|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Produtor rural morre após greve de fome na Venezuela
Franklin Brito cobrava do governo de Hugo Chávez ressarcimento por suposta expropriação de terrenos
Caracas afirma que não houve expropriação e que tentou demovê-lo do jejum; a oposição critica Hugo Chávez
DE CARACAS
Opositores e organizações
não-governamentais venezuelanas acusaram ontem
Hugo Chávez de ser responsável pela morte do produtor
rural Franklin Brito.
Ele morreu anteontem
após quase oito meses de greve de fome intermitente em
protesto contra o governo.
Brito, 49, exigia que o governo reconhecesse que lhe
devia ressarcimento financeiro e moral pela suposta
expropriação de suas terras,
no começo da década.
O produtor rural morreu
no Hospital Militar de Caracas, onde estava internado
desde janeiro -por ordem da
Justiça e contra sua vontade.
"Seguiremos lutando pelas terras", disse à reportagem sua filha Angela, 20, anteontem, que acusou o governo de ignorar seu pai.
O caso de Brito se arrastava ao menos desde 2005,
com várias versões e reações
do governo. A Justiça não reconheceu sua demanda. O
produtor rural fez, no período, oito greves de fome. Há
cinco anos, cortou um dedo
ante as câmeras de TV também para protestar.
O governo Hugo Chávez
não se pronunciou oficialmente sobre o caso. Caracas
vinha afirmando que não
houve expropriação das terras de Brito, no Estado Bolívar (sul), e dizia ter feito tudo
para demovê-lo do jejum.
Apesar de não reconhecer
a expropriação, em 2008, o
governo revogou titulações
de terras que, segundo Brito,
invadiam seu terreno, e ofereceu um trator e outras benfeitorias ao produtor.
Brito, porém, exigia que as
ofertas fossem em reconhecimento ao dano causado.
Em junho, quando Brito
radicalizou a greve de fome e
parou de ingerir líquidos, o
governo convocou jornalistas e órgãos como a ONU e a
OEA para falar do tema.
CAMPANHA
A família do agricultor lançou comunicado afirmando
que ele será "símbolo e bandeira" da luta contra os atropelos do poder. A TV opositora Globovisión o chamava de
mártir em defesa do direito
de propriedade.
A morte de Brito ocorre em
plena campanha para as eleições legislativas do próximo
dia 26. Partidos de oposição e
a Mesa de Unidade (MUD),
coalizão de legendas opositoras, condenaram Chávez.
Mariano Alvarado, da respeitada ONG de direitos humanos Provea, acusou a Justiça de ordenar o "sequestro"
de Brito e privá-lo da atenção
médica de sua preferência.
Em janeiro, a Justiça, a pedido do Ministério Público,
ordenou que o produtor fosse
internado para "preservar
sua vida". Angela, filha de
Brito, disse, em junho, que
seu pai exigia ser tratado por
médicos de confiança.
Moradores do bairro de Sebucán, na zona nobre de Caracas, atenderam à convocação de um panelaço por Brito. A convocatória foi nacional, pelo Twitter, e não havia
informação confiável sobre a
adesão.
(FLÁVIA MARREIRO)
Texto Anterior: Análise: Governo Lula aposta em avanços no diálogo com a Colômbia Próximo Texto: Frases Índice
|