São Paulo, domingo, 02 de maio de 2004

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AMÉRICA LATINA

Plano Patriota coincide com investida eleitoral de Uribe e prevê tomada de Departamentos dominados por rebeldes

Colômbia lança megaofensiva contra Farc

FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO

Próximo da metade do seu mandato, o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, pôs em marcha dois projetos ambiciosos, que devem ocupar o noticiário do país nos próximos meses e anos.
No plano político, Uribe centra todos os esforços no Congresso para aprovar uma reforma constitucional que lhe dê direito à reeleição (leia texto nesta página).
No conflito armado, o Exército já deu início ao Plano Patriota, considerado a maior ofensiva militar contra as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), guerrilha terrorista de esquerda que há 40 anos promove uma insurgência armada contra o Estado. Ao menos 200 mil pessoas morreram diretamente em razão do conflito.
Apesar de supostamente estar em andamento, o Plano Patriota -uma espécie de complementação militar do Plano Colômbia- foi revelado em detalhes pela imprensa do país apenas na semana passada. Justamente quando começava a tramitar no Congresso a emenda da reeleição.
O influente jornal "El Tiempo" citou fontes anônimas do governo para descrever o Plano Patriota como "a mais ambiciosa ofensiva militar em que o governo colombiano se envolveu em toda a sua história".
O objetivo do plano de Uribe consiste em utilizar de 14 mil a 16 mil militares para ocupar quatro Departamentos (Estados) do sul com amplo domínio das Farc e, em menor grau, do ELN (Exército de Libertação Nacional). Algumas dessas regiões estão sob controle dos grupos terroristas de esquerda há cerca de 20 anos.
Em entrevista à Folha, o ex-ministro da Defesa (1991-94) e senador uribista Rafael Pardo confirmou que a operação teve início em dezembro passado e deve durar "dois ou três anos".
Segundo Pardo, todo o efetivo do Plano Patriota já está no sul do país. "Há bases muito grandes já operando nessa região."

Ajuda americana
Conforme afirma o "El Tiempo", a ação militar contra as Farc conta com o "apoio entusiasmado" do general James Hill, chefe do Comando Sul das Forças Armadas americanas. Ele teria participado de ao menos dez reuniões com oficiais colombianos para discutir o assunto.
Washington já teria reservado US$ 110 milhões para o plano somente neste ano e se comprometido a dar mais recursos para pelo menos três anos de ofensiva.
No final de março, Uribe viajou a Washington para assegurar mais ajuda do presidente George W. Bush, que prometeu enviar ao Congresso um pedido para aumentar o número máximo de "assessores" do governo americano na Colômbia de 400 para 800 militares e de 400 para 600 civis.
Para o senador Pardo, no entanto, esse pedido tem relação apenas com o Plano Colômbia. "O Plano Patriota é interno, não tem a ver com o programa de cooperação com os Estados Unidos."
O Plano Colômbia é um programa de ajuda financeira dos Estados Unidos desenhado para combater os cultivos de coca no país. Desde 2000, Washington já enviou cerca de US$ 2,5 bilhões ao país andino. A Colômbia é o terceiro país que mais recebe ajuda financeira americana -atrás apenas de Israel e do Egito.

Força pequena
Para o analista militar Alfredo Rangel, que preside a ONG Segurança e Democracia, a ação provocará sérios danos às Farc, ainda que a Colômbia tenha um déficit histórico de efetivo.
"O número é sempre insuficiente. A Colômbia deveria ter pelo menos o dobro dos soldados que tem agora", disse Rangel à Folha, com a experiência de ter sido assessor presidencial de Segurança Nacional (1998-2002).
Pardo concorda: "Colocar 14 mil homens em 300 mil km2 não é uma presença esmagadora".
Para o senador, não há previsão de aumento do efetivo. "Já houve um aumento grande [de soldados] nos últimos dois anos, mas é muito difícil aumentar mais porque não há recursos."
Sobre a violência do conflito, Rangel prevê que haja mais mortos em combate, mas, por outro lado, que caia o número de vítimas civis.
"[Com Uribe] tem havido um número maior de combatentes mortos, tanto guerrilheiros como paramilitares e soldados, mas também houve uma redução da violência comum. Creio que o Plano Patriota acentuará essa tendência", disse o analista.
Embora critique a proposta de reeleição, a oposição apóia a política de segurança de Uribe. Ouvido pela Folha, o senador Antonio Navarro Wolff, do partido de esquerda Pólo Democrático Independente e ex-dirigente da guerrilha esquerdista M-19, desmobilizada em 1990, disse: "Nós acreditamos no diálogo para resolver o conflito, mas, enquanto ele não ocorre, é dever do Estado proteger seu território".


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