdá e em Mossul (sul do país), insurgentes atacaram policiais e tropas americanas. Um policial iraquiano morreu no incidente de Bagdá.


Com agências internacionais


Texto Anterior: Rússia: Ataque de mulher-bomba mata dez em Moscou
Próximo Texto: Mídia francesa se achava imune aos seqüestros, diz "Le Figaro"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.