São Paulo, sexta-feira, 02 de abril de 2010

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Papa pede "exame de consciência" a católicos

Durante comemorações da Semana Santa, Bento 16 evita, no entanto, citar abusos de menores cometidos por sacerdotes

Bispos de vários países, porém, saem em defesa do papa, a quem veem como vítima de uma campanha difamatória da imprensa

DA REDAÇÃO

Em sermão durante as comemorações da Semana Santa, o papa Bento 16 disse ontem que os católicos são chamados a fazer um "constante exame de consciência", mas evitou mencionar as denúncias de abusos contra menores das quais a Igreja Católica tem sido alvo nas últimas semanas.
A cerimônia na basílica de São João de Latrão, na qual o pontífice lavou os pés de 12 sacerdotes, simboliza humildade e a última ceia de Jesus Cristo com seus 12 apóstolos na noite anterior a sua crucificação.
Durante a celebração, Bento 16 disse que Jesus "nos desafiou a um constante exame de consciência". "Nesta hora, o Senhor está nos perguntando: vocês estão vivendo por meio da fé, em comunhão comigo e em consequência em comunhão com Deus?", disse. "Ou estão vivendo para si mesmos e, portanto, longe da fé?"
Mais cedo, o papa havia feito um sermão na basílica de São Pedro no qual muitos religiosos acreditavam que, por se tratar de uma homenagem a padres, iria mencionar os escândalos de pedofilia. Mas, sem ser específico, Bento 16 apenas afirmou que, "como bons cidadãos", os cristãos devem "seguir a lei e fazer o que é justo e bom".
O papa disse ainda que Jesus Cristo, "apesar de ser coberto de insultos, não insultava". "Maltratado, Ele não ameaçava com vinganças, pois confiava Naquele que julga com justiça", afirmou. Setores da igreja vêm denunciando o que veem como uma campanha de difamação contra o pontífice.
A Europa foi atingida nas últimas semanas por uma série de denúncias sobre abusos cometidos por sacerdotes. Em um deles, na Alemanha natal do papa, a igreja admitiu "erros" na Arquidiocese de Munique nas décadas de 1970 e 1980, quando era dirigida pelo então bispo Joseph Ratzinger. Os casos atingiram ainda os EUA, Holanda, Áustria e Suíça, além da Irlanda, a cujos fiéis o papa escreveu carta há duas semanas pedindo perdão por uma série de abusos ao longo de seis décadas revelada em 2009.
Algumas vítimas exigem que o papa assuma a responsabilidade do suposto acobertamento dos abusos pela igreja, com práticas como a transferência de padres pedófilos para outras congregações após eles terem sido alvos de denúncias de estupros ou outros abusos sexuais contra menores.
Em um processo nos EUA, advogados de vítimas trabalham para que Bento 16 testemunhe. Ontem, porém, em uma entrevista ao jornal italiano "Corriere della Sera", o chefe do tribunal do Vaticano, Giuseppe dalla Torre, esclareceu que isso não pode acontecer porque o papa tem imunidade como chefe de Estado.
Apesar do silêncio de Bento 16, diversos religiosos saíram ontem em sua defesa. O arcebispo de Veneza, cardeal Angelo Scola, o elogiou por seu trabalho de tentar remover toda a "sujeira" do sacerdócio e expressou solidariedade ao papa, descrevendo-o como vítima de "acusações enganosas".
Já o arcebispo de Varsóvia, Kazimierz Nycz, disse que a igreja deve tomar conhecimento e tratar casos de abuso sexual muito seriamente. Ao mesmo tempo, criticou a mídia por "atacar toda a igreja, atacar o papa, e a isso devemos dizer "não" em nome da verdade e em nome da justiça".
Outros bispos, porém, têm aproveitado a Semana Santa para pedir a seus sacerdotes e padres que façam mais para combater abusos sexuais.
No México, o arcebispo Norberto Rivera advertiu os clérigos que não acobertará quem cometer atos "abomináveis".
Com agências internacionais


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