São Paulo, sábado, 01 de outubro de 2011

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Cresce no Egito tensão entre civis e militares

Ativistas voltam à praça Tahrir para reivindicar o fim das leis de exceção

Partidos já ameaçam com boicote a eleições; "Mubarak caiu, mas regime está intacto", afirma diretor de ONG


CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

Ativistas pró-democracia voltaram à praça Tahrir, no Cairo, e às ruas de outras cidades do Egito para pressionar pela revogação das leis de exceção do antigo regime.
A manifestação sinaliza o aumento da tensão entre as forças políticas civis e o Conselho Supremo das Forças Armadas, a junta provisória no comando do país desde a queda do ditador Hosni Mubarak, em fevereiro.
Além do protesto convocado por sindicatos independentes e grupos liberais e de esquerda, duas frentes partidárias ameaçam boicotar a eleição parlamentar, com início previsto para 28 de novembro, se as regras anunciadas pela junta não mudarem.
A Coalizão Democrática, liderada pela Irmandade Muçulmana, e o Bloco Egípcio, secular, exigem que todos os 498 deputados sejam escolhidos por sistema proporcional e voto em listas partidárias.
A junta reservou um terço das cadeiras para candidatos independentes -suspeita-se que para eleger aliados.
"Derrubamos Mubarak, mas o regime continua intacto", afirma Hossam Bahgat, diretor da Iniciativa Egípcia pelos Direitos Pessoais, que esteve no Rio para reunião internacional do Observatório de Sexualidade e Política.
Bahgat se refere à manutenção da lei de emergência, que permite censura e prisões sem mandado; a processos contra civis em tribunais militares; à não dissolução do antigo serviço de inteligência; e à falta de acesso a arquivos da ditadura.
Para ele, o maior risco hoje é a volta da apatia, já que parte dos egípcios se cansou dos protestos e quer "normalidade". A Irmandade não participou do ato de ontem, que reuniu no Cairo estimadas 50 mil pessoas -longe do 1 milhão pretendido.

ÁRBITROS
O Parlamento pós-Mubarak será eleito em duas etapas -a votação para a Shura (Senado) é em janeiro- e nomeará uma comissão para redigir a nova Carta do país.
Teme-se que os militares pretendam manter o papel de árbitros por meio de um conselho de segurança ou uma disposição constitucional que lhes dê a missão de "zelar pela natureza democrática e civil (secular) do Estado".
Na Tahrir, os ativistas também pediram alta do salário mínimo e direito pleno de greve, além da soltura dos presos após a invasão da Embaixada de Israel, em setembro.
Uma faixa dizia: "Não seremos mais governados pelos EUA ou pela União Europeia, apesar de sinceramente amarmos seus povos".
Bahgat afirma que houve retrocesso na política externa independente anunciada pelo ex-chanceler Nabil Arabi, que ficou no cargo de março a junho e hoje é secretário-geral da Liga Árabe.
Arabi foi instado a trocar de cargo pela junta, que teria sido pressionada pela Arábia Saudita e outras monarquias árabes conservadoras. Ele prometera pôr fim ao bloqueio à faixa de Gaza e reatar relações com o Irã.


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