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Sob tensão regional, líder do Irã vai à Arábia Saudita
Ahmadinejad faz primeira visita oficial em meio a cisma crescente entre xiitas e sunitas
Ex-assessor da Casa Branca diz que iniciativa contraria estratégia dos EUA de isolar Teerã por meio de aliança com Israel e países árabes
MARCELO NINIO
DA REDAÇÃO
O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, fará amanhã sua primeira visita oficial à
Arábia Saudita, onde se reunirá
com o rei Abdullah para tratar
de alguns dos temas que causam maior tensão atualmente
no Oriente Médio -todos com
envolvimento de Teerã: o programa nuclear iraniano, a violência sectária no Iraque e a
crescente animosidade entre
muçulmanos xiitas e sunitas.
O encontro entre os líderes
das duas potências regionais,
que juntas possuem quase 35%
das reservas mundiais de petróleo, ocorrerá ao fim de uma
semana em que os Estados Unidos aceitaram o convite para
participar de uma conferência
de alto nível sobre o Iraque,
com a participação do Irã. O
gesto foi visto por analistas como uma possível inflexão na
postura linha-dura de Washington em relação a Teerã.
"Os dois chefes de Estado
discutirão temas do mundo islâmico, laços bilaterais e a situação no Oriente Médio", disse Mohammad Hosseini, embaixador do Irã na Arábia Saudita. "Quando as visões dos dois
países se aproximam eles são
capazes de desempenhar um
papel influente na caótica situação do mundo islâmico."
A visita de Ahmadinejad será
o passo mais significativo até
agora da errática aproximação
registrada entre os dois países
nos últimos meses, numa tentativa de diminuir o nível de
tensão regional. Essa aproximação incluiu a recente visita
do negociador nuclear iraniano
à Arábia Saudita, Ali Larijani,
além de viagens de emissários
sauditas à república islâmica.
O encontro de amanhã reforça ainda a mudança ocorrida
recentemente na diplomacia
saudita, que deixou a atitude
tradicionalmente discreta e baseada em incentivos financeiros, para assumir um papel
mais ativo, condizente com sua
influência política e econômica
-em seu solo estão os dois locais mais sagrados do mundo
para os muçulmanos, Meca e
Medina; debaixo dele estão as
maiores reservas de petróleo
do mundo.
A transformação pôde ser
observada em alguns conflitos
que incendiaram a região nos
últimos meses, do Iraque -onde os sauditas passaram a
apoiar publicamente a minoria
sunita- ao Líbano, onde Riad e
Teerã mediaram um acordo para resolver a disputa sectária
que voltou a assombrar o país.
Na iniciativa mais recente,
ocorrida no começo deste mês,
os líderes das duas principais
facções palestinas assinaram
em Meca um acordo patrocinado pelos sauditas para formar
um governo de união e tentar
evitar uma guerra civil que parecia iminente.
Toda essa movimentação
tem como pano de fundo a disputa entre o islamismo sunita
-vertente a que pertencem os
sauditas e 85% do mundo muçulmano- e o xiita, do qual o
Irã é o principal representante.
Problemas comuns
Líbano e Iraque são alguns
dos dilemas que unem sauditas
e iranianos e tornam atraente
uma solução conjunta. "Cada
país tem um receio específico: a
preocupação dos sauditas é o
papel desestabilizador do Irã
na região; a dos iranianos é a
aliança saudita com os Estados
Unidos", diz o analista libanês
Talal Atrissi. "Essas preocupações só podem ser eliminadas
por meio de contato direto. A
questão é até onde Washington
permitirá essa aproximação."
Gary Sick, assessor da Casa
Branca para o Irã nos governos
de Gerald Ford, Jimmy Carter
e Ronald Reagan, concorda que
a reação dos EUA será crucial
para o sucesso da iniciativa, em
princípio positiva, de aproximar as duas potências.
Em entrevista à Folha por
telefone, ele interpretou o encontro de amanhã como um sinal de independência da diplomacia saudita em relação aos
EUA, e da preocupação de Riad
com o potencial explosivo das
tensões regionais atuais.
Apesar de ser o maior aliado
de Washington no mundo árabe, diz Sick, a Arábia Saudita
está agindo de forma autônoma, de certa forma até divergente, em relação à política de
Washington no Oriente Médio.
"Não posso imaginar que alguém em Washington esteja
encorajando o rei Abdullah a
receber Ahmadinejad. O encontro contraria a estratégia
recentemente adotada pelos
EUA para conter Teerã, que é a
formação de uma aliança com a
participação de países sunitas,
encabeçados pelos sauditas, e
Israel", disse Sick, hoje professor da Universidade Columbia,
nos EUA.
Com agências internacionais
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