São Paulo, segunda-feira, 02 de fevereiro de 2009

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Felipe, 15, espera pai capturado quando tinha 7 e imagina futuro de paz no país

DA REPORTAGEM LOCAL

Alan Felipe Jara, 15, com voz tranquila e num tom que soa bastante adulto para a idade, fala de um telefone celular na cidade de Villavicencio, em meio ao intenso burburinho dos que esperavam a chegada dos primeiros libertados pelas Farc: "Desta vez não haverá problemas. Vou encontrar meu pai".
A última vez que Felipe viu o pai foi há oito anos, quando o então governador de departamento (Estado) de Meta, Alan Jara, 51, foi capturado pela guerrilha enquanto integrava um comboio da ONU.
De acordo com os planos iniciais, Jara será libertado hoje. Felipe diz que agora é hora de ele pôr em prática os planos que fez para o reencontro: "Quero explicar para ele como funciona tudo agora", diz, em referência a todas os avanços tecnológicos que surgiram nos anos em que seu pai sofreu no cativeiro na selva.
Um outro plano é contar que praticamente cumpriu a tarefa que Jara lhe passou, por carta, no ano passado -as Farc permitem que reféns escrevam para sua família de vez em quando, como prova de que estão resistindo ao cativeiro.
O ex-governador enviou ao filho uma lista de dez livros na última correspondência. "Só falta ler um, que não encontrei", diz Felipe. Era a primeira vez que ele lhe fazia sugestões de leitura desde que ele era bem pequeno.
"O meu preferido da lista foi "Assim Foi Temperado o Aço", que fala sobre Revolução Russa". O livro, de Nikolai Ostrovski, é um clássico do realismo soviético e mostra um jovem soldado que mantém as convicções revolucionárias em meio a guerra civil na Rússia.
Nos oito anos de cativeiro do pai, Felipe viveu num mundo de dor e política. Acompanhou a mãe, Claudia Rugeles, em várias viagens pelo país em campanha em defesa de uma negociação que libertasse os reféns. Conheceu vários outros filhos de sequestrados. Acha que ninguém vai desistir de negociar enquanto houver gente na selva. "Os Colombianos pela Paz não vão desistir."
O filho único de Jara diz ter esperança de que, quando for adulto, não haja mais conflito armado na Colômbia. Não pensa em carreira política: "Quero fazer medicina". (FM)



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