São Paulo, sexta-feira, 02 de fevereiro de 2007

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Chávez assumirá petroleiras até maio

Medida afetará multinacionais de países como EUA e França; Washington chama nacionalização de "perturbadora"

Presidente venezuelano diz que participação da PDVSA nos campos de exploração Orinoco será de pelo menos 60% e compara Bush a Hitler

DA REDAÇÃO

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, anunciou ontem que seu governo assumirá a partir do dia 1º de maio os campos petroleiros operados por empresas multinacionais na faixa do Orinoco. A medida, que afeta empresas dos EUA, da França, da Noruega e do Reino Unido, foi classificada de "perturbadora" por Washington.
"O que nós queremos é negociar (...), mas dei instruções para que, em 1º de maio, todos esses campos amanheçam sob nosso controle", disse Chávez, em entrevista coletiva.
O presidente venezuelano afirmou que as empresas terão de aceitar "não menos de 60%" de participação da estatal PDVSA, sob pena de serem expulsas dos campos.
As empresas que operam no Orinoco são: British Petroleum, Exxon, Chevron, ConocoPhillips, Total e Statoil ASA. Operam quatro projetos de petróleo ultrapesado no Orinoco, com uma produção diária de 600 mil barris.
"Tenho certeza de que vão aceitar isso porque continuaremos sendo parceiros. Agora, caso não estejam de acordo, são totalmente livres para sair."
Apesar da vontade política para assumir o controle das operações no Orinoco, a ação não será fácil. Um alto funcionário venezuelano admitiu no mês passado que o país poderia sofrer milhões de dólares em penalidades caso assuma os projetos por causa de acordos financeiros com bancos internacionais.
A agência de classificação de risco Fitch disse que a Venezuela daria um calote de cerca de US$ 4 bilhões em financiamentos aos projetos caso o governo decida de forma unilateral assumir as operações da região do Orinoco.
Chávez definiu o prazo um dia depois que recebeu poderes para legislar por decreto por 18 meses. O objetivo, segundo ele, é acelerar medidas em praticamente todas as áreas administrativas para implantar o que vem chamando de "socialismo do século 21".
"Aqui está a Lei Habilitante, simples, quatro páginas, quatro artigos. Vamos promulgá-la com vermelho, e partir de hoje [ontem] estará em vigência: em nome de Deus e da revolução." A estimativa do governo é que se emitirão até 60 leis.
Além dos campos do Orinoco, Chávez pretende nacionalizar a Cantv, a maior empresa de telecomunicações da Venezuela, e seis companhias de eletricidade, listadas por ele ontem e incluem a Electricidad de Caracas, a maior do país, controlada pela empresa americana AES.

Novo mandato
Os anúncios de nacionalização marcaram o início do novo mandato de Chávez, junto com a decisão de não renovar a licença de uma emissora de TV opositora, a RCTV, de revogar a autonomia do Banco Central e ainda de aprovar a reeleição indefinida para presidente.
Fora do governo, Chávez quer ainda criar um partido único reunindo todas as agremiações que o apóiam.
Apesar das medidas centralizadoras, ele nega que seu governo seja autoritário e diz que sempre permitirá partidos da oposição e deixará o governo caso perca uma eleição.
O anúncio de Chávez sobre o Orinoco foi classificado de "tendência perturbadora" e "distante dos princípios abertos e transparentes do mercado" pelo Departamento de Energia dos EUA.
"Essas ações afetarão consideravelmente, em detrimento do povo venezuelano, o desenvolvimento a longo prazo dos recursos naturais daquele país e, em última instância, seu crescimento econômico", disse o porta-voz do departamento Craig Stevens.
Ontem, Chávez respondeu de forma dura às afirmações feitas na véspera pelo presidente americano, George W. Bush, que disse estar "preocupado" com a "diminuição" da democracia na Venezuela.
"Até o mesmíssimo diabo disse ao mundo que está preocupado com os venezuelanos. O presidente dos EUA deveria renunciar, se ele tivesse o mínimo de dignidade", disse Chávez, durante uma longa fala contra Bush, a quem comparou com Adolf Hitler e chamou de "criminoso de guerra".
Sobre os comentários de Bush, o chanceler brasileiro, Celso Amorim, afirmou ontem em Brasília: "Espero que tenha sido bem informado por seus conselheiros políticos que analisam a situação".


Com agências internacionais


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