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ANÁLISE
Crise com a aliança ocidental vem em momento propício para paquistaneses
IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ataque ocidental a soldados paquistaneses, a despeito da tragédia humana,
caiu como uma luva para o
governo de Islamabad.
Anteontem mesmo o diretor da CIA pressionava pessoalmente o chefe do serviço
secreto do Paquistão a renovar seus ataques contra os insurgentes islâmicos.
Com a enchente bíblica
que devastou o país nos últimos meses, o Exército paquistanês teve de concentrar
esforços em operações humanitárias, abandonando
ofensivas nas áreas tribais, a
zona sem lei junto à fronteira
afegã na qual se escondem
várias lideranças terroristas.
Agora os EUA insistem na
volta das operações. Washington desconfia do jogo
duplo de Islamabad, que fomentou por anos grupos extremistas para servir de linha
auxiliar no seu conflito com a
arquirrival Índia.
Por outro lado, o Paquistão reclama com razão que
seu esforço de guerra não é
reconhecido. Desde 2001,
perdeu 3.000 soldados e
8.000 civis no conflito; os
ocidentais não perderam
2.000 militares.
E num país em que o Exército é a principal instituição,
a presença militar estrangeira é tabu. Mesmo a ação de
aviões-robôs americanos nas
áreas tribais é dissimulada
oficialmente, e a morte de
soldados paquistaneses nas
mãos de ocidentais constitui
um passivo político muito
custoso.
Como 80% dos suprimentos não-bélicos das forças
ocidentais no Afeganistão
são levados todos os dias a
partir da cidade paquistanesa de Torkham, o fechamento da rota é o recado mais vigoroso que Islamabad pode
dar agora.
De todo modo, o Paquistão
também não pode prescindir
do Ocidente. Só os EUA colocaram mais de US$ 15 bilhões
no país desde o 11 de Setembro. Se politicamente a crise
é útil para os paquistaneses,
não é de se esperar que ela
dure indefinidamente.
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