São Paulo, sexta-feira, 01 de setembro de 2006

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Atos antiviolência param Buenos Aires

Marchas servem a disputas políticas e foram lideradas por pai de jovem assassinado, Nobel da Paz e piqueteiro pró-Kirchner

Protesto de Juan Carlos Blumberg, pai de Axel e cotado para ser candidato a governador, teve o apoio de líder político da oposição


BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES

Três marchas contra a insegurança aconteceram simultaneamente na noite de ontem e paralisaram o centro de Buenos Aires -uma contrária ao presidente Néstor Kirchner, outra de aliados seus e uma terceira convocada pelo Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel, também simpático ao governo.
A segurança será um dos principais temas da campanha eleitoral para escolher o presidente e os governadores em 2007. Kirchner é o grande favorito, segundo pesquisas.
A primeira marcha foi convocada por Juan Carlos Blumberg, engenheiro e empresário têxtil cujo único filho, Axel, 24, foi seqüestrado em 17 de março de 2004 e, seis dias depois, executado com um tiro na cabeça.
Contou com cantor de tango entoando o hino argentino, representantes de quatro religiões e manifestantes com velas nas mãos. O protesto foi considerado um teste da popularidade do empresário -cotado até para concorrer ao governo da Província de Buenos Aires em outubro de 2007. Segundo os organizadores, reuniu mais de 150 mil pessoas, mas estimativas extra-oficiais indicaram a metade desse número.
Blumberg afirmou que o ato não teve motivação política, embora tenha recebido apoio dos mesmos dirigentes políticos que querem vê-lo candidato. Entre eles, Maurício Macri, presidente do Boca Juniors e autodeclarado candidato à Presidência pelo PRO (Partido para uma República com Oportunidades). Não havia bandeiras políticas, só fotos de vítimas.
Reduzir a maioridade penal, dificultar a prescrição dos crimes e implementar julgamentos por júri são algumas das reivindicações de Blumberg. Ele também é contra o projeto de reforma penal do governo.
Ontem, após pedir que a multidão parasse de vaiar Kirchner, disse: "Sempre temos de respeitar o presidente, temos que ajudá-lo. Se o presidente vai mal, o país também". Afirmou ainda que tentou entregar uma carta com suas propostas a Kirchner, sem sucesso.

Contramarchas
Uma contramarcha, contrária às propostas de Blumberg, ocorreu ao mesmo tempo ao redor do Obelisco. Uma barreira policial foi formada para evitar confrontos entre os manifestantes, separados por apenas cinco quadras (500 m).
Convocada por Pérez Esquivel, a manifestação reuniu representantes de organizações sociais contrárias à redução da idade penal, à pena de morte e ao endurecimento das penas.
Ao chegar ao local, por volta das 18h, porém, Esquivel se disse surpreso ao ver um palco montado e a presença de grupos piqueteiros pró-Kirchner, comandados pelo mais polêmico aliado do governo, Luis D'Elia, líder piqueteiro que defende a expropriação de terras.
"Isso não tem nada a ver com o nosso ato", disse Esquivel, que se recusou a subir no palco e fez sua marcha em separado.
D'Elia defendeu o governo com veemência e acusou Blumberg de marchar ao lado de militares que promoveram a repressão na última ditadura, referindo-se a reservistas que declararam apoio ao empresário.
As Mães e as Avós da Praça de Maio também criticaram Blumberg, mas não marcharam contra. Disseram estranhar que ele tenha escolhido a Praça de Maio e a quinta, dia do tradicional ato das mães, para seu protesto. "A Praça de Maio é de todos", respondeu Blumberg.

Números
O governo Kirchner não divulga oficialmente as estatísticas policiais de criminalidade desde 2004. Como justificativa, diz que os números não devem se sobrepor à dor das famílias.
Para especialistas, o objetivo é esconder eventuais aumentos do crime. Os dados que chegam à mídia são obtidos extra-oficialmente de órgãos públicos.
A ocorrência de alguns crimes brutais, o aumento dos seqüestros relâmpagos -apontados em relatório da Procuradoria Geral da Nação - e o crescimento dos furtos e roubos na capital argentina fizeram aumentar a sensação de insegurança. Não há, porém, segundo especialistas, uma onda de insegurança como a de 2003.


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