São Paulo, quarta-feira, 01 de setembro de 2010

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Produtor rural morre após greve de fome na Venezuela

Franklin Brito cobrava do governo de Hugo Chávez ressarcimento por suposta expropriação de terrenos

Caracas afirma que não houve expropriação e que tentou demovê-lo do jejum; a oposição critica Hugo Chávez


DE CARACAS

Opositores e organizações não-governamentais venezuelanas acusaram ontem Hugo Chávez de ser responsável pela morte do produtor rural Franklin Brito.
Ele morreu anteontem após quase oito meses de greve de fome intermitente em protesto contra o governo.
Brito, 49, exigia que o governo reconhecesse que lhe devia ressarcimento financeiro e moral pela suposta expropriação de suas terras, no começo da década.
O produtor rural morreu no Hospital Militar de Caracas, onde estava internado desde janeiro -por ordem da Justiça e contra sua vontade.
"Seguiremos lutando pelas terras", disse à reportagem sua filha Angela, 20, anteontem, que acusou o governo de ignorar seu pai.
O caso de Brito se arrastava ao menos desde 2005, com várias versões e reações do governo. A Justiça não reconheceu sua demanda. O produtor rural fez, no período, oito greves de fome. Há cinco anos, cortou um dedo ante as câmeras de TV também para protestar.
O governo Hugo Chávez não se pronunciou oficialmente sobre o caso. Caracas vinha afirmando que não houve expropriação das terras de Brito, no Estado Bolívar (sul), e dizia ter feito tudo para demovê-lo do jejum.
Apesar de não reconhecer a expropriação, em 2008, o governo revogou titulações de terras que, segundo Brito, invadiam seu terreno, e ofereceu um trator e outras benfeitorias ao produtor.
Brito, porém, exigia que as ofertas fossem em reconhecimento ao dano causado.
Em junho, quando Brito radicalizou a greve de fome e parou de ingerir líquidos, o governo convocou jornalistas e órgãos como a ONU e a OEA para falar do tema.

CAMPANHA
A família do agricultor lançou comunicado afirmando que ele será "símbolo e bandeira" da luta contra os atropelos do poder. A TV opositora Globovisión o chamava de mártir em defesa do direito de propriedade.
A morte de Brito ocorre em plena campanha para as eleições legislativas do próximo dia 26. Partidos de oposição e a Mesa de Unidade (MUD), coalizão de legendas opositoras, condenaram Chávez.
Mariano Alvarado, da respeitada ONG de direitos humanos Provea, acusou a Justiça de ordenar o "sequestro" de Brito e privá-lo da atenção médica de sua preferência.
Em janeiro, a Justiça, a pedido do Ministério Público, ordenou que o produtor fosse internado para "preservar sua vida". Angela, filha de Brito, disse, em junho, que seu pai exigia ser tratado por médicos de confiança.
Moradores do bairro de Sebucán, na zona nobre de Caracas, atenderam à convocação de um panelaço por Brito. A convocatória foi nacional, pelo Twitter, e não havia informação confiável sobre a adesão. (FLÁVIA MARREIRO)


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