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Felipe, 15, espera pai capturado quando tinha 7 e imagina futuro de paz no país
DA REPORTAGEM LOCAL
Alan Felipe Jara, 15, com voz
tranquila e num tom que soa
bastante adulto para a idade, fala de um telefone celular na cidade de Villavicencio, em meio
ao intenso burburinho dos que
esperavam a chegada dos primeiros libertados pelas Farc:
"Desta vez não haverá problemas. Vou encontrar meu pai".
A última vez que Felipe viu o
pai foi há oito anos, quando o
então governador de departamento (Estado) de Meta, Alan
Jara, 51, foi capturado pela
guerrilha enquanto integrava
um comboio da ONU.
De acordo com os planos iniciais, Jara será libertado hoje.
Felipe diz que agora é hora de
ele pôr em prática os planos
que fez para o reencontro:
"Quero explicar para ele como
funciona tudo agora", diz, em
referência a todas os avanços
tecnológicos que surgiram nos
anos em que seu pai sofreu no
cativeiro na selva.
Um outro plano é contar que
praticamente cumpriu a tarefa
que Jara lhe passou, por carta,
no ano passado -as Farc permitem que reféns escrevam para sua família de vez em quando, como prova de que estão resistindo ao cativeiro.
O ex-governador enviou ao
filho uma lista de dez livros na
última correspondência. "Só
falta ler um, que não encontrei", diz Felipe. Era a primeira
vez que ele lhe fazia sugestões
de leitura desde que ele era
bem pequeno.
"O meu preferido da lista foi
"Assim Foi Temperado o Aço",
que fala sobre Revolução Russa". O livro, de Nikolai Ostrovski, é um clássico do realismo soviético e mostra um jovem soldado que mantém as convicções revolucionárias em meio a
guerra civil na Rússia.
Nos oito anos de cativeiro do
pai, Felipe viveu num mundo
de dor e política. Acompanhou
a mãe, Claudia Rugeles, em várias viagens pelo país em campanha em defesa de uma negociação que libertasse os reféns.
Conheceu vários outros filhos
de sequestrados. Acha que ninguém vai desistir de negociar
enquanto houver gente na selva. "Os Colombianos pela Paz
não vão desistir."
O filho único de Jara diz ter
esperança de que, quando for
adulto, não haja mais conflito
armado na Colômbia. Não pensa em carreira política: "Quero
fazer medicina".
(FM)
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