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Morales paga bolsa a idosos e reativa crise com regiões
Benefício, em vigência desde ontem, é financiado com corte de verba a departamentos
Governadores da oposição
acusam La Paz de enterrar diálogo com a medida; Santa Cruz marca data para referendo sobre autonomia
Nano Cartagena/Associated Press
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Morales entrega a senhora em Cochabamba (centro) o Renda Dignidade, benefício de até US$ 26 mensais aos maiores de 60 anos
DA REDAÇÃO
O presidente boliviano, Evo
Morales, e seus ministros, além
de militares e parlamentares
governistas começaram ontem
em toda a Bolívia o pagamento
do Renda Dignidade, programa
de benefício a idosos cujo financiamento mediante corte
de verbas aos departamentos é
um dos pivôs da crise de La Paz
com as regiões oposicionistas.
Em reação, os governadores
de oposição, que anteontem fizeram um apelo para que Morales recuasse no tema, acusaram o governo de enterrar de
vez a tentativa de diálogo, ensaiada em janeiro, depois de
uma fase aguda de confrontação no final de 2007.
O governo vai pagar até US$
315 anuais a todos os bolivianos
maiores de 60 anos, estimados
oficialmente em 730 mil, dos
quais 600 mil não recebiam até
agora nenhuma renda.
O benefício, ao custo de US$
205 milhões anuais, está sendo
financiado com 30% do IDH
(Imposto Direto sobre Hidrocarbonetos), antes repassados
às regiões. É um dos principais
apostas do governo para reduzir a pobreza e forjar uma rede
de seguridade social.
"Esse recurso econômico, se
vindo de nossos recursos naturais ou de um imposto direto
sobre hidrocarbonetos, não
pertence ao presidente ou aos
governadores. Esse dinheiro
pertence ao povo e deve voltar
ao povo", disse Morales em Cochabamba, onde fez a entrega
do primeiro benefício.
Autonomias
Os quatro departamentos do
leste -Santa Cruz, Pando e Beni e Tarija, a chamada "meia
lua"-, apoiados por Cochabamba, no centro do país, são
contra o corte de recursos do
IDH e, em reuniões ao longo de
janeiro, sugeriram ao governo
mudar a fonte de financiamento do Renda Dignidade.
Os oposicionistas dizem que
faltará dinheiro para obras de
infra-estrutura e que o corte é
uma maneira velada de acabar
com a intenção dos departamentos de ter autonomia administrativa. Já La Paz argumenta que o dinheiro do IDH
seguirá nas regiões, movimentando o mercado consumidor.
Em meio à tentativa de diálogo com os oposicionistas em janeiro, o governo, por decreto,
ordenou o ínicio da redução
dos repasses e o pagamento da
bolsa, paralisando a tentativa
de fazer os cinco governadores
aceitarem o texto constitucional aprovado em dezembro. Os
oposicionistas consideram o
texto ilegal.
Com o fracasso das negociações no horizonte, tanto La Paz
como as regiões pretendem
reativar a idéia de fazer um referendo revogatório para retirar ou confirmar governadores
e Morales em seus cargos.
Tomou novo impulso também a campanha da "meia-lua"
por autonomia. Ontem, o governador do rico departamento
de Santa Cruz, Rubén Costas,
convocou para o dia 4 de maio
um referendo sobre o Estatuto
Autonômico preparado em dezembro por políticos locais.
Com o texto, os cruzenhos almejam poder legislar sobre regime de terras e ter direito a
criar empresas estatais de gás e
petróleo. Pando, Beni e Tarija
devem seguir Santa Cruz.
Mas, antes da consulta, os dirigentes cruzenhos terão de enfrentar um imbróglio jurídico
envolvendo o referendo e o estatuto em si, porque regimes
autonômicos não têm respaldo
na Constituição vigente.
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