São Paulo, quarta-feira, 01 de setembro de 2010

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ENTREVISTA

"Um acordo definitivo é impossível"

DE JERUSALÉM

Mesmo antes do ataque de ontem na Cisjordânia, o pessimismo sobre as chances de sucesso da retomada do processo de paz predominava entre a maioria dos analistas e até entre os próprios negociadores. É o mesmo sentimento do ex-ministro israelense Yossi Beilin, um dos arquitetos dos Acordos de Oslo, que abriram o processo de reconciliação com os palestinos, em 1993. Em entrevista à Folha antes do atentado, ele previu que a tentativa de mediação do governo americano vai fracassar porque Israel não quer e os palestinos não podem chegar a um acordo definitivo. (MN)

Folha - O pessimismo manifestado pelos dois lados é real ou mera tática?
Yossi Beilin
- Há motivos reais para pessimismo. Não é uma situação normal, em que os dois lados começam a negociar porque querem chegar a um acordo. [O premiê de Israel Binyamin] Netanyahu não dá nenhum sinal de mudança ideológica, fora a aceitação de dois Estados -e, mesmo assim, com muitas reservas. Mesmo que fosse obtido um acordo não seria possível implementá-lo, pois a Autoridade Nacional Palestina não controla Gaza. Reunir os dois lados para chegar a um acordo definitivo não é relevante no momento. Não entendo para que [o presidente Barack] Obama está organizando essa bobagem. Ele sabe que não há chance de um acordo definitivo.

Seria melhor um acordo interino, como em Oslo?
A ideia de Oslo era terminar tudo em cinco anos. Não é simples esticar mais esse processo, mas, nas condições atuais, um acordo temporário talvez seja a única saída possível. Claro que o ideal seria atacar de cara os temas mais difíceis. O problema é que Netanyahu não está pronto. Sua tática é simples: ele fará de tudo para não discutir os temas definitivos e ganhar tempo. Depois poderá falar que tentou, mas os palestinos não quiseram negociar.

A chave do sucesso é a pressão americana?
Pode-se pressionar para que haja uma retirada ou o alívio do bloqueio, mas não lembro de nenhum caso em que pressão tenha levado a um acordo de paz. Não depende tanto de Obama, ainda mais porque ele provavelmente sairá muito mais fraco das eleições para o Congresso americano, em novembro.

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folha.com.br/mu791923


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