São Paulo, segunda-feira, 02 de abril de 2001

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TENSÃO NO AR
Aeronave de espionagem dos EUA tocou caça chinês que ia interceptá-lo no mar do Sul da China e o derrubou

Choque entre aviões gera crise EUA-China

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Um avião de espionagem da Marinha americana e um caça chinês que tentava interceptá-lo se tocaram ontem quando sobrevoavam o mar do Sul da China.
O avião dos EUA conseguiu fazer um pouso de emergência, sem autorização, em uma base militar na ilha de Hainan, na China, informou o coronel John Bratton, porta-voz do Comando Pacífico dos EUA no Havaí. "Nenhum dos 24 tripulantes se feriu", disse.
O caça chinês, contudo, caiu no mar e ainda estava desaparecido, assim como o piloto, informou o governo chinês.
O EP-3 -um avião de quatro motores equipado para escutar sinais de rádio e monitorar radares- estava "em missão de rotina em espaço aéreo internacional quando dois caças chineses tentaram interceptá-lo", disse Bratton. "Então o EP-3 embicou abruptamente, e seu nariz e sua asa esquerda tocaram em um dos caça chineses, provocando sua queda", disse Bratton. "Mas a colisão parece ter sido mesmo um acidente", complementou.
Contudo, em uma declaração veiculada pela TV estatal chinesa, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do país culpou o EP-3 pelo acidente. "Nosso caça estava em vôo normal quando o avião americano subitamente embicou em sua direção e o tocou." O porta-voz disse que a China fará "um protesto solene" e se reserva o direito de exigir reparações.
Para Yan Xuetong, especialista em estudos internacionais da Universidade Tsinghua, de Pequim, "é muito comum aviões dos EUA invadirem o espaço aéreo chinês". "Os chineses então enviam caças que os expulsam."
A colisão ocorreu a cerca de 100 km a sudoeste de Hainan, uma ilha perto da costa sul da China repleta de bases militares devido à proximidade com o Vietnã e as ilhas Spratly, reivindicadas pela China e outros cinco países.
O EP-3, que decolara da base japonesa de Kadena, em Okinawa, foi obrigado a pousar em uma base aérea militar em Lingshui, uma cidade no sul de Hainan.
O porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer, disse que os EUA esperam que a China entregue o avião e os 24 tripulantes. "Essa é a nossa expectativa. Essa é a prática habitual. Esperamos que eles a sigam."
O incidente envolvendo os dois aviões ameaça provocar mais uma rusga nas já turbulentas relações entre China e EUA.
Em maio de 1999, um bombardeio da Otan (aliança militar ocidental) em Belgrado, na Iugoslávia, atingiu a embaixada da China, matando três jornalistas chineses. A Otan se desculpou, mas o governo chinês disse que foi um ato deliberado.
As relações se tornaram mais tensas depois que George W. Bush assumiu a Presidência, em janeiro. Bush afirmou que pretende substituir o conceito de "parceria estratégica" adotado por Bill Clinton em relação à China pelo de "competição estratégica". Em fevereiro, o governo dos EUA disse que pedirá uma moção de condenação à China na Comissão de Direitos Humanos da ONU, que está ocorrendo em Genebra. Recentemente, dois professores chineses com ligações com os EUA foram presos na China. Os EUA podem ainda anunciar em breve a venda de quatro aviões de guerra a Taiwan, ilha que Pequim chama de "Província rebelde".



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