São Paulo, terça, 2 de fevereiro de 1999

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TUMULTO À VISTA
Desempregados e aposentados planejam exigir que supermercados voltem a doar 50 toneladas de alimentos por mês
Argentina faz hoje marcha por comida

MAURÍCIO SANTANA DIAS
de Buenos Aires

Desempregados e aposentados argentinos devem fazer hoje protestos por todo o território argentino para pressionar supermercados a doarem mensalmente 50 toneladas de alimentos. O movimento, organizado pela CCC (Corrente Classista Combativa) e pelo Movimento de Desempregados e Aposentados, fez com que a Secretaria de Segurança Pública da Argentina reforçasse a vigilância no país.
Desde outubro do ano passado a CCC e o movimento de desempregados vêm fazendo pedidos mensais de provisões aos supermercados, que até então vinham concordando com as doações. Em janeiro, porém, as empresas resolveram suspender as remessas e agora temem que haja saques e invasões nos estabelecimentos.
Na sexta-feira passada, o líder do Movimento de Desempregados e Aposentados, Raúl Castells, foi detido por "extorquir e instigar delitos" em 23 de dezembro último, em uma ação contra o supermercado Wal Mart.
A detenção de Castells faz parte de uma estratégia intimidatória iniciada pela Secretaria de Segurança Pública argentina, que no momento estuda a possibilidade de os manifestantes serem incriminados por "atentar contra a ordem constitucional".
Os supermercadistas se dizem vítimas da dívida política do governo com os desempregados (que hoje chegam a 13% da população economicamente ativa) e pedem mais proteção das autoridades.
² "Alvo errado'
"O problema é político: estão apontando para nós, mas o verdadeiro alvo é o governo", afirmou um empresário do setor. Entre os donos de supermercados acredita-se que a detenção de Castells irá desestimular o movimento e legitimar uma ação mais firme da polícia, que teria sido "muito omissa" em ocasiões anteriores.
A poucos dias da manifestação, o dirigente da CCC, Carlos Santillán, reafirmou o propósito de "exigir a entrega de 50 toneladas de alimentos mensais no dia 2 de fevereiro". Segundo Santillán, nos protestos previstos para hoje, os manifestantes deverão, entre outras atividades, ocupar supermercados em todo o país.
O confronto parece ser inevitável. Manifestantes e policiais, cada qual do seu lado, montaram uma autêntica operação de guerra para hoje.
A ação ocorreria basicamente em duas frentes: a Corrente Classista Combativa agiria no interior do país, e o Movimento de Desempregados e Aposentados atuaria na Grande Buenos Aires e algumas capitais de Província, como Córdoba e Paraná.
Para maior temor dos supermercadistas, fontes do governo estimam que imigrantes ilegais vão se juntar ao protesto dos desempregados e dos aposentados.



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