São Paulo, segunda-feira, 01 de outubro de 2007

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Enviado da ONU encontra oposicionista em Mianmar

Militares impedem manifestantes de irem às ruas; reunião com chefe de junta é protelada

Protestos cujo estopim foi aumento de 500% do preço dos combustíveis já duram duas semanas; segundo ONG, já há 1200 detidos

DA REDAÇÃO

O representante da ONU Ibrahim Gambari encontrou-se ontem com a principal líder da oposição em Mianmar, Aung San Suu Kyi, que está detida, e com membros do governo militar para discutir meios de acabar com a atual crise. Protestos contra o regime do país já duram duas semanas e deixaram ao menos dez mortos.
Entretanto nada foi dito sobre quando Gambari deve se reunir com o general Than Shwe, que lidera a junta militar baseada em Nay Pyi Taw, cidade construída pelo regime e tornada capital no ano passado. Um documento divulgado pela ONU, porém, afirma que o encontro deve ocorrer antes que a missão do diplomata termine.
Já a reunião com Suu Kyi, segundo diplomatas, levou mais de uma hora e ocorreu na chamada de casa de hóspedes do governo em Yangun, onde ela está confinada. Sem dispor de telefone, ela precisa de permissão oficial para receber visitas.
Antes do encontro com Suu Kyi, Gambari já havia se reunido com o premiê Thein Sein e com os ministros da Cultura e da Informação. Não se sabe se as conversas levaram a algum progresso para terminar com os maiores protestos pró-democracia desde 1988, quando a repressão às manifestações deixou cerca de 3.000 mortos.
Segundo relatos divulgados ontem, centenas de monges budistas foram presos, o centro de Yangun foi interditado e cerca de 20 mil soldados se posicionaram pelas ruas, segundo um diplomata asiático.

Repressão
Nas últimas semanas, os protestos chegaram a reunir cerca de 100 mil pessoas. Ontem, porém, não havia multidões no centro urbano de Yangun, a maior cidade do país, onde forças militares interditaram dois pagodes e mantiveram afastados os monges que os lideram.
Soldados e policiais revistam pessoas e sacolas em busca de câmeras, e a internet voltou a ficar fora do ar. A Comissões de Direitos Humanos Asiática, baseada em Hong Kong, afirmou que ao menos 700 monges e 500 outras pessoas foram presas em todo o país.
Os protestos começaram com pequenas marchas contra o aumento do preço dos combustíveis, em meados de agosto, e foram intensificados quando soldados dispararam contra monges que se manifestavam, o que levou mais gente às ruas em apoio aos religiosos.
Ontem, o papa Bento 16 pediu uma solução pacífica para o que chamou de "extremamente sérios" eventos em Mianmar e expressou solidariedade.

Relatos
O site da rede britânica BBC apresenta relatos sobre a situação local feitos por pessoas que estão em Mianmar. Segundo a rede, os depoimentos foram enviados por e-mail ou colhidos pelo serviço de notícias da região.
"A junta militar fez uma assembléia em Myitkyina. Eles disseram que todos, de todas as casas, tinham de participar da assembléia. Foi por isso que todos tiveram de ir lá, senão, ninguém teria ido. Já mataram o líder dos monges em Myitkyina na última terça-feira à noite", relatava Mi, sobre a assembléia realizada ontem na cidade.
"Deixei Mianmar hoje. Passei o último mês viajando pelo país. (...)Eu estava relutante em partir, muitos me disseram que queriam mais estrangeiros lá para apoiá-los. (...)Nos últimos dias, dei flores aos soldados, dizendo que não atirem. (...) As pessoas estão desesperadas, querem que forças internacionais vão para lá", afirma Karen, que vive na Tailândia.


Com agências internacionais

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