São Paulo, quinta-feira, 01 de outubro de 2009

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EUA estão por trás de movimentação pró-diálogo

FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

As ameaças americanas de retaliar comercialmente Honduras e desconhecer a legitimidade das eleições de novembro são um dos fatores por trás da nova disposição de negociação para pôr fim à crise política demonstrada por alguns empresários e políticos do país.
Antes apoiadores incontestes do governo Roberto Micheletti, eles agora fazem parte do grupo que, nos bastidores, pede flexibilidade ao governante.
Segundo a Folha apurou, em reunião no domingo em sua casa em Tegucigalpa, o embaixador dos EUA, Hugo Llorens, afirmou que Washington estuda sancionar as importações hondurenhas -o mercado americano é o principal destino- em dez dias se a crise no país não se encaminhar para uma solução que envolva a volta de Manuel Zelaya ao poder. Disse ainda que o estado de sítio impede a eleição.
Presente na reunião com Llorens, o candidato a presidente Elvin Santos (Partido Liberal, o mesmo de Zelaya) disse que seria "falta de cortesia" comentá-la. Ainda assim, questionado se os EUA estavam pressionando os candidatos, ele demonstrou desconforto: "Querer pedir aos candidatos que apoiem uma saída quando também estão limitando seu poder porque põem em dúvida o processo [eleitoral]... "
Santos se opõe à restituição do deposto assim como à anistia -atitude mais dura do que a do favorito à Presidência, Porfirio Lobo Sosa (Partido Nacional). "Colocaram o Zelaya no país de uma maneira contraproducente assim como, no passado, ele não teve direito a um processo. Em vez disso, ele ficou sem defesa e foi expatriado. O que temos de fazer é definir em termos legais a resolução do problema", disse Santos.
O empresário Adolfo Facussé, que se reuniu com Llorens, atacou a técnica americana de "ameaçar para gerar consenso". Ele, porém, propôs anteontem uma volta hipercondicionada de Zelaya ao poder.
"Recebi telefonemas do mundo inteiro para falar da proposta. Estou otimista." Facussé é ex-sócio majoritário de uma fábrica têxtil -fechada, segundo ele, por causa da crise econômica americana.
César Ham, deputado pela esquerdista Unificação Democrática e fiel a Zelaya, avalia assim a atual situação: "Há duas opções: ou é uma fissura no bloco golpista, pelos diferentes interesses, ou é uma estratégia para dilatar a situação".
Para um integrante do governo Micheletti, a situação interna tem peso na pressão sobre o regime. Diz que a situação "amadureceu" desde que Zelaya voltou à Honduras.
Quem temia que a volta provocasse o caos e o retorno de Zelaya ao poder, diz ele, está mais tranquilo e com disposição de negociar uma solução intermediária, confiante que o deposto não terá força para promover uma Constituinte. Segundo ele, os empresários são fator importante, mas o desejo do sistema político de se preservar e manter as eleições é que pode mover a negociação.


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