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DESASTRE
Vinte e sete pessoas ficam feridas por exposição a radiação de uma usina de reprocessamento de urânio
Japão tem seu pior acidente nuclear
das agências internacionais
O Japão sofreu ontem o seu pior
acidente nuclear, com 27 pessoas
internadas por exposição a radiação. O país tentava, nas primeiras
horas de hoje, conter uma possível reação nuclear no local.
O acidente ocorreu às 10h35
(22h35 de quarta-feira em Brasília) em uma usina de reprocessamento de material nuclear em Tokaimura, cerca de 140 km ao norte
de Tóquio.
Segundo a mídia japonesa, ele
teria sido causado por um funcionário que usou 16 kg de urânio em
um contêiner, quando o normal
seria usar 2,3 kg.
Segundo funcionários do governo, isso teria causado uma situação de "criticalidade", termo
que designa o ponto em que uma
reação nuclear se torna auto-sustentável. É o que ocorre dentro de
um reator nuclear.
A instalação onde ocorreu o acidente de ontem não estava preparada para a situação de criticalidade. Ela provocou um nível muito
elevado de radiação, 15 mil vezes
acima do normal em um raio de 2
km do local do acidente. Mas um
membro do governo disse mais
tarde que os níveis de radiação estavam caindo bastante.
Cerca de 20 horas após o acidente, a água para refrigeração do
sistema estava sendo drenada,
um procedimento que, segundo
os especialistas, ajuda a limitar a
reação nuclear.
Dois especialistas entraram brevemente no local do acidente ontem para tirar fotos do interior.
Entre os afetados pelo vazamento de radiação estavam moradores da região, trabalhadores
da usina e bombeiros. Entre os 27
feridos estavam 14 trabalhadores
da usina, cinco moradores locais e
duas pessoas que estavam em um
campo de golfe nas imediações.
Dois dos feridos estariam em estado grave, segundo a imprensa
japonesa.
O governo retirou 60 pessoas de
um raio de 350 metros em volta
do local do acidente e pediu que
cerca de 300 mil pessoas que vivem em um raio de 10 km do local
ficassem em casa ontem.
O governo disse ainda que as
pessoas não devem colher hortaliças da região e que devem lavar
capas, guarda-chuvas e outros
materiais que tivessem sido molhados pela chuva que atingiu a
área ontem. A água poderia estar
contaminada. A chuva também
teria prejudicado a dissipação da
radiatividade.
Reações anormais
"Há uma forte probabilidade de
que reações anormais estejam
ainda ocorrendo dentro da instalação", disse ontem Hiromu Nonaka, chefe de gabinete do premiê
Keizo Obuchi.
"Acreditamos que é uma situação grave, e há preocupação com
a radiação nas áreas adjacentes",
disse Nonaka.
Tokaimura tem uma população
de cerca de 34 mil pessoas e abriga
15 instalações relacionadas com a
energia nuclear.
A cidade foi palco também de
um outro acidente nuclear, em
1997, quando 37 trabalhadores foram contaminados por radiação.
Ajuda externa
Os EUA e a Rússia ofereceram
ajuda ao Japão, mas o governo
disse que ainda avaliaria se ela seria necessária. "Estamos todos
muito preocupados. Nossos pensamentos e orações estão com o
povo japonês", disse o presidente
dos EUA, Bill Clinton.
Especialistas afirmaram que,
pelas primeiras informações, o
acidente de ontem ficaria restrito
a sua região, diferente do pior acidente nuclear da história, o de
Tchernobil, em 1986, na Ucrânia,
que atingiu vários países da Europa.
"Eu não acho que vá ser um
problema de longo prazo. Parece
ser um desastre local, não global",
disse David Lochbaum, especialista em segurança nuclear dos
EUA.
O instituto de segurança nuclear da França disse que esse seria o 60º acidente de criticalidade
no mundo desde 1945, a maioria
deles nos EUA (33) e na extinta
União Soviética (19).
"Geralmente, acidentes de criticalidade têm mais consequências
significativas no lugar em que
ocorrem do que no meio ambiente", informou um comunicado do
instituto francês.
A companhia que controla a
usina, a JCO, é parte do grupo Sumitomo, que ontem se desculpou
publicamente pelo ocorrido.
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