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Bush favorece Brasil, dizem economistas
Quatro de cinco analistas consultados afirmam que republicano é melhor porque beneficiaria o Brasil em questões de comércio externo
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A reeleição de George W. Bush
poderia ter efeitos mais positivos
para a economia da América Latina e para a brasileira, mais especificamente, do que a vitória de
John Kerry. A avaliação predomina entre analistas econômicos baseados em Nova York, Londres e
no Brasil ouvidos pela Folha.
A questão central do debate em
relação ao Brasil se divide em dois
pontos: qual o impacto mais importante para a economia do país,
uma política fiscal americana
mais austera (supostamente atribuída a Kerry) ou mais liberalismo (ou menos protecionismo)
nas relações comerciais (posição
mais ligada a Bush)?
Dos cinco especialistas consultados, quatro disseram que o comércio exterior é mais relevante.
Portanto, o republicano Bush seria preferível, mesmo que as diferenças sobre seu adversário não
venham a ser tão significativas.
"Bush, para o Brasil, será melhor. A razão básica é que a Alca
[Área de Livre Comércio das
Américas] seria melhor e mais rápida. A relação de Bush com Lula
é boa, houve empatia entre os
dois", disse Sérgio Werlang, diretor-executivo do Itaú e ex-diretor
do Banco Central.
Para John Welch, do Lehman
Brothers em Nova York, as relações comerciais com América Latina e Brasil tendem a ser mais favoráveis com Bush. "Kerry tem
discurso muito protecionista, e o
vice dele [John Edwards], ainda
mais. Porém, se você olha a carreira de votação do Kerry [como
senador], é muito liberal. No fim
das contas, os dois são liberalizantes. Mas [as perspectivas para a
região] são marginalmente negativas se Kerry ganhar", disse.
Uma política fiscal nos EUA
mais ou menos austera tem impacto nos juros internacionais. O
déficit fiscal (gastos acima da arrecadação) dos EUA está em torno de US$ 440 bilhões.
Se os juros subirem em razão da
expansão do déficit, esse efeito seria duplamente negativo para
economias emergentes endividadas como o Brasil. Primeiro, porque o custo do crédito aumentaria
no mercado internacional. Além
disso, juros mais altos nos EUA
costumam provocar migração de
recursos das economias secundárias para lá. A saída de recursos
tende a aumentar o valor do dólar
em reais. A moeda americana
mais cara pode significar inflação
mais alta e, conseqüentemente,
juros mais elevados também aqui.
"Para o Brasil, Kerry é mais favorável por uma razão muito simples: tende a favorecer o mercado
na política fiscal. Ficou provado
até agora que Bush foi extremamente expansionista na política
fiscal. Mantido, esse cenário levará ao aumento dos juros de longo
prazo nos EUA, o que retira fluxo
de capitais dos mercados emergentes de forma geral", disse Ricardo Amorim, economista do
WestLB em Nova York.
Espera-se que Kerry, assim como o foi Bill Clinton (1993-2001),
seja mais severo em relação aos
gastos públicos do que tem sido
Bush. Um dos nomes mais cotados para assumir a Secretaria do
Tesouro num governo Kerry é o
do ex-secretário do Tesouro Robert Rubin, que ocupou o cargo
na gestão Clinton de 1995 a 1999.
Michael Hood, economista do
Barclays Capital em Nova York
responsável por América Latina,
diz não estar convicto de que
Bush será menos protecionista no
comércio exterior do que Kerry.
"Em campanha, os republicanos
vão provavelmente falar de comércio livre, e os democratas, de
barreiras comerciais. Mas sob
Bush tivemos vários exemplos de
protecionismo, como no aço, no
algodão e no açúcar", disse.
Mas concorda que, para a América Latina, a questão comercial é
mais importante no longo prazo.
Raphael Kassin, do ABN Amro
Asset Management em Londres,
não acredita que haverá grandes
diferenças de um candidato para
o outro no comércio. "Os dois são
mais protecionistas do que a gente gostaria que fossem. Teriam
políticas muito parecidas nesse
aspecto", disse, apesar de reconhecer que um governo Kerry
tenderia mais ao protecionismo.
Para Werlang, o comércio exterior é mais importante hoje para o
Brasil do que a política fiscal americana. "Não acho que seja tão relevante para o Brasil [a questão
dos juros nos EUA], porque o país
hoje é bem menos vulnerável externamente. Mais importante para a gente é aumentar a base de
comércio. Se dobrarmos nossa
base de comércio, vai ser muito
fácil chegarmos a grau de investimento [classificação positiva de
risco de crédito]", disse.
De certa forma, Kassin e Hood
concordam com Werlang. Os
dois lembram que os juros nos
EUA estão baixos segundo padrões históricos. De acordo com
Kassin, dados recentes indicam
que a economia americana não
está tão aquecida quanto parece.
Segundo ele, circula no mercado a avaliação de que o Fed (banco central americano) já planeja
cortar os juros em 2005.
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