São Paulo, segunda-feira, 01 de novembro de 2004

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Bush favorece Brasil, dizem economistas

Quatro de cinco analistas consultados afirmam que republicano é melhor porque beneficiaria o Brasil em questões de comércio externo

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A reeleição de George W. Bush poderia ter efeitos mais positivos para a economia da América Latina e para a brasileira, mais especificamente, do que a vitória de John Kerry. A avaliação predomina entre analistas econômicos baseados em Nova York, Londres e no Brasil ouvidos pela Folha.
A questão central do debate em relação ao Brasil se divide em dois pontos: qual o impacto mais importante para a economia do país, uma política fiscal americana mais austera (supostamente atribuída a Kerry) ou mais liberalismo (ou menos protecionismo) nas relações comerciais (posição mais ligada a Bush)?
Dos cinco especialistas consultados, quatro disseram que o comércio exterior é mais relevante. Portanto, o republicano Bush seria preferível, mesmo que as diferenças sobre seu adversário não venham a ser tão significativas.
"Bush, para o Brasil, será melhor. A razão básica é que a Alca [Área de Livre Comércio das Américas] seria melhor e mais rápida. A relação de Bush com Lula é boa, houve empatia entre os dois", disse Sérgio Werlang, diretor-executivo do Itaú e ex-diretor do Banco Central.
Para John Welch, do Lehman Brothers em Nova York, as relações comerciais com América Latina e Brasil tendem a ser mais favoráveis com Bush. "Kerry tem discurso muito protecionista, e o vice dele [John Edwards], ainda mais. Porém, se você olha a carreira de votação do Kerry [como senador], é muito liberal. No fim das contas, os dois são liberalizantes. Mas [as perspectivas para a região] são marginalmente negativas se Kerry ganhar", disse.
Uma política fiscal nos EUA mais ou menos austera tem impacto nos juros internacionais. O déficit fiscal (gastos acima da arrecadação) dos EUA está em torno de US$ 440 bilhões.
Se os juros subirem em razão da expansão do déficit, esse efeito seria duplamente negativo para economias emergentes endividadas como o Brasil. Primeiro, porque o custo do crédito aumentaria no mercado internacional. Além disso, juros mais altos nos EUA costumam provocar migração de recursos das economias secundárias para lá. A saída de recursos tende a aumentar o valor do dólar em reais. A moeda americana mais cara pode significar inflação mais alta e, conseqüentemente, juros mais elevados também aqui.
"Para o Brasil, Kerry é mais favorável por uma razão muito simples: tende a favorecer o mercado na política fiscal. Ficou provado até agora que Bush foi extremamente expansionista na política fiscal. Mantido, esse cenário levará ao aumento dos juros de longo prazo nos EUA, o que retira fluxo de capitais dos mercados emergentes de forma geral", disse Ricardo Amorim, economista do WestLB em Nova York.
Espera-se que Kerry, assim como o foi Bill Clinton (1993-2001), seja mais severo em relação aos gastos públicos do que tem sido Bush. Um dos nomes mais cotados para assumir a Secretaria do Tesouro num governo Kerry é o do ex-secretário do Tesouro Robert Rubin, que ocupou o cargo na gestão Clinton de 1995 a 1999.
Michael Hood, economista do Barclays Capital em Nova York responsável por América Latina, diz não estar convicto de que Bush será menos protecionista no comércio exterior do que Kerry. "Em campanha, os republicanos vão provavelmente falar de comércio livre, e os democratas, de barreiras comerciais. Mas sob Bush tivemos vários exemplos de protecionismo, como no aço, no algodão e no açúcar", disse.
Mas concorda que, para a América Latina, a questão comercial é mais importante no longo prazo.
Raphael Kassin, do ABN Amro Asset Management em Londres, não acredita que haverá grandes diferenças de um candidato para o outro no comércio. "Os dois são mais protecionistas do que a gente gostaria que fossem. Teriam políticas muito parecidas nesse aspecto", disse, apesar de reconhecer que um governo Kerry tenderia mais ao protecionismo.
Para Werlang, o comércio exterior é mais importante hoje para o Brasil do que a política fiscal americana. "Não acho que seja tão relevante para o Brasil [a questão dos juros nos EUA], porque o país hoje é bem menos vulnerável externamente. Mais importante para a gente é aumentar a base de comércio. Se dobrarmos nossa base de comércio, vai ser muito fácil chegarmos a grau de investimento [classificação positiva de risco de crédito]", disse.
De certa forma, Kassin e Hood concordam com Werlang. Os dois lembram que os juros nos EUA estão baixos segundo padrões históricos. De acordo com Kassin, dados recentes indicam que a economia americana não está tão aquecida quanto parece.
Segundo ele, circula no mercado a avaliação de que o Fed (banco central americano) já planeja cortar os juros em 2005.


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