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Guerra é movida puramente por causas políticas
ADRIAN HAMILTON
DO "INDEPENDENT"
Ignore as acusações e contra-acusações de culpa. O
bombardeio de Gaza aconteceu porque atendia aos interesses políticos das partes
envolvidas.
O ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak, o impeliu, a
ministra das Relações Exteriores, Tzipi Livni, o aplaudiu, e o primeiro-ministro
Ehud Olmert o sancionou
porque há uma eleição programada para fevereiro, e o
líder da oposição e arquifalcão Binyamin Netanyahu está na dianteira nas sondagens de intenção de voto. Barak, como líder do Partido
Trabalhista, e Livni, como líder do partido governista
Kadima, estão determinados
a ser mais guerreiros que ele.
O timing estava certo, e as
circunstâncias, também.
George W. Bush, o presidente americano mais avassaladoramente pró-Israel desde
o nascimento do país, ainda
estará no poder pelas próximas semanas, antes da posse
de um líder novo e menos resolutamente favorável a Israel, em 20 de janeiro.
Ao mesmo tempo, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, também em final de mandato,
viu nesta guerra a oportunidade de quebrar de uma vez
por todas a espinha de sua
oposição, o Hamas, antes de
serem realizadas novas eleições. Gaza é o último e desesperado lance de xadrez de
três líderes que se encaminham para a porta de saída
-Bush, Olmert e Abbas.
E o que dizer do próprio
Hamas? É verdade que o grupo errou em seus cálculos ao
pôr fim ao cessar-fogo quando o fez e subestimar a ferocidade da resposta israelense. Ele travou um jogo de
pombas e falcões com Israel,
apostando sua própria população na jogada dos dados.
Mas é verdade também
que o Hamas tem suas razões
políticas para saudar um
confronto violento com o
inimigo. Quanto mais duro
Israel golpeia Gaza, mais enfurecida fica a população do
território e mais solidariedade é despertada nos países
muçulmanos.
Pode soar como intransigência dizer que centenas de
civis morreram puramente
no interesse de um grupo de
políticos demasiado atentos
a suas ambições próprias para levar em conta as consequências. Mas essa é a verdade brutal sobre este conflito.
Do mesmo modo que essa
conflagração é essencialmente política, sua solução
também precisa ser política.
Apesar de seus esforços para
provar o contrário, Israel
não é imune à desaprovação
do mundo externo. Embora
tenha barrado a entrada de
qualquer organização de mídia em Gaza, vivemos no
mundo moderno dos celulares e da internet, e as notícias
não podem ser caladas.
Barak e Livni devem saber,
graças à experiência no Líbano, que ações desse tipo só
funcionam se produzem resultados rápidos. Nos primeiros dias, eles podiam nutrir a esperança de superar
Netanyahu em intransigência. Mas depois de uma semana sem uma vitória clara,
eles começarão a parecer
ineficazes. Em algum momento, eles podem muito
bem considerar que é do seu
interesse declarar vitória e
aceitar um cessar-fogo.
A melhor coisa que o mundo externo pode fazer para
ajudar é parar de fazer o jogo
político. A crise na faixa de
Gaza começou e foi imensuravelmente agravada pela
maneira como Washington e
Londres vêm trabalhando
para reforçar Mahmoud Abbas e solapar o Hamas.
O Egito e os chamados Estados árabes moderados,
além do quarteto, representado por Tony Blair, foram
sugados para dentro de uma
política de isolamento proposital de Gaza e enfraquecimento do Hamas. Essa política não funcionou e não funcionará. O Hamas foi democraticamente eleito e, quanto mais isolado, mais é reforçada sua reivindicação de representar a única voz palestina independente.
Barack Obama não vai reverter essa política do dia para a noite. Ele não pode, em
vista do compromisso dos
EUA com Israel, e é inútil esperar que o faça. Mas ele pode influenciar a opinião pública. Uma palavra sua de
condenação ao recurso à violência como arma política seria o suficiente para avisar os
líderes e o eleitorado israelense de que uma abordagem
mais justa está a caminho.
A crise em Gaza não será
solucionada enquanto os palestinos não se entenderem.
Mas sua única chance de fazê-lo depende de Washington, Londres e o quarteto pararem de tomar partido e de
Israel parar de fazer política
por meio da guerra.
Tradução de CLARA ALLAIN
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