São Paulo, quinta-feira, 02 de maio de 2002

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ORIENTE MÉDIO

O secretário-geral Kofi Annan tomou a decisão após exigências israelenses para a entrada da equipe na região

ONU desmantela a missão para Jenin

DA REDAÇÃO

O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, decidiu ontem desmantelar a missão para investigar o que aconteceu durante a ofensiva israelense no campo de refugiados palestinos de Jenin (Cisjordânia), entre os dias 3 e 11 de abril.
A decisão foi tomada após Israel fazer várias exigências para que a missão iniciasse seus trabalhos. Annan enviou uma carta para o Conselho de Segurança afirmando que a equipe montada no mês passado será desmantelada.
"Parece evidente que a equipe não terá condições de ir à área [campo de Jenin" para iniciar a missão em um futuro próximo", disse Annan, pedindo desculpas ao Conselho de Segurança por não ter condições de prover informações sobre a ação israelense.
O secretário-geral salientou ainda que o tempo é "um fator crítico". "Com a situação no campo de Jenin mudando a cada dia, será difícil estabelecer com certeza como foram os eventos. Por essa razão, decidi desmantelar a missão", afirmou.
O Conselho de Segurança havia aprovado, com apoio dos EUA, uma resolução que apoiava a idéia da missão, lançada por Annan. No início, os israelenses aceitaram a investigação, afirmando que não havia nada para esconder. Depois, disseram que a equipe selecionada mostraria uma disposição prévia de condenar o país. Israel delineou anteontem seis condições para permitir a entrada da equipe, como o direito de rejeitar pedidos para investigar soldados e de impedir acesso a documentos do governo.
Para Israel, seria necessária a inclusão de militares e especialistas em terrorismo na equipe.
Segundo os palestinos, o campo de refugiados de Jenin foi palco de um massacre, com a morte de centenas de palestinos. Israel diz que o que aconteceu em Jenin foi a mais dura batalha de sua "ofensiva contra o terrorismo" na Cisjordânia, com a morte de 45 palestinos armados e sete civis, além de 23 soldados israelenses. Israel acrescenta que 26 atentados contra israelenses foram lançados a partir do campo de Jenin, que chamava de "fábrica de terroristas suicidas".
Durante a incursão israelense no campo, foi proibida a entrada de jornalistas e de membros de organizações humanitárias.
Analistas consideram improvável que o cancelamento da missão traga sanções contra Israel. De acordo com uma autoridade norte-americana, o Conselho de Segurança não concedeu um mandato de inquérito para a missão, apenas apoiou a iniciativa de Annan, o que não torna a investigação obrigatória.
Segundo a imprensa israelense, Israel teria aceito a proposta dos EUA para encerrar o confinamento de Iasser Arafat em Ramallah (leia texto ao lado) em troca do apoio americano na ONU para barrar qualquer sanção ao país no caso de Jenin.
"Lamentamos que não foi possível um acordo [sobre Jenin"", disse ontem o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Richard Boucher. Ele disse que seu país ainda apóia a investigação no campo. "Nós continuamos considerando importante determinar o que aconteceu em Jenin. Estamos trabalhando com a ONU", disse ele.
Até agora, segundo hospital de Jenin, 52 corpos de palestinos foram encontrados no campo. A agência de notícias Associated Press diz que 48 já teriam sido resgatados.
"O fim da missão foi um choque para os palestinos e para todos aqueles que acreditam em direitos humanos", disse Ahmed Abdel Rahman, secretário de gabinete palestino. "O que aconteceu em Jenin foi um crime diante dos olhos de todo o mundo", afirmou ele.


Com agências internacionais


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