São Paulo, Sexta-feira, 01 de Outubro de 1999
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DESASTRE

Vinte e sete pessoas ficam feridas por exposição a radiação de uma usina de reprocessamento de urânio

Japão tem seu pior acidente nuclear

das agências internacionais

O Japão sofreu ontem o seu pior acidente nuclear, com 27 pessoas internadas por exposição a radiação. O país tentava, nas primeiras horas de hoje, conter uma possível reação nuclear no local.
O acidente ocorreu às 10h35 (22h35 de quarta-feira em Brasília) em uma usina de reprocessamento de material nuclear em Tokaimura, cerca de 140 km ao norte de Tóquio.
Segundo a mídia japonesa, ele teria sido causado por um funcionário que usou 16 kg de urânio em um contêiner, quando o normal seria usar 2,3 kg.
Segundo funcionários do governo, isso teria causado uma situação de "criticalidade", termo que designa o ponto em que uma reação nuclear se torna auto-sustentável. É o que ocorre dentro de um reator nuclear.
A instalação onde ocorreu o acidente de ontem não estava preparada para a situação de criticalidade. Ela provocou um nível muito elevado de radiação, 15 mil vezes acima do normal em um raio de 2 km do local do acidente. Mas um membro do governo disse mais tarde que os níveis de radiação estavam caindo bastante.
Cerca de 20 horas após o acidente, a água para refrigeração do sistema estava sendo drenada, um procedimento que, segundo os especialistas, ajuda a limitar a reação nuclear.
Dois especialistas entraram brevemente no local do acidente ontem para tirar fotos do interior.
Entre os afetados pelo vazamento de radiação estavam moradores da região, trabalhadores da usina e bombeiros. Entre os 27 feridos estavam 14 trabalhadores da usina, cinco moradores locais e duas pessoas que estavam em um campo de golfe nas imediações. Dois dos feridos estariam em estado grave, segundo a imprensa japonesa.
O governo retirou 60 pessoas de um raio de 350 metros em volta do local do acidente e pediu que cerca de 300 mil pessoas que vivem em um raio de 10 km do local ficassem em casa ontem.
O governo disse ainda que as pessoas não devem colher hortaliças da região e que devem lavar capas, guarda-chuvas e outros materiais que tivessem sido molhados pela chuva que atingiu a área ontem. A água poderia estar contaminada. A chuva também teria prejudicado a dissipação da radiatividade.

Reações anormais
"Há uma forte probabilidade de que reações anormais estejam ainda ocorrendo dentro da instalação", disse ontem Hiromu Nonaka, chefe de gabinete do premiê Keizo Obuchi.
"Acreditamos que é uma situação grave, e há preocupação com a radiação nas áreas adjacentes", disse Nonaka.
Tokaimura tem uma população de cerca de 34 mil pessoas e abriga 15 instalações relacionadas com a energia nuclear.
A cidade foi palco também de um outro acidente nuclear, em 1997, quando 37 trabalhadores foram contaminados por radiação.

Ajuda externa
Os EUA e a Rússia ofereceram ajuda ao Japão, mas o governo disse que ainda avaliaria se ela seria necessária. "Estamos todos muito preocupados. Nossos pensamentos e orações estão com o povo japonês", disse o presidente dos EUA, Bill Clinton.
Especialistas afirmaram que, pelas primeiras informações, o acidente de ontem ficaria restrito a sua região, diferente do pior acidente nuclear da história, o de Tchernobil, em 1986, na Ucrânia, que atingiu vários países da Europa.
"Eu não acho que vá ser um problema de longo prazo. Parece ser um desastre local, não global", disse David Lochbaum, especialista em segurança nuclear dos EUA.
O instituto de segurança nuclear da França disse que esse seria o 60º acidente de criticalidade no mundo desde 1945, a maioria deles nos EUA (33) e na extinta União Soviética (19).
"Geralmente, acidentes de criticalidade têm mais consequências significativas no lugar em que ocorrem do que no meio ambiente", informou um comunicado do instituto francês.
A companhia que controla a usina, a JCO, é parte do grupo Sumitomo, que ontem se desculpou publicamente pelo ocorrido.


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