São Paulo, segunda-feira, 02 de maio de 2011

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Papa beatifica antecessor, o "gigante" João Paulo 2º

1,5 milhão acompanham cerimônia no Vaticano, 500 mil além do esperado

Próximo passo é o papa, morto em 2005, ser canonizado, o que ainda requer a comprovação de um novo milagre

IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A ROMA

O papa João Paulo 2º foi beatificado ontem em uma missa para 1,5 milhão de fiéis, 500 mil a mais que o esperado por Roma e sob um inesperado sol forte.
Foi chamado de "gigante" pelo sucessor, Bento 16, que comemorou o que chamou de resgate feito pelo papa da esperança das mãos do comunismo.
O clima, contudo, foi mais de emoção contida do que de arroubos semelhantes aos ocorridos no velório e funeral de Karol Wojtyla, morto aos 84 anos em 2005.
Houve alguns gritos e agitar de faixas pedindo "santo subito" ("santo já", em italiano) quando, às 10h37 (5h37 em Brasília), Bento declarou que "o venerável servo de Deus João Paulo 2º, papa, de agora em diante seja chamado beato".
Mas o aplauso foi mais forte, assim como foram eficazes os dois pedidos do papa por uma oração silenciosa. Só era possível ouvir o mar de bandeiras, a maioria da Polônia e quase nenhuma brasileira, balançando.
Muitas pessoas choravam. "Ele já é santo", dizia uma freira polonesa de um grupo vindo de Gdansk, apontando para a tapeçaria reproduzindo uma foto de 1995 do papa que foi desvelada na frente da basílica de São Pedro.
Bento 16, que para especialistas vê na beatificação uma chance de reverter a má imagem externa de seu papado, concorda com a freira. E respondeu na homilia a quem criticou a velocidade recorde da beatificação.
"Já naquele dia [do funeral] sentíamos pairar o perfume da sua santidade, tendo o povo de Deus manifestado de muitas maneiras a sua veneração por ele. Por isso, quis que a sua causa de beatificação pudesse, no devido respeito pelas normas da igreja, prosseguir com discreta celeridade. E o dia esperado chegou! Chegou depressa, porque assim aprouve ao Senhor: João Paulo 2º é beato!", disse, sob aplausos.

GUIA DO POVO
Bento 16 fez uma reflexão sobre o papa, um dos responsáveis pelo fim do comunismo no Leste Europeu, ao incentivar a oposição sindical de sua Polônia natal -o líder daquele movimento, Lech Walesa, era convidado de honra ontem.
Disse o papa que Wojtyla tornou-se pontífice em 1978 "trazendo consigo a sua reflexão profunda sobre a confrontação entre o marxismo e o cristianismo, centrada no homem".
"Foi o guia do povo de Deus ao cruzar o limiar do terceiro milênio. Aquela carga de esperança que de certo modo fora cedida ao marxismo e à ideologia do progresso João Paulo 2º legitimamente reivindicou-a para o cristianismo".
Quando era responsável pela doutrina católica na era Wojtyla, o então cardeal Joseph Ratzinger promoveu o conservadorismo.
Acabou com o poder, grande na América Latina, da Teologia da Libertação -a qual acusou de servir ao Anticristo, por comparar Jesus a revolucionários de inspiração marxista, inferindo aprovação da violência.
Papa, Ratzinger centra fogo no relativismo cultural. Lembrando das célebres palavras do antecessor em sua posse ("Não tenhais medo! Abri, melhor, escancarai as portas a Cristo"), o pontífice disse: "[Ele] abriu a Cristo a sociedade, a cultura, os sistemas políticos e econômicos, invertendo, com a força de um gigante -força que vinha de Deus-, uma tendência que parecia irreversível".
O papa falou da fé do antecessor pela Virgem Maria e seu papel em encaminhar as modernizações do Concílio Vaticano 2º (1962-65).


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