São Paulo, quinta-feira, 01 de novembro de 2007

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Corte anula condenação de Oviedo

Decisão da Justiça paraguaia livra ex-general de pena de prisão e permite que ele dispute a Presidência

Para a oposição, sentença é fruto de manobra política do atual presidente para tentar esvaziar a candidatura de ex-bispo esquerdista

FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO

A Corte Suprema do Paraguai anulou ontem a condenação do ex-general Lino Oviedo por tentativa de golpe em 1996, abrindo caminho para sua candidatura à Presidência e dinamitando o esforço da oposição paraguaia de se unir contra o Partido Colorado, que governa o país há 60 anos.
A decisão, por seis votos contra três, foi tomada anteontem. Já passava da meia-noite quando Oviedo se dirigiu à Justiça Eleitoral, porque também anteontem terminou o prazo final para inscrição de cidadãos que querem participar das internas nos partidos políticos. "Meu partido vai trabalhar para chegar ao palácio do governo em 2008", disse Oviedo.
Nas ruas de Assunção ontem, apoiadores do ex-general comemoravam: "Se siente, se siente, Oviedo presidente".
A sincronia entre a anulação e o calendário eleitoral paraguaio -é vetada candidatura de condenados pela Justiça- fez ressurgirem ontem acusações de que a sentença da Suprema Corte é resultado de um pacto entre Oviedo e o atual presidente do país, Nicanor Duarte (Partido Colorado).
Os rumores do pacto, que ambos negam, já tinham surgido havia um mês com a libertação condicional de Oviedo.
Ao supostamente facilitar a volta do ex-general à política, a intenção de Duarte seria enfraquecer a coalização da oposição, que lançou o ex-bispo Fernando Lugo para presidente. A eleição é em maio de 2008.
A Unace (União Nacional dos Cidadãos Éticos), dissidência colorada fundada por Oviedo, ensaiava apoiar o esquerdista caso o ex-general não pudesse concorrer.
"Não tenho informação que comprove [o pacto], mas todos os indícios sinalizam. Tudo ocorreu tão rápido que duvido que seja força do acaso", afirmou à Folha José Nicolás Morinigo, cientista político e senador pelo partido opositor País Solidário (centro-esquerda).
"Ao governo não interessava um único candidato que polarizasse a discussão com os colorados. Abre-se uma crise na oposição, cuja tentativa de se unir era a mais ampla desde a redemocratização", disse Morinigo, apoiador de Lugo.
As acusações também partiram de opositores de Duarte no Partido Colorado, que dizem que a anulação é " fruto do desespero eleitoral" do governo.
Para Morinigo, se Oviedo -que é popular entre os mais pobres- for candidato, disputará parte do eleitorado com Lugo. Também não estaria descartada uma união futura de Oviedo com os colorados.
Em pesquisa do mês passado, o ex-general aparecia em primeiro nas intenções de voto, com 31,5%, seguido por Lugo, com 27,5%. Em julho, o esquerdista liderava com 32,8%.

Novela política e jurídica
A sentença anulada ontem condenara Oviedo a dez anos de prisão em 1998, por tentativa de golpe de Estado em 1996 -quando o então general resistiu a deixar o comando do Exército, em crise mediada pela OEA (Organização dos Estados Americanos). A pena foi ditada por um tribunal militar e confirmada pela Corte Suprema. À época, ele era o favorito à Presidência. Chegou a ficar preso e passou temporadas no Brasil até voltar, em 2004, e ser preso.
Anteontem a corte acatou depoimentos de ex-militares que negaram que o ex-general quisesse tomar o poder.


Com agências internacionais

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