São Paulo, segunda-feira, 01 de outubro de 2007

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Índia já apoiou tanto militares quanto dissidentes birmaneses

DO "FINANCIAL TIMES"

A única democracia entre os países -incluindo a China comunista e a armada Tailândia- que têm influência significativa sobre a junta militar de Mianmar, a Índia se contorce no quente assento diplomático.
Com os EUA reivindicando sanções mais duras, Nova Déli enfrenta uma pressão sem precedentes para mostrar liderança regional em apoio ao movimento pela democracia. A Índia apoiou o movimento pró-democrático, fornecendo até assistência financeira a organizações empenhadas em uma luta armada contra a junta militar de Mianmar.
O país tem fortes ligações com a líder oposicionista Aung San Suu Kyi. Foi lá onde ela estudou e foi lá onde sua mãe foi embaixatriz -seu pai, general Aung San, herói da independência, foi assassinado. Em meados da década de 90, porém, a Índia passou a procurar ligações mais fortes com Mianmar na tentativa de conter a crescente influência chinesa e garantir o acesso às reservas de gás natural birmanesas.
A mudança refletiu a preocupação de Nova Déli de que Mianmar se tornasse refúgio de rebeldes do já tumultuado norte oriental. Enquanto continua mostrando simpatia por dissidentes birmaneses, a Índia cortou apoio formal ao movimento de oposição. Mas, ao mesmo tempo, forneceu ajuda financeira e equipamentos militares.
No ano passado, Índia vendeu a Mianmar duas aeronaves de monitoramento marítimo BN-2 Islander que haviam sido compradas do Reino Unido na década de 80, apesar das objeções britânicas de que, com a venda, a Índia estaria municiando um país sob embargo de armas da União Européia.
O chefe da Força Aérea indiana, S.P. Tyagi, ofereceu uma ajuda de milhões de dólares para os militares birmaneses quando, em novembro, durante visita ao país em que se reuniu com líderes do governo militar, o Conselho de Paz e Desenvolvimento do Estado.
Suhas Chakma, diretor do Centro Asiático de Direitos Humanos, diz que "nunca é tarde demais para acordar. Se a Índia pode falar sobre liberdade individual e justiça no julgamento dos ex-premiês de Bangladesh, Sheikh Hasina e Begum Khaleda Zia, que foram acusados de corrupção, não há razão para que a Índia não condene a morte de monges e de outros manifestantes pacíficos". Oficiais indianos, no entanto, rebatem as críticas: "Não vamos nos incomodar com as críticas sobre nossa relação com Mianmar, já que o Ocidente é o maior apoiador de governos militares na nossa região", afirma um deles. "Não somos a única democracia que trabalha com generais."

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