|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Conflito nuclear regional mataria milhões, diz estudo
Cientistas avaliaram impacto humano e ambiental
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
O planeta deixou de correr o
risco de uma guerra nuclear
global entre as antigas superpotências, EUA e União Soviética, mas um novo risco ronda a
sobrevivência da espécie: os
conflitos nucleares regionais.
Segundo pesquisadores americanos, mesmo conflitos entre
os menos bem dotados do clube
atômico poderão causar mortes aos milhões; e as conseqüências ambientais poderão
matar indiretamente outros
tantos milhões.
O estudo mais recente sobre
o tema está publicado na edição
de hoje da revista científica
americana "Science" pela equipe de Owen P. Toon, chefe do
Departamento de Ciências
Oceânicas e Atmosféricas da
Universidade do Colorado.
Toon e colegas partiram de
uma premissa razoável: que um
conflito regional entre países
como Paquistão e Índia, ou Coréia do Norte, Irã e seus desafetos, não envolveria as poderosas armas termonucleares, ou
"bombas de hidrogênio", do arsenal das superpotências, mas
sim bombas atômicas simples,
similares àquelas usadas pelos
americanos contra as cidades
japoneses de Hiroshima e Nagasaki em 1945.
A bomba-A se baseia na divisão (fissão) de átomos de elementos pesados como urânio e
plutônio. Uma bomba como a
de Hiroshima teria o poder de
15 mil toneladas do explosivo
TNT (ou 15 quilotons). Há um
limite prático para essas bombas, de dezenas de quilotons.
Já a bomba-H se baseia na fusão de átomos leves. Os limites
são bem maiores. O arsenal da
antiga União Soviética tinha
bombas de até 3 megatons (ou
seja, 3.000 quilotons).
Irã
Toon e colegas não entram
em detalhes sobre os motivos
de um conflito regional nuclear. Eles queriam saber o que
aconteceria se dois países "trocassem" bombardeios de 50
bombas de 15 quilotons cada
um. Por que esse número? "Escolhemos esse número porque
países como Índia e Paquistão
têm entre 110 a 180 dessas armas, o que o torna um número
plausível", disse Toon à Folha.
"É possível com um reator
moderno criar plutônio suficiente para produzir cerca de
50 bombas por ano. Eu imagino que o Irã terá umas 50 armas nucleares em torno de
uma década. Israel certamente
tem mais. Em uma guerra, eles
provavelmente usariam todas
as armas que têm", acrescenta.
Ele e mais cinco colegas estudaram o que aconteceria se
esse padrão de conflito atingisse outros países, mesmo alguns
que hoje não têm a bomba, ou
deixaram claro que não a terão.
Vários fatores, como a disponibilidade de combustível nas
cidades (para alimentar os incêndios) ou a densidade demográfica afetariam o resultado.
Megacidades seriam alvos preferenciais. Teerã teria mais de
2,5 milhões de mortos, mais ou
menos o que São Paulo teria.
"Há plutônio suficiente em
reatores comerciais no mundo
para 100 mil bombas", diz.
Os pesquisadores citam os
acordos entre Brasil e Argentina nos anos 90 pondo fim à rivalidade nuclear como um bom
exemplo a ser seguido.
"Nós agora mostramos que
os EUA e a Rússia seriam severamente afetados por uma pequena guerra nuclear entre potências menores", disse à Folha outro membro da equipe,
Alan Robock, pesquisador do
Departamento de Ciências
Ambientais da Universidade
Rutgers, Nova Jersey.
"Temos esperança de que isso convença o mundo a reduzir
os arsenais nucleares e controlar com muito mais rigidez os
que sobrarem."
Texto Anterior: Sob tensão regional, líder do Irã vai à Arábia Saudita Próximo Texto: Crise com Pyongyang se baseou em dado falho Índice
|