São Paulo, segunda-feira, 02 de fevereiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bush deve ordenar inquérito sobre falhas da inteligência

DE NOVA YORK

O presidente dos EUA, George W. Bush, deve assinar uma ordem executiva estabelecendo uma investigação das falhas dos serviços de inteligência americanos em relação à existência de armas de destruição em massa no Iraque.
A informação, não confirmada oficialmente, foi divulgada por agências de notícias internacionais e diversos órgãos de imprensa nos EUA com base em autoridades da Casa Branca que não se identificaram.
A existência de um suposto arsenal de armas químicas e biológicas -e mesmo nucleares- do Exército iraquiano foi a justificativa do governo Bush para empreender uma guerra contra o Iraque no ano passado.
No entanto, ao longo das últimas semanas, David Kay, ex-chefe da equipe americana de busca de armas no Iraque, fez declarações que põem em xeque a credibilidade dos serviços de inteligência americanos. "Se você não pode contar com uma inteligência que é boa e precisa, certamente não pode ter uma política de ataques preventivos", disse ontem ao canal americano Fox News.
De acordo com Kay, que entregou o cargo há mais de uma semana, o governo Bush superestimou a capacidade de interpretação que os agentes de inteligência poderiam fazer de mapas e fotos de satélite.
Ao estabelecer uma comissão para investigar as falhas, Bush poderá ter controle sobre os membros e sobre o mandato.
O presidente, segundo as fontes na Casa Branca, deverá consultar especialistas em informações de inteligência para escolher os membros da comissão, que deve ser independente e dotada de todos os recursos para realizar o seu trabalho.
A investigação poderá ir além de simplesmente verificar o que houve de errado no Iraque, segundo uma autoridade da Casa Branca. Deverá também se focar em como são conseguidas informações em organizações como a Al Qaeda e sobre a proliferação de armas de destruição em massa.
Por enquanto, não há data definida para a conclusão da investigação. O objetivo é evitar que isso ocorra nas proximidades da eleição presidencial em novembro.

Powell
Uma reportagem publicada ontem pelo jornal "New York Times" mostra as discrepâncias entre o discurso do secretário de Estado, Colin Powell, em fevereiro de 2003, e as recentes revelações feitas por Kay.
Diante do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), Powell exibiu, no ano passado, mapas, fotos de satélite e vários relatórios fornecidos por serviços de inteligência.
De posse desse aparato, o secretário afirmou que o Iraque representava uma grave ameaça à segurança americana e que o regime do ex-ditador Saddam Hussein conduzia um ambicioso programa de construção de armas de destruição em massa.
Em entrevista ao "New York Times" na semana passada, Kay rebateu esse argumento: "Estou pessoalmente convencido de que não havia grandes estoques recentes de material para a produção de armas de destruição em massa".

Blair sob pressão
No Reino Unido, o primeiro-ministro Tony Blair também sente o impacto da perda de confiança dos britânicos.
Pesquisa publicada ontem pelo jornal inglês "The Sunday Times" mostra que 54% dos ingleses defendem uma investigação independente sobre as informações dos serviços de inteligência usadas para justificar a guerra.



Texto Anterior: Projetos curdos trombam com fortes interesses
Próximo Texto: Tragédia: Tumulto causa 244 mortes perto de Meca
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.