São Paulo, sábado, 01 de setembro de 2007

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Entre ativismo e repressão, turista enfrenta périplo

Taxas, excessos de vistos e dificuldade em hospedar-se dificultam a vida de quem quer conhecer a região, mas não inibem manifestantes

Agências se queixam de imposições de Pequim, que quer menos atenção na região

Caio Vilela/Folha Imagem
Palácio de Potala (Lhasa); com a aproximação dos Jogos Olímpicos de Pequim, governo chinês busca tirar foco público do Tibete

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LHASA

Hoje, além da permissão necessária para entrar no Tibete, é preciso um segundo documento, emitido em Lhasa, para visitar zonas rurais e fronteiriças, seguindo regras que mudam constantemente sem aviso prévio. Ainda assim, algumas áreas estão fechadas à visitação. A principal delas fica próxima à fronteira com a região de Ladakh, no norte da Índia. A área, altamente militarizada, guarda uma linha de fronteira até hoje não claramente definida. Também passaram por ali várias rotas de fuga de refugiados tibetanos para a Índia.
Para o australiano Chris Jones, operador de turismo de aventura que há 11 anos organiza expedições de rafting e cavalgada no Tibete, os protestos, "apesar das melhores intenções", dificultam a vida dos turistas e agentes de viagens. Hoje o campo-base do Everest, um dos pontos turísticos mais cobiçados pelo estrangeiros, só pode receber grupos fechados, agendados previamente, ou formados de improviso por viajantes independentes nas ruas e cafés de Lhasa.
Os que chegam ao sopé da montanha mais alta do mundo carregam uma historia em comum: perderam horas atravessando a burocracia e gastaram pelo menos US$ 165 dólares em papéis: US$ 55 pela permissão do governo para visitar a base da montanha, US$ 15 de ingresso, US$ 40 por carro pelo uso da estrada e outros US$ 55 dólares cobrados de todos que chegam ao Tibete, além, claro, da taxa pelo visto de turismo chinês.
Chegando lá, os visitantes enfrentam desconfortos com o frio e a altitude (Lhasa está a 3.500 m e o campo base do Everest fica 5.200 m acima do nível do mar), estradas precárias, enormes distâncias e a pouco variada comida local. Para visitar os monastérios, lagos de altitude e picos nevados do Himalaia, são horas de jipe e pernoites em tendas, pensões ou nos próprios monastérios.
"O número de turistas que querem ver o Everest de perto pelo lado tibetano crescerá no ano quem vem" diz Son Nam, outro agente de turismo tibetano, afiliado ao Birô de Turismo Tibetano. Do lado nepalês, uma segunda alternativa de acesso, é preciso embarcar em um vôo doméstico e enfrentar três dias de caminhada para chegar a Namche Bazzar, uma vila de onde se vê o Everest à distância.
No Tibete, veículos tracionados nas quatro rodas chegam bem perto da montanha.

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Esse interesse deve crescer com a publicidade em torno da chegada da tocha olímpica ao topo do Everest, a 8.848 m de altura, carregada por alpinistas chineses em maio do ano que vem, segundo previsão da organização dos Jogos de Pequim. O "China Daily" estima que US$ 25 milhões estejam sendo gastos para pavimentar os 108 km que separam a montanha da famosa Estrada da Amizade, que liga a capital tibetana à fronteira com o Nepal e leva turistas ao lado tibetano do Everest.
Por enquanto, quem se dirige ao Nepal e ao campo-base enfrenta uma viagem lenta. O número de postos de checagem do Exército chinês nas estradas aumentou no último mês, e as paradas são freqüentes. E muita gente acredita que as dificuldades devem aumentar. "Aparentemente, o governo chinês está disposto a fazer de tudo para reduzir o interesse internacional pelo Tibete durante os Jogos Olímpicos, mas os números mostram que a procura pela região só tende a crescer", afirma o monge Dorje, do monastério de Ganden.
"Sempre haverá jovens com camisetas de protesto e sites como o You Tube no Ocidente. Mas o governo chinês não os ignora, como fazem outros líderes em situações semelhantes. Eles levam tudo muito a sério", diz uma senhora que prefere não se identificar, em Lhasa.
Os que percorrem a estrada até Katmandu, capital do Nepal, que divide com Lhasa o movimento maior do turismo no Himalaia, assiste a um movimento contrário. Camisetas com a bandeira do Tibete e slogans pela libertação da região estão em todas as esquinas. Suvenir obrigatório. (CAIO VILELA)


Ouça relato de Caio Vilela sobre o Tibete; veja vídeos de protesto www.folha.com.br/072421

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