São Paulo, sábado, 02 de janeiro de 2010

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Brasileiros atacados no Suriname festejam Ano Novo apesar do trauma

João Carlos Magalhães/Folha Imagem
Garimpeiros atacados por surinameses veem a virada do ano em um hotel em Panamaribo

JOÃO CARLOS MAGALHÃES
ENVIADO ESPECIAL AO SURINAME

É Réveillon em Paramaribo, no Suriname, e as caixas de som do bar do hotel Pérola tocam em volume ensurdecedor um hit de tecnobrega, a música mais popular do Pará.
No pequeno salão espelhado e iluminado por neons e luz negra, garotas brasileiras -uma delas vestida de fada- rebolam com javaneses, indianos e holandeses, compondo um instantâneo da multiplicidade étnica do país.
Bernardo Alves da Silva segura um copo de uísque com energético, ensaia uns passos e parece se divertir. "Rapaz, a gente precisava de um pouco de animação", diz, sorrindo.
Ex-garimpeiro, hoje comerciante, ele foi um dos brasileiros atacados na noite de Natal por um grupo de descendentes de quilombolas em Albina, cidade surinamesa próxima à fronteira com a Guiana Francesa. Ao menos 25 pessoas ficaram feridas nos confrontos.
Como outros colegas, viu na virada do ano uma chance de terminar a festa natalina, interrompida por agressões e uma fuga desesperada.
O Pérola é um dos hotéis que receberam refugiados em Paramaribo. Em uma espécie de garagem transformada em palco, uma banda toca forró, sertanejo e Legião Urbana.
Na calçada, maranhenses, paraenses e amapaenses de calças jeans estilizadas e tênis caros bebem cerveja brasileira. Quase todos passam semanas na mata em busca de ouro e vão a Paramaribo gastar.
Em outra festa, às 3h, uma mulher do grupo de refugiados reconhece o repórter e diz: "A gente se diverte como pode. Tem esse negócio do trauma, mas tem que esquecer". Na pista de dança, garotas de programa dividem espaço com um bebê no carrinho e uma criança chorando.
O hotel Comfort, outro que recebeu brasileiros, está vazio. A ceia de Ano Novo foi bolo de chocolate e suco solúvel. "E eu, que faço aniversário hoje?", diz Fernando Lima da Costa, recém-completados 22 anos. "É, não tá bom porque eu perdi tudo no confronto lá. Mas, é... tá bom, sim."


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