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ANÁLISE
Tribunal local pode ser escala para Haia
SÉRGIO MALBERGIER
EDITOR DE MUNDO
O ex-ditador iugoslavo Slobodan Milosevic foi responsável, direta ou indiretamente, pelas
maiores atrocidades cometidas
na Europa desde o final da Segunda Guerra Mundial (1939-45).
Usou o histórico e arraigado nacionalismo sérvio para manter-se
no poder ao longo dos anos 90,
durante o desmantelamento da
Iugoslávia, inspirando ou comandando guerras que deixaram centenas de milhares de mortos na
Croácia (91), na Bósnia (92-95) e
em Kosovo (99).
Mas sua prisão só ocorreu, na
madrugada de ontem, por causa
de uma lei aprovada pelo Congresso dos EUA condicionando a
ajuda à Iugoslávia à cooperação
do novo governo do país com o
tribunal da ONU que quer julgar
Milosevic por crimes de guerra
em Kosovo.
A prisão é um dos maiores trunfos da "nova ordem mundial"
proclamada pelo então presidente dos EUA, George Bush (pai do
atual presidente), no início dos
anos 90, após o colapso da União
Soviética.
Em um mundo unipolar, com
Washington como potência hegemônica, foi uma lei norte-americana, aprovada por congressistas
eleitos em seus Estados por suas
posições em relação a assuntos localizados, que selou o fim do mais
sanguinário líder europeu da segunda metade do século.
Ao aceitar o prazo estabelecido
por Washington para agir contra
seu antecessor, o presidente iugoslavo, Vojislav Kostunica, um
nacionalista sérvio moderado, foi
pragmático. Preferiu correr o risco de detonar as últimas balas dos
aliados de Milosevic a perder a indispensável ajuda econômica externa.
Ao longo das 36 horas de impasse que acabaram com a rendição
de Milosevic, comentaristas fizeram alusões a Hitler e ao criminoso norte-americano Al Capone.
Milosevic acabaria como o primeiro, suicidando-se em desgraça em seu bunker, ou como o segundo, a quem eram atribuídos
vários assassinatos e crimes violentos, mas que acabou na cadeia
por sonegação de impostos.
Do jeito que está, parece mais
como Al Capone, já que está enfrentando acusações na Justiça iugoslava de crimes financeiros
contra o Estado.
Mas, com os EUA e países europeus dizendo que a prisão de ontem foi apenas o primeiro passo
rumo à entrega de Milosevic ao
tribunal internacional da ONU, é
possível que o julgamento iugoslavo sirva para expor em detalhes
à população do país os crimes cometidos pelo ex-ditador e sua
gangue. Desmoralizado e desmascarado mesmo entre seus
poucos simpatizantes que restam,
seria mais fácil mandá-lo para o
tribunal de Haia.
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