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ANÁLISE
Começa o diálogo direto. Ou de surdos
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
Israelenses e palestinos
passam hoje diretamente do
diálogo indireto, via mediação norte-americana, para o
diálogo de surdos, embora
tenha sido batizado oficialmente de "diálogo direto".
Diálogo de surdos pela
simples razão de que cada lado interpretou de maneira diferente o convite feito pelos
Estados Unidos para retomar
as conversações, interrompidas há 17 meses.
Para a Autoridade Palestina, trata-se de negociar nos
termos expostos pelo Quarteto (Estados Unidos, Rússia,
União Europeia e Nações
Unidas), em texto divulgado
na semana passada.
A condição essencial, do
ponto de vista dos palestinos, é a retirada de Israel de
todos os territórios ocupados
a partir de 1967.
É nessas terras mais a Faixa de Gaza, a única área palestina já desocupada por Israel, que se pretende estabelecer o Estado palestino.
Já o governo israelense jura que o convite para a retomada do diálogo não pressupunha nenhuma condição.
Mais: o primeiro-ministro
Binyamin Netanyahu leva
como prioridade número 1 a
garantia da segurança de Israel. É algo que a Autoridade
Palestina não pode entregar.
Está conseguindo, sim,
controlar os radicais que vivem na Cisjordânia, com a
inestimável ajuda do muro
que Israel está construindo
para isolar os territórios palestinos. Mesmo assim não é
um controle inexpugnável,
do que dá prova o atentado
que matou ontem quatro israelenses no assentamento
de Kiryat Arba, nas imediações de Hebron.
Mas a Autoridade Palestina não manda nada na Faixa
de Gaza, governada pelo Hamas, que continua formalmente a defender o fim do Estado judeu. E que, periodicamente, está a despejar foguetes sobre as cidades de Israel
na fronteira com Gaza.
O diálogo de surdos se dá
até em um aspecto que é pontual e cuja complexidade não
se compara com os itens que
devem ser debatidos para um
acordo substancial.
Trata-se do congelamento
das construções nos assentamentos israelenses, inclusive em Jerusalém Oriental.
O congelamento vigora
apenas até dia 27 e sua manutenção é condição sine
qua non para que palestinos
continuem negociando. Netanyahu, no entanto, em nenhum momento, prometeu
estender o congelamento.
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