São Paulo, quarta-feira, 01 de setembro de 2010

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ANÁLISE

Começa o diálogo direto. Ou de surdos

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

Israelenses e palestinos passam hoje diretamente do diálogo indireto, via mediação norte-americana, para o diálogo de surdos, embora tenha sido batizado oficialmente de "diálogo direto".
Diálogo de surdos pela simples razão de que cada lado interpretou de maneira diferente o convite feito pelos Estados Unidos para retomar as conversações, interrompidas há 17 meses.
Para a Autoridade Palestina, trata-se de negociar nos termos expostos pelo Quarteto (Estados Unidos, Rússia, União Europeia e Nações Unidas), em texto divulgado na semana passada.
A condição essencial, do ponto de vista dos palestinos, é a retirada de Israel de todos os territórios ocupados a partir de 1967.
É nessas terras mais a Faixa de Gaza, a única área palestina já desocupada por Israel, que se pretende estabelecer o Estado palestino.
Já o governo israelense jura que o convite para a retomada do diálogo não pressupunha nenhuma condição. Mais: o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu leva como prioridade número 1 a garantia da segurança de Israel. É algo que a Autoridade Palestina não pode entregar.
Está conseguindo, sim, controlar os radicais que vivem na Cisjordânia, com a inestimável ajuda do muro que Israel está construindo para isolar os territórios palestinos. Mesmo assim não é um controle inexpugnável, do que dá prova o atentado que matou ontem quatro israelenses no assentamento de Kiryat Arba, nas imediações de Hebron.
Mas a Autoridade Palestina não manda nada na Faixa de Gaza, governada pelo Hamas, que continua formalmente a defender o fim do Estado judeu. E que, periodicamente, está a despejar foguetes sobre as cidades de Israel na fronteira com Gaza.
O diálogo de surdos se dá até em um aspecto que é pontual e cuja complexidade não se compara com os itens que devem ser debatidos para um acordo substancial.
Trata-se do congelamento das construções nos assentamentos israelenses, inclusive em Jerusalém Oriental.
O congelamento vigora apenas até dia 27 e sua manutenção é condição sine qua non para que palestinos continuem negociando. Netanyahu, no entanto, em nenhum momento, prometeu estender o congelamento.


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