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Rússia corta o envio de gás à Ucrânia
80% das exportações para a UE passam pela ex-república soviética, que anunciou desvios; Gazprom critica "chantagem"
Impasse entre estatais reflete tensão entre Moscou e Kiev; Europa aumentou estoques após crise de 2006 e está menos vulnerável
DA REDAÇÃO
A Rússia cortou ontem o fornecimento da gás à Ucrânia, cujos gasodutos transportam
80% das exportações russas para a Europa, gerando temores
de desabastecimento em pleno
inverno. Um quarto do gás consumido na União Europeia é
exportado pela estatal russa
Gazprom.
O corte, resultado de um impasse nas negociações entre a
Gazprom e a Ucrânia sobre o
preço a ser pago pelo gás em
2009 e supostas dívidas -contestadas por Kiev-, reflete as
tensões entre o Kremlin e a ex-república soviética. O país, que
afastou-se da influência moscovita após a Revolução Laranja de 2004, é aspirante a membro da Otan, aliança militar liderada pelos EUA.
"Todos os compromissos de
abastecimento e transporte [do
gás] têm de ser honrados", cobrou a República Tcheca, que
assumiu ontem a presidência
rotativa da UE, em nota conjunta com a Comissão Europeia. "O fluxo previsível de
energia para a Ucrânia e o resto
da Europa sob condições de
mercado é essencial para a estabilidade e a confiança nos
mercados de energia", disse um
porta-voz da Casa Branca.
Washington também exortou Kiev e Moscou a "terem em
mente as implicações humanitárias de qualquer corte de fornecimento de gás no inverno".
Com o frio, a necessidade de
aquecer os edifícios aumenta a
demanda por gás na Europa.
Gás desviado
Moscou e Kiev negam que o
corte prejudique o fornecimento na União Europeia. Apenas o
suprimento destinado à Ucrânia foi cortado, segundo a Gazprom, que continua a abastecer
o mercado europeu. Para que o
gás atravesse os gasodutos
ucranianos, porém, é preciso
que eles estejam cheios.
Kiev afirma ter gás suficiente
para "vários meses", mas a estatal Naftogaz anunciou que está desviando 21 milhões de metros cúbicos destinados à Europa para manter a pressão nos
gasodutos. O volume representa 7% das exportações diárias.
Após o anúncio ucraniano, a
Gazprom informou ter aumentado o fornecimento para a Europa. Isso compensaria o desvio, que, segundo o premiê Vladimir Putin, "terá sérias consequências" para a Ucrânia.
Em 2006, a interrupção do
envido de gás russo à Ucrânia
afetou vários países. Desde então, a Europa aumentou seus
estoques, e especialistas afirmam que o corte não tem impacto imediato. Um prolongamento da crise, porém, pode
afetar os europeus.
Negociações
O presidente da Ucrânia,
Viktor Yushchenko, disse ontem que um acordo com a Gazprom deve acontecer antes até
o dia 7 de janeiro (Natal no calendário ortodoxo). O chefe-executivo da estatal russa, porém, negou que estejam próximos de um consenso e acusou
"forças políticas na Ucrânia" de
tentarem provocar um conflito
entre os países.
O gás russo é vendido na ex-república soviética por valores
artificialmente baixos, mas,
com a ruptura política, Moscou
passou a questionar os subsídios. O acordo prevê que, em
três anos, a Ucrânia passe a pagar o preço de mercado.
O valor pago pelo gás na Europa chega a US$ 500, mas há
previsão de queda acentuada
neste ano. A Naftogaz, que oferecia US$ 201 por mil metros
cúbicos de gás, propôs ontem
pagar US$ 235 -US$ 15 menos
do que exige a Gazprom. A estatal ucraniana quer também aumentar as taxas cobradas pelo
transporte.
Segundo Putin, a Gazprom
foi "muito generosa". O premiê
atribuiu o impasse nas negociações a "guerra de clãs" entre o
premiê Yulia Tymoshenko e o
presidente Viktor Yushchenko.
Aliados contra Moscou na Revolução Laranja, eles são hoje
rivais -em outubro, Yushchenko dissolveu o Parlamento
e convocou eleições.
Com agências internacionais
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