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Corte anula condenação de Oviedo
Decisão da Justiça paraguaia livra ex-general de pena de prisão e permite que ele dispute a Presidência
Para a oposição, sentença é fruto de manobra política do atual presidente para tentar esvaziar a candidatura de ex-bispo esquerdista
FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO
A Corte Suprema do Paraguai anulou ontem a condenação do ex-general Lino Oviedo
por tentativa de golpe em 1996,
abrindo caminho para sua candidatura à Presidência e dinamitando o esforço da oposição
paraguaia de se unir contra o
Partido Colorado, que governa
o país há 60 anos.
A decisão, por seis votos contra três, foi tomada anteontem.
Já passava da meia-noite quando Oviedo se dirigiu à Justiça
Eleitoral, porque também anteontem terminou o prazo final
para inscrição de cidadãos que
querem participar das internas
nos partidos políticos. "Meu
partido vai trabalhar para chegar ao palácio do governo em
2008", disse Oviedo.
Nas ruas de Assunção ontem,
apoiadores do ex-general comemoravam: "Se siente, se
siente, Oviedo presidente".
A sincronia entre a anulação
e o calendário eleitoral paraguaio -é vetada candidatura de
condenados pela Justiça- fez
ressurgirem ontem acusações
de que a sentença da Suprema
Corte é resultado de um pacto
entre Oviedo e o atual presidente do país, Nicanor Duarte
(Partido Colorado).
Os rumores do pacto, que
ambos negam, já tinham surgido havia um mês com a libertação condicional de Oviedo.
Ao supostamente facilitar a
volta do ex-general à política, a
intenção de Duarte seria enfraquecer a coalização da oposição, que lançou o ex-bispo Fernando Lugo para presidente. A
eleição é em maio de 2008.
A Unace (União Nacional dos
Cidadãos Éticos), dissidência
colorada fundada por Oviedo,
ensaiava apoiar o esquerdista
caso o ex-general não pudesse
concorrer.
"Não tenho informação que
comprove [o pacto], mas todos
os indícios sinalizam. Tudo
ocorreu tão rápido que duvido
que seja força do acaso", afirmou à Folha José Nicolás Morinigo, cientista político e senador pelo partido opositor País
Solidário (centro-esquerda).
"Ao governo não interessava
um único candidato que polarizasse a discussão com os colorados. Abre-se uma crise na
oposição, cuja tentativa de se
unir era a mais ampla desde a
redemocratização", disse Morinigo, apoiador de Lugo.
As acusações também partiram de opositores de Duarte no
Partido Colorado, que dizem
que a anulação é " fruto do desespero eleitoral" do governo.
Para Morinigo, se Oviedo
-que é popular entre os mais
pobres- for candidato, disputará parte do eleitorado com
Lugo. Também não estaria descartada uma união futura de
Oviedo com os colorados.
Em pesquisa do mês passado, o ex-general aparecia em
primeiro nas intenções de voto,
com 31,5%, seguido por Lugo,
com 27,5%. Em julho, o esquerdista liderava com 32,8%.
Novela política e jurídica
A sentença anulada ontem
condenara Oviedo a dez anos
de prisão em 1998, por tentativa de golpe de Estado em 1996
-quando o então general resistiu a deixar o comando do Exército, em crise mediada pela
OEA (Organização dos Estados
Americanos). A pena foi ditada
por um tribunal militar e confirmada pela Corte Suprema. À
época, ele era o favorito à Presidência. Chegou a ficar preso e
passou temporadas no Brasil
até voltar, em 2004, e ser preso.
Anteontem a corte acatou
depoimentos de ex-militares
que negaram que o ex-general
quisesse tomar o poder.
Com agências internacionais
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