São Paulo, segunda-feira, 01 de novembro de 2010

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Verdes alcançam Série A da política global

Bom desempenho da senadora Marina Silva no Brasil é repetido por PVs em países de diversos continentes

Analistas afirmam que não há razão única para o sucesso e que onda verde não tem a ver só com ambientalismo

CLAUDIO ANGELO
DE BRASÍLIA

O argentino Juan Behrend, ex-secretário do Partido Verde Europeu, resume da seguinte forma o crescimento recente de sua agremiação: "Deixamos de ser um partido de um dígito e viramos um partido de dois dígitos".
Piadas à parte, os PVs cresceram e amadureceram.
Além das surpresas no Brasil, onde Marina Silva forçou a eleição presidencial ao segundo turno, e na Colômbia, onde quase elegeram o presidente no primeiro semestre deste ano, os verdes passaram à Série A da política em vários países.
Na Alemanha, pesquisas indicam que eles podem bater pela primeira vez os ex-aliados social-democratas nas eleições parlamentares do ano que vem.
Na França, se tornaram a terceira maior força política nas eleições regionais do ano passado, atrás do Partido Socialista.
A coalizão Europe Écologie ficou a menos de um ponto percentual do PS na votação que escolheu os deputados do Parlamento Europeu.
Na eleição europeia de 2009, viraram a quarta maior força, com 55 deputados.
Na Austrália, foram o partido que mais cresceu nas eleições parlamentares deste ano e se tornaram chave para a governabilidade.
Engana-se, porém, quem acha que essa "onda verde" tem a ver com ambientalismo do eleitor.

DIFERENTES CASOS
"Cada caso é um caso", diz José Eli da Veiga, professor da faculdade de economia da USP e um dos articuladores da campanha presidencial de Marina Silva.
Enquanto no Brasil e na Colômbia as votações de Marina (19% dos votos) e Antanas Mockus (27,5%) tiveram componentes fortes de voto jovem, ligado a valores e anticorrupção, na Europa o voto verde foi, em grande parte, resultado do abandono do ecologismo puro.
"O ambiente não está mais em primeiro lugar entre os temas mais palpitantes. Fomos capazes de fazer propostas no plano econômico que agradaram aos eleitores moderados", diz Behrend.
A principal delas é o Green New Deal, uma promessa de investimentos em tecnologias de energia para gerar empregos e reduzir a dependência do petróleo.

VÁCUO SOCIALISTA
Marco Antônio Mróz, secretário de Relações Internacionais do PV brasileiro, diz que o partido também aproveita um vácuo deixado pela derrocada da social-democracia "blairista" na Europa.
A referência é ao ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair (1997-2007), expoente da chamada "Terceira Via", que prega um meio-termo entre o socialismo e o liberalismo puro.
Para o cientista político romeno Doru Frantescu, da ONG Votewatch, o PV se tornou repositório do liberalismo político perdido pela social-democracia.
"Eles viraram referência em questões como igualdade de gênero, imigração, relações exteriores e instituições europeias."
Mas não é só à esquerda que o PV vem dando dor de cabeça. No ano passado, no Parlamento Europeu, eles também cresceram às expensas da centro-direita.
Segundo o francês Yann Moulier Boutang, professor de economia da Universidade de Compiègne e ideólogo do Partido Verde europeu, isso se deve, aí sim, à emergência do tema ambiental na agenda política.
"Os partidos de direita tornaram a agenda ecológica quase uma caixa vazia, por causa dos lobbies das indústrias tradicionais e do agronegócio", diz.
Boutang diz que os verdes "têm a perspectiva realista de se tornarem o principal componente da esquerda". Ele critica a decisão de Marina Silva de permanecer neutra no segundo turno, defendendo numa carta (www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia-id=17103) a adesão à candidatura Dilma.
Frantescu, da Votewatch, diz que não há mais muito espaço para o PV europeu crescer, exceto nos países escandinavos, onde a perspectiva de chegada ao poder é real na próxima década.
"Uma coisa é o que o eleitor acha que deveria fazer. A outra é quando ele vai votar de fato", afirma.


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