São Paulo, sexta-feira, 02 de março de 2007

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Crise com Pyongyang se baseou em dado falho

DAVID E. SANGER
WILLIAM J. BROAD
DO "NEW YORK TIMES" EM WASHINGTON

Em outubro do ano passado, os norte-coreanos testaram seu primeiro aparato bélico nuclear, fruto de décadas de trabalho para produzir uma bomba com plutônio. Por quase cinco anos, no entanto, o governo Bush, com base em estimativas dos serviços de informações, acusou a Coréia do Norte de estar desenvolvendo também, em sigilo, uma bomba feita de urânio enriquecido. A acusação, apresentada no final de 2002, resultou na ruptura de um relacionamento já tenso. Os EUA suspenderam a remessa de petróleo à Coréia do Norte, e os norte-coreanos reagiram expulsando do país os inspetores nucleares, construindo seu arsenal de bombas de plutônio e, por fim, conduzindo o primeiro teste com uma delas.
Agora, representantes dos serviços de informação americanos estão abrandando publicamente a sua posição, admitindo que existem dúvidas quanto ao grau de progresso do programa norte-coreano de enriquecimento de urânio. A revelação pública das dúvidas das agências de inteligência aconteceu quase que acidentalmente. Em audiência no Comitê das Forças Armadas do Senado, Joseph deTranni, um veterano agente de inteligência, disse ao senador Jack Reed, de Rhode Island, que "continuamos a crer que o programa exista, mas é um nível médio de confiança" -nível médio de confiança quer dizer que "a informação é interpretada de diversas maneiras, há opiniões alternativas", ou os dados não foram corroborados. "O governo parece ter tomado uma decisão muito dispendiosa, que resultou em quadruplicação do arsenal nuclear norte-coreano", disse o senador Reed em uma entrevista na última quarta-feira.
Dois funcionários do governo, que não permitiram que seus nomes fossem mencionados, sugeriram que, se o governo tivesse em 2002 as mesmas dúvidas que tem hoje, a estratégia de negociação com a Coréia do Norte poderia ter sido diferente e as represálias mútuas que conduziram ao teste nuclear de outubro talvez tivessem sido evitadas. O indício mais forte na avaliação original era a venda pelo Paquistão à Coréia do Norte de mais de 20 centrífugas.
Funcionários americanos temiam que os norte-coreanos viessem a usar essas centrífugas como modelos para construir um vasto complexo de enriquecimento de urânio. Mas, em entrevistas realizadas nesta semana, especialistas do governo e da iniciativa privada afirmaram que, desde então, não há muitos indícios de aquisições norte-coreanas que confirmem esses temores. A persistência das dúvidas legou o gabinete do Diretor da Inteligência Nacional, na quarta-feira, a divulgar parte de um relatório de atualização, recentemente distribuído aos principais líderes da segurança nacional, acerca da situação do programa de urânio da Coréia do Norte.
A avaliação, lida por dois funcionários importantes dos serviços de inteligência, que também pediram para ter os nomes omitidos, era a de que, embora as agências estejam certas de que as aquisições iniciais de material tenham acontecido, a confiança quanto à existência do programa parece se ter reduzido ao longo dos anos, aparentemente de elevada a moderada.


TRADUÇÃO DE PAULO MIGLIACCI


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