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Crise com Pyongyang se baseou em dado falho
DAVID E. SANGER
WILLIAM J. BROAD
DO "NEW YORK TIMES"
EM WASHINGTON
Em outubro do ano passado,
os norte-coreanos testaram seu
primeiro aparato bélico nuclear, fruto de décadas de trabalho para produzir uma bomba com plutônio.
Por quase cinco anos, no entanto, o governo Bush, com base em estimativas dos serviços
de informações, acusou a Coréia do Norte de estar desenvolvendo também, em sigilo,
uma bomba feita de urânio
enriquecido. A acusação, apresentada no final de 2002, resultou na ruptura de um relacionamento já tenso. Os EUA suspenderam a remessa de petróleo à Coréia do Norte, e os norte-coreanos reagiram expulsando do país os inspetores nucleares, construindo seu arsenal de bombas de plutônio e,
por fim, conduzindo o primeiro
teste com uma delas.
Agora, representantes dos
serviços de informação americanos estão abrandando publicamente a sua posição, admitindo que existem dúvidas
quanto ao grau de progresso do
programa norte-coreano de
enriquecimento de urânio.
A revelação pública das dúvidas das agências de inteligência
aconteceu quase que acidentalmente. Em audiência no Comitê das Forças Armadas do Senado, Joseph deTranni, um veterano agente de inteligência,
disse ao senador Jack Reed, de
Rhode Island, que "continuamos a crer que o programa exista, mas é um nível médio de
confiança" -nível médio de
confiança quer dizer que "a informação é interpretada de diversas maneiras, há opiniões
alternativas", ou os dados não
foram corroborados.
"O governo parece ter tomado uma decisão muito dispendiosa, que resultou em quadruplicação do arsenal nuclear
norte-coreano", disse o senador Reed em uma entrevista na
última quarta-feira.
Dois funcionários do governo, que não permitiram que
seus nomes fossem mencionados, sugeriram que, se o governo tivesse em 2002 as mesmas
dúvidas que tem hoje, a estratégia de negociação com a Coréia
do Norte poderia ter sido diferente e as represálias mútuas
que conduziram ao teste nuclear de outubro talvez tivessem sido evitadas.
O indício mais forte na avaliação original era a venda pelo
Paquistão à Coréia do Norte de
mais de 20 centrífugas.
Funcionários americanos temiam que os norte-coreanos
viessem a usar essas centrífugas como modelos para construir um vasto complexo de
enriquecimento de urânio.
Mas, em entrevistas realizadas
nesta semana, especialistas do
governo e da iniciativa privada
afirmaram que, desde então,
não há muitos indícios de aquisições norte-coreanas que confirmem esses temores.
A persistência das dúvidas legou o gabinete do Diretor da
Inteligência Nacional, na quarta-feira, a divulgar parte de um
relatório de atualização, recentemente distribuído aos principais líderes da segurança nacional, acerca da situação do programa de urânio da Coréia do
Norte.
A avaliação, lida por dois funcionários importantes dos serviços de inteligência, que também pediram para ter os nomes
omitidos, era a de que, embora
as agências estejam certas de
que as aquisições iniciais de
material tenham acontecido, a
confiança quanto à existência
do programa parece se ter reduzido ao longo dos anos, aparentemente de elevada a moderada.
TRADUÇÃO DE PAULO MIGLIACCI
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