São Paulo, sexta-feira, 02 de março de 2007

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Conflito nuclear regional mataria milhões, diz estudo

Cientistas avaliaram impacto humano e ambiental

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

O planeta deixou de correr o risco de uma guerra nuclear global entre as antigas superpotências, EUA e União Soviética, mas um novo risco ronda a sobrevivência da espécie: os conflitos nucleares regionais.
Segundo pesquisadores americanos, mesmo conflitos entre os menos bem dotados do clube atômico poderão causar mortes aos milhões; e as conseqüências ambientais poderão matar indiretamente outros tantos milhões.
O estudo mais recente sobre o tema está publicado na edição de hoje da revista científica americana "Science" pela equipe de Owen P. Toon, chefe do Departamento de Ciências Oceânicas e Atmosféricas da Universidade do Colorado.
Toon e colegas partiram de uma premissa razoável: que um conflito regional entre países como Paquistão e Índia, ou Coréia do Norte, Irã e seus desafetos, não envolveria as poderosas armas termonucleares, ou "bombas de hidrogênio", do arsenal das superpotências, mas sim bombas atômicas simples, similares àquelas usadas pelos americanos contra as cidades japoneses de Hiroshima e Nagasaki em 1945.
A bomba-A se baseia na divisão (fissão) de átomos de elementos pesados como urânio e plutônio. Uma bomba como a de Hiroshima teria o poder de 15 mil toneladas do explosivo TNT (ou 15 quilotons). Há um limite prático para essas bombas, de dezenas de quilotons.
Já a bomba-H se baseia na fusão de átomos leves. Os limites são bem maiores. O arsenal da antiga União Soviética tinha bombas de até 3 megatons (ou seja, 3.000 quilotons).

Irã
Toon e colegas não entram em detalhes sobre os motivos de um conflito regional nuclear. Eles queriam saber o que aconteceria se dois países "trocassem" bombardeios de 50 bombas de 15 quilotons cada um. Por que esse número? "Escolhemos esse número porque países como Índia e Paquistão têm entre 110 a 180 dessas armas, o que o torna um número plausível", disse Toon à Folha.
"É possível com um reator moderno criar plutônio suficiente para produzir cerca de 50 bombas por ano. Eu imagino que o Irã terá umas 50 armas nucleares em torno de uma década. Israel certamente tem mais. Em uma guerra, eles provavelmente usariam todas as armas que têm", acrescenta.
Ele e mais cinco colegas estudaram o que aconteceria se esse padrão de conflito atingisse outros países, mesmo alguns que hoje não têm a bomba, ou deixaram claro que não a terão.
Vários fatores, como a disponibilidade de combustível nas cidades (para alimentar os incêndios) ou a densidade demográfica afetariam o resultado. Megacidades seriam alvos preferenciais. Teerã teria mais de 2,5 milhões de mortos, mais ou menos o que São Paulo teria.
"Há plutônio suficiente em reatores comerciais no mundo para 100 mil bombas", diz.
Os pesquisadores citam os acordos entre Brasil e Argentina nos anos 90 pondo fim à rivalidade nuclear como um bom exemplo a ser seguido.
"Nós agora mostramos que os EUA e a Rússia seriam severamente afetados por uma pequena guerra nuclear entre potências menores", disse à Folha outro membro da equipe, Alan Robock, pesquisador do Departamento de Ciências Ambientais da Universidade Rutgers, Nova Jersey.
"Temos esperança de que isso convença o mundo a reduzir os arsenais nucleares e controlar com muito mais rigidez os que sobrarem."


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