São Paulo, segunda-feira, 02 de maio de 2011

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Beatificar papas traz risco de politização, afirma vaticanista

Para o escritor John Allen Jr., privilegiar alguns papas inevitavelmente levanta essa questão

Segundo ele, João Paulo 2º está sendo afetado por um processo de simplificação do rito que implantou em 1983

DO ENVIADO A ROMA

Beatificar um papa é um processo que inevitavelmente parece político, mas o caso de João Paulo 2º tem características especiais pelo fato de ele ser visto como santo em todo o mundo católico.
A opinião é do vaticanista John Allen Jr., 45, correspondente em Roma do "National Catholic Reporter", que colabora com redes como a CNN.
Ele é autor de vários livros sobre o catolicismo, inclusive duas biografias de Joseph Ratzinger (antes e depois de ele virar Bento 16) e "Opus Dei" (ed. Campus), sobre a ordem conservadora da igreja.
(IGOR GIELOW)

 

Folha - Qual sua opinião sobre a beatificação?
John Allen Jr.
- Como um jornalista, eu posso dizer que a santidade é supostamente o processo mais democrático na Igreja Católica, começando pela convicção popular de que tal pessoa é um santo. No caso de João Paulo 2º, parece haver muita evidência de que católicos pelo mundo todo pensam isso dele.

Há muita crítica sobre essa via rápida. O sr. vê problemas com isso? Isso permitiria, por exemplo, críticas como a de que haveria santos "mais santos" que outros?
Críticos iriam levantar questões de qualquer jeito. Nós devemos entender, contudo, que João Paulo 2º mudou o sistema de santificação em 1983 justamente para o fazer mais rápido, mais fácil e mais barato, visando buscar modelos contemporâneos de santidade. Nesse sentido, sua beatificação é um resultado natural de suas próprias políticas.

As vítimas de abusos cometidos por padres têm motivos para ver a beatificação como um problema?
Muitos sobreviventes de abusos sexuais por padres, e muitos outros horrorizados pelos escândalos, podem ver a beatificação como prematura, vindo antes da história completa sobre o comportamento de João Paulo no caso ser contada por inteiro. Alguns podem dizer que assim como a igreja desacelerou a santificação do papa Pio 12 por sensibilidade em relação a sobreviventes do Holocausto ainda vivos, deviam fazer o mesmo com João Paulo.

O sr. vê a beatificação como um processo político?
Eu não acho que os devotos de João Paulo entendam a beatificação como política, mas esse risco existe toda vez em que um papa está envolvido. Ou você canoniza todos os papas, o que iria desvalorizar o processo, ou você escolhe alguns. E isso inevitavelmente parece político -por que João Paulo 2º e não Paulo 6º, por exemplo?
Alguns especialistas realmente acham que é uma prática ruim beatificar ou santificar papas, especialmente porque um motivo para a formalização da santidade é oferecê-los como modelos para o mundo. E isso já foi feito quando foram eleitos.


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