São Paulo, segunda-feira, 02 de fevereiro de 2009

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análise

Farc tentam influenciar debate eleitoral

DA REPORTAGEM LOCAL

A libertação unilateral de sequestrados é praticamente a única carta disponível para que as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), na pior situação moral e militar em 40 anos de movimento guerrilheiro, vislumbrem algum oxigênio político, de olho na eleição presidencial de 2010.
Quando anunciou as libertações, em dezembro, a guerrilha de inspiração marxista disse tratar-se de um gesto de "boa vontade" e relançou a proposta de trocar sequestrados políticos por guerrilheiros presos, o chamado "acordo humanitário".
Mas até integrantes do "Colombianos pela Paz", o grupo de políticos e intelectuais de esquerda que negociou a entrega dos últimos reféns, admite que não há espaço, no governo Uribe, para uma negociação desse tipo.
"Com Uribe sabemos que é impossível o acordo humanitário. Mas podemos pensar numa conversação maior, em direção a um processo de paz depois", disse ontem à Folha Gloria Cuadros, uma das porta-vozes do grupo, enquanto esperava, em Villavicencio, a chegada dos primeiros libertados.
Uma das leituras é a de que, do ponto de vista das Farc, a aposta é fazer o tema do acordo humanitário e da negociação de paz entrar na agenda da crucial sucessão presidencial de 2010. O próprio presidente Álvaro Uribe falou do tema: "O país entra na época eleitoral e as Farc querem enganar falando de diálogo. O país já caiu muitas vezes nisso".

Uribe
A eleição presidencial já tomou conta do noticiário, com as investidas e recuos de Uribe para criar as condições legais para tentar um terceiro mandato. O motivo que alega é continuar "a política de segurança democrática" que acossou militarmente as Farc como nunca antes -e deixa também um histórico de violações de direitos humanos praticadas pelas forças de segurança.
O cálculo da guerrilha, de acordo com a revista "Semana", é que a política uribista de exigir rendição incondicional se debilitará se as Farc se mostrarem dispostas ao diálogo -com exigências cada vez menos ambiciosas- e abrirem mão dos sequestros e do uso de minas terrestres, que provocam condenação dentro e fora do país.
Analistas e mediadores preferem não falar em novas libertações unilaterais no curto prazo -as Farc têm ainda em seu poder 24 reféns "trocáveis", todos militares. Mas há ainda dificuldades que podem precipitá-las: um cativeiro depende de controle de território e uma boa rede logística. Sabe-se pelos relatos dos reféns libertados anteriormente que o acosso militar incidiu nas duas condições. (FM)



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