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análise
Farc tentam influenciar debate eleitoral
DA REPORTAGEM LOCAL
A libertação unilateral
de sequestrados é praticamente a única carta disponível para que as Farc
(Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), na
pior situação moral e militar em 40 anos de movimento guerrilheiro, vislumbrem algum oxigênio
político, de olho na eleição
presidencial de 2010.
Quando anunciou as libertações, em dezembro, a
guerrilha de inspiração
marxista disse tratar-se de
um gesto de "boa vontade"
e relançou a proposta de
trocar sequestrados políticos por guerrilheiros presos, o chamado "acordo
humanitário".
Mas até integrantes do
"Colombianos pela Paz", o
grupo de políticos e intelectuais de esquerda que
negociou a entrega dos últimos reféns, admite que
não há espaço, no governo
Uribe, para uma negociação desse tipo.
"Com Uribe sabemos
que é impossível o acordo
humanitário. Mas podemos pensar numa conversação maior, em direção a
um processo de paz depois", disse ontem à Folha
Gloria Cuadros, uma das
porta-vozes do grupo, enquanto esperava, em Villavicencio, a chegada dos
primeiros libertados.
Uma das leituras é a de
que, do ponto de vista das
Farc, a aposta é fazer o tema do acordo humanitário e da negociação de paz
entrar na agenda da crucial sucessão presidencial
de 2010. O próprio presidente Álvaro Uribe falou
do tema: "O país entra na
época eleitoral e as Farc
querem enganar falando
de diálogo. O país já caiu
muitas vezes nisso".
Uribe
A eleição presidencial já
tomou conta do noticiário,
com as investidas e recuos
de Uribe para criar as condições legais para tentar
um terceiro mandato. O
motivo que alega é continuar "a política de segurança democrática" que
acossou militarmente as
Farc como nunca antes -e
deixa também um histórico de violações de direitos
humanos praticadas pelas
forças de segurança.
O cálculo da guerrilha,
de acordo com a revista
"Semana", é que a política
uribista de exigir rendição
incondicional se debilitará
se as Farc se mostrarem
dispostas ao diálogo -com
exigências cada vez menos
ambiciosas- e abrirem
mão dos sequestros e do
uso de minas terrestres,
que provocam condenação dentro e fora do país.
Analistas e mediadores
preferem não falar em novas libertações unilaterais
no curto prazo -as Farc
têm ainda em seu poder 24
reféns "trocáveis", todos
militares. Mas há ainda dificuldades que podem precipitá-las: um cativeiro depende de controle de território e uma boa rede logística. Sabe-se pelos relatos
dos reféns libertados anteriormente que o acosso
militar incidiu nas duas
condições.
(FM)
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