São Paulo, sexta-feira, 02 de janeiro de 2009

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Rússia corta o envio de gás à Ucrânia

80% das exportações para a UE passam pela ex-república soviética, que anunciou desvios; Gazprom critica "chantagem"

Impasse entre estatais reflete tensão entre Moscou e Kiev; Europa aumentou estoques após crise de 2006 e está menos vulnerável

DA REDAÇÃO

A Rússia cortou ontem o fornecimento da gás à Ucrânia, cujos gasodutos transportam 80% das exportações russas para a Europa, gerando temores de desabastecimento em pleno inverno. Um quarto do gás consumido na União Europeia é exportado pela estatal russa Gazprom.
O corte, resultado de um impasse nas negociações entre a Gazprom e a Ucrânia sobre o preço a ser pago pelo gás em 2009 e supostas dívidas -contestadas por Kiev-, reflete as tensões entre o Kremlin e a ex-república soviética. O país, que afastou-se da influência moscovita após a Revolução Laranja de 2004, é aspirante a membro da Otan, aliança militar liderada pelos EUA.
"Todos os compromissos de abastecimento e transporte [do gás] têm de ser honrados", cobrou a República Tcheca, que assumiu ontem a presidência rotativa da UE, em nota conjunta com a Comissão Europeia. "O fluxo previsível de energia para a Ucrânia e o resto da Europa sob condições de mercado é essencial para a estabilidade e a confiança nos mercados de energia", disse um porta-voz da Casa Branca.
Washington também exortou Kiev e Moscou a "terem em mente as implicações humanitárias de qualquer corte de fornecimento de gás no inverno". Com o frio, a necessidade de aquecer os edifícios aumenta a demanda por gás na Europa.

Gás desviado
Moscou e Kiev negam que o corte prejudique o fornecimento na União Europeia. Apenas o suprimento destinado à Ucrânia foi cortado, segundo a Gazprom, que continua a abastecer o mercado europeu. Para que o gás atravesse os gasodutos ucranianos, porém, é preciso que eles estejam cheios.
Kiev afirma ter gás suficiente para "vários meses", mas a estatal Naftogaz anunciou que está desviando 21 milhões de metros cúbicos destinados à Europa para manter a pressão nos gasodutos. O volume representa 7% das exportações diárias.
Após o anúncio ucraniano, a Gazprom informou ter aumentado o fornecimento para a Europa. Isso compensaria o desvio, que, segundo o premiê Vladimir Putin, "terá sérias consequências" para a Ucrânia.
Em 2006, a interrupção do envido de gás russo à Ucrânia afetou vários países. Desde então, a Europa aumentou seus estoques, e especialistas afirmam que o corte não tem impacto imediato. Um prolongamento da crise, porém, pode afetar os europeus.

Negociações
O presidente da Ucrânia, Viktor Yushchenko, disse ontem que um acordo com a Gazprom deve acontecer antes até o dia 7 de janeiro (Natal no calendário ortodoxo). O chefe-executivo da estatal russa, porém, negou que estejam próximos de um consenso e acusou "forças políticas na Ucrânia" de tentarem provocar um conflito entre os países.
O gás russo é vendido na ex-república soviética por valores artificialmente baixos, mas, com a ruptura política, Moscou passou a questionar os subsídios. O acordo prevê que, em três anos, a Ucrânia passe a pagar o preço de mercado.
O valor pago pelo gás na Europa chega a US$ 500, mas há previsão de queda acentuada neste ano. A Naftogaz, que oferecia US$ 201 por mil metros cúbicos de gás, propôs ontem pagar US$ 235 -US$ 15 menos do que exige a Gazprom. A estatal ucraniana quer também aumentar as taxas cobradas pelo transporte.
Segundo Putin, a Gazprom foi "muito generosa". O premiê atribuiu o impasse nas negociações a "guerra de clãs" entre o premiê Yulia Tymoshenko e o presidente Viktor Yushchenko. Aliados contra Moscou na Revolução Laranja, eles são hoje rivais -em outubro, Yushchenko dissolveu o Parlamento e convocou eleições.

Com agências internacionais



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