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Atos antiviolência param Buenos Aires
Marchas servem a disputas políticas e foram lideradas por pai de jovem assassinado, Nobel da Paz e piqueteiro pró-Kirchner
Protesto de Juan Carlos Blumberg, pai de Axel e cotado para ser candidato a governador, teve o apoio de líder político da oposição
BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES
Três marchas contra a insegurança aconteceram simultaneamente na noite de ontem e
paralisaram o centro de Buenos Aires -uma contrária ao
presidente Néstor Kirchner,
outra de aliados seus e uma terceira convocada pelo Nobel da
Paz Adolfo Pérez Esquivel,
também simpático ao governo.
A segurança será um dos
principais temas da campanha
eleitoral para escolher o presidente e os governadores em
2007. Kirchner é o grande favorito, segundo pesquisas.
A primeira marcha foi convocada por Juan Carlos Blumberg, engenheiro e empresário
têxtil cujo único filho, Axel, 24,
foi seqüestrado em 17 de março
de 2004 e, seis dias depois, executado com um tiro na cabeça.
Contou com cantor de tango
entoando o hino argentino, representantes de quatro religiões e manifestantes com velas nas mãos. O protesto foi
considerado um teste da popularidade do empresário -cotado até para concorrer ao governo da Província de Buenos Aires em outubro de 2007. Segundo os organizadores, reuniu
mais de 150 mil pessoas, mas
estimativas extra-oficiais indicaram a metade desse número.
Blumberg afirmou que o ato
não teve motivação política,
embora tenha recebido apoio
dos mesmos dirigentes políticos que querem vê-lo candidato. Entre eles, Maurício Macri,
presidente do Boca Juniors e
autodeclarado candidato à Presidência pelo PRO (Partido para uma República com Oportunidades). Não havia bandeiras
políticas, só fotos de vítimas.
Reduzir a maioridade penal,
dificultar a prescrição dos crimes e implementar julgamentos por júri são algumas das reivindicações de Blumberg. Ele
também é contra o projeto de
reforma penal do governo.
Ontem, após pedir que a multidão parasse de vaiar Kirchner, disse: "Sempre temos de
respeitar o presidente, temos
que ajudá-lo. Se o presidente
vai mal, o país também". Afirmou ainda que tentou entregar
uma carta com suas propostas a
Kirchner, sem sucesso.
Contramarchas
Uma contramarcha, contrária às propostas de Blumberg,
ocorreu ao mesmo tempo ao
redor do Obelisco. Uma barreira policial foi formada para evitar confrontos entre os manifestantes, separados por apenas cinco quadras (500 m).
Convocada por Pérez Esquivel, a manifestação reuniu representantes de organizações
sociais contrárias à redução da
idade penal, à pena de morte e
ao endurecimento das penas.
Ao chegar ao local, por volta
das 18h, porém, Esquivel se disse surpreso ao ver um palco
montado e a presença de grupos piqueteiros pró-Kirchner,
comandados pelo mais polêmico aliado do governo, Luis D'Elia, líder piqueteiro que defende a expropriação de terras.
"Isso não tem nada a ver com
o nosso ato", disse Esquivel,
que se recusou a subir no palco
e fez sua marcha em separado.
D'Elia defendeu o governo
com veemência e acusou Blumberg de marchar ao lado de militares que promoveram a repressão na última ditadura, referindo-se a reservistas que declararam apoio ao empresário.
As Mães e as Avós da Praça de
Maio também criticaram
Blumberg, mas não marcharam
contra. Disseram estranhar
que ele tenha escolhido a Praça
de Maio e a quinta, dia do tradicional ato das mães, para seu
protesto. "A Praça de Maio é de
todos", respondeu Blumberg.
Números
O governo Kirchner não divulga oficialmente as estatísticas policiais de criminalidade
desde 2004. Como justificativa,
diz que os números não devem
se sobrepor à dor das famílias.
Para especialistas, o objetivo
é esconder eventuais aumentos
do crime. Os dados que chegam
à mídia são obtidos extra-oficialmente de órgãos públicos.
A ocorrência de alguns crimes brutais, o aumento dos seqüestros relâmpagos -apontados em relatório da Procuradoria Geral da Nação - e o crescimento dos furtos e roubos na
capital argentina fizeram aumentar a sensação de insegurança. Não há, porém, segundo
especialistas, uma onda de insegurança como a de 2003.
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