São Paulo, segunda-feira, 02 de maio de 2011

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OPINIÃO

Não é um fato inédito o rito de canonização ter sido encurtado

FERNANDO ALTEMEYER JR.
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quem diria que na casa 2 da rua Rynek,em Wadowice, nasceria um santo? E que este santo seria papa? Um eslavo mantido atrás da cortina de ferro? O pequeno Lolek sofreu sob a bota nazista e a tirania do stalinismo. Sobrepujou a ambos.
Como as árvores da terra natal, vergadas pela neve, Wojtyla, não quebra. É um homem que vive da santidade de Deus, sorvendo-a de fontes cristalinas: a palavra de Deus; o exemplo do Cardeal Wyszynski; e a leitura da obra de são João da Cruz.
Neste 1º de Maio, memória dos 125 anos de luta da classe trabalhadora, um operário foi beatificado pelo atual Papa Bento 16, na festa litúrgica de São José Operário. Que coincidência celeste!
E no mês em que se rememoram os 120 anos da Encíclica Rerum Novarum, de Leão 13. Será que isto indica que vislumbramos um marco de renovada opção preferencial pelos pobres?
Não é inédito o prazo de canonização ter sido encurtado. Isto já ocorrera com Santo Antônio, canonizado em 1232, apenas 11 meses depois de sua morte.
Também não é inédito que um papa tenha sido canonizado pelo predecessor. Até o ano 530, quase todos eram canonizados, pois mártires por Cristo e pela Igreja.
É inédito que o primeiro papa polonês da história cristã seja beatificado, alterando a baixíssima estatística dos papas beatificados no segundo milênio.
Só cinco papas em dez séculos (Leão 9º, Gregório 7º, Celestino 5º, Pio 5º e Pio 10º).
O primeiro milênio viu nos altares 73 dos Papas. Esta beatificação é sinal de novo uso das sandálias de Pedro pescador, por um pastor que se fez servo dos pobres de Deus sob o signo da cruz na fiel pregação do Evangelho.
Nós cantamos ao papa Wojtyla em suas visitas: "A bênção, João de Deus". De jeito brasileiro já o canonizáramos antes de Roma. Assim também com o padre Cícero Romão Batista e o índio São Sepé Tiarajú.

AJUDA AO BRASIL
Esta beatificação enche de lágrimas nosso olhar. E de esperanças o coração.
Se houve tamanha celeridade para o homem de Deus ser reconhecido canonicamente e merecer aqui e agora a veneração eclesial, isto indica que em breve assistiremos o beato Wojtyla abrir as portas celestes para gente santa como ele: Marçal Tupa'i; Oscar Arnulfo Romero; Enrique Angelelli; Helder Pessoa Câmara; Santo Dias da Silva, irmãs Creuza, Dorothy e Adelaide; padres Josimo, Ezequiel, Ibiapina e Bartolomeu de Las Casas!
E o amado bispo Luciano Mendes de Almeida, articulista da Folha, que fecundou a humanidade com as palavras suaves do Cristo.
Com a beatificação de João Paulo, esta nuvem de santos protegerá o Brasil, que ainda sofre tantas tempestades que nos fazem sentir órfãos cá na terra. Por que não ter esta ajudinha do céu?
Afinal, este papa foi intérprete da grande tragicomédia da vida e é hoje participante da festa nos céus. Seu segredo: foi capaz de abrir seu coração todo para Deus.

FERNANDO ALTEMEYER JR. , mestre em teologia e doutor em ciências sociais, é professor de Ciências da Religião da PUC


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