São Paulo, segunda-feira, 02 de fevereiro de 2004

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Projetos curdos trombam com fortes interesses

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Em contraste com os xiitas, que são no Iraque uma ruidosa maioria que reivindica poder político, os curdos são uma minoria discreta, porém ambiciosa.
Suas lideranças querem uma autonomia regional que permita a longo prazo reparar o que acreditam ser uma injustiça histórica, que data de 1920, após o colapso do Império Otomano.
A nação curda foi dividida entre Turquia e o atual Iraque, então protetorado britânico. A ambição consiste em obter alguma forma de reunificação nacional. O que implicaria desmembrar o território iraquiano e esvaziá-lo das reservas de petróleo localizadas ao norte.
Esse quadro basta para demonstrar a quantidade de adversários em potencial reunidos hoje pelos curdos.
Aos que se opõem a suas ambições nacionais existe ainda a coligação heterogênea de grupos clandestinos que sabotam a presença norte-americana no Iraque.
Os curdos foram protegidos pelos Estados Unidos após a Guerra do Golfo e aplaudiram abertamente a operação bélica do ano passado que pôs fim à ditadura de Saddam Hussein.
É possível que por trás dos homens-bomba de ontem esteja o grupo Ansar al Islam (apoiadores do islã). Ele foi acusado de ligações com a Al Qaeda no pronunciamento do secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, há pouco menos de um ano, no Conselho de Segurança da ONU.
Mas, na época, a mídia britânica dizia que Powell tivera os curdos como informantes. O grupo islâmico, cujo líder espiritual era o mulá Krekar, então exilado na Noruega, teria, segundo os curdos, ligações com Abu Musab Zarqawi, ligado ao saudita Osama bin Laden.
A história foi sempre mal contada. Krekar deu algumas entrevistas por telefone e ameaçou processar quem o chamasse de terrorista.
Pode ter havido um acerto de contas entre curdos e um grupo islâmico, tão militarizado quanto qualquer facção naquele território.



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