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Brasileiros atacados no Suriname festejam Ano Novo apesar do trauma
João Carlos Magalhães/Folha Imagem
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Garimpeiros atacados por surinameses veem a virada do ano em um hotel em Panamaribo
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
ENVIADO ESPECIAL AO SURINAME
É Réveillon em Paramaribo, no Suriname, e as caixas
de som do bar do hotel Pérola
tocam em volume ensurdecedor um hit de tecnobrega, a
música mais popular do Pará.
No pequeno salão espelhado e iluminado por neons e
luz negra, garotas brasileiras
-uma delas vestida de fada-
rebolam com javaneses, indianos e holandeses, compondo um instantâneo da
multiplicidade étnica do país.
Bernardo Alves da Silva segura um copo de uísque com
energético, ensaia uns passos
e parece se divertir. "Rapaz, a
gente precisava de um pouco
de animação", diz, sorrindo.
Ex-garimpeiro, hoje comerciante, ele foi um dos brasileiros atacados na noite de
Natal por um grupo de descendentes de quilombolas em
Albina, cidade surinamesa
próxima à fronteira com a
Guiana Francesa. Ao menos
25 pessoas ficaram feridas
nos confrontos.
Como outros colegas, viu
na virada do ano uma chance
de terminar a festa natalina,
interrompida por agressões e
uma fuga desesperada.
O Pérola é um dos hotéis
que receberam refugiados em
Paramaribo. Em uma espécie
de garagem transformada em
palco, uma banda toca forró,
sertanejo e Legião Urbana.
Na calçada, maranhenses,
paraenses e amapaenses de
calças jeans estilizadas e tênis
caros bebem cerveja brasileira. Quase todos passam semanas na mata em busca de ouro
e vão a Paramaribo gastar.
Em outra festa, às 3h, uma
mulher do grupo de refugiados reconhece o repórter e
diz: "A gente se diverte como
pode. Tem esse negócio do
trauma, mas tem que esquecer". Na pista de dança, garotas de programa dividem espaço com um bebê no carrinho e uma criança chorando.
O hotel Comfort, outro que
recebeu brasileiros, está vazio. A ceia de Ano Novo foi bolo de chocolate e suco solúvel.
"E eu, que faço aniversário
hoje?", diz Fernando Lima da
Costa, recém-completados
22 anos. "É, não tá bom porque eu perdi tudo no confronto lá. Mas, é... tá bom, sim."
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