São Paulo, domingo, 02 de junho de 2002

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9h00, 106º andar, torre norte, Uma hora e 28 minutos antes do desabamento

""O que fazemos? O que vamos fazer?"
De acordo com chefes e colegas de trabalho, Doris Eng, a gerente do restaurante, ligou repetidas vezes para o Centro de Comando de Combate a Incêndios, no saguão do edifício, fazendo a mesma pergunta. Minutos apenas após o impacto do avião, o restaurante já estava se enchendo de fumaça, e Doris estava lutando para liderar as 170 pessoas que tinha sob sua responsabilidade.
Muitas ganhavam a vida fornecendo informações ou equipamentos que as transmitem -eram especialistas em comunicações que participavam da conferência que estava tendo lugar no salão de bailes, naquela manhã. Mas, com a fumaça cada vez mais densa, sem eletricidade e com pouca idéia do que estava acontecendo, o restaurante estava rapidamente ficando isolado, com as pessoas lutando para conseguir informações picadas.
""Ligue na CNN", disse em e-mail enviado por equipamento portátil a sua mulher, Dorry, o cientista de computação Stephen Tompsett, que participava da conferência. ""Preciso de informação atualizada."
Imagens em vídeo gravadas por dois fotógrafos amadores mostram que a fumaça se adensou com velocidade aterrorizadora no alto do edifício, brotando de brechas nas janelas em nuvens mais densas do que nos andares mais próximos ao avião. Logo depois do impacto, Rajesh Mirpuri telefonou para sua empresa, a Data Synapse, tossindo, e disse que não conseguia enxergar mais longe do que três metros, recordaria mais tarde seu chefe, Peter Lee. O vendedor da Bloomberg Peter Alderman também contou a sua irmã sobre a fumaça, usando um comunicador portátil para enviar uma mensagem de e-mail: ""Estou com medo".
Doris Eng e os funcionários do Windows, seguindo a orientação dos treinamentos de emergência, conduziram as pessoas do 107º andar para um corredor no andar de baixo, próximo à escada, onde usaram um telefone especial para ligar para o Centro de Comando de Combate a Incêndios. A política do edifício era desocupar imediatamente o andar onde houvesse fogo e aquele logo acima. As pessoas que estavam mais distantes recebiam a orientação de sair apenas quando o centro de comando mandasse ou ""quando as condições ditarem tais ações".
Mas as condições estavam piorando rapidamente. Glenn Vogt, o gerente-geral do restaurante, contou que, 20 minutos depois do choque do avião, sua assistente, Christine Olender, telefonou para ele em sua casa. Quem atendeu foi sua mulher, disse Vogt, porque ele estava na rua, em frente ao WTC. Olender disse que eles não tinham recebido nenhuma orientação sobre como deixar o local. ""O teto está caindo", ela falou. ""O chão está levantando."
Vinte minutos depois do impacto, um helicóptero da polícia informou à sua base que não conseguiria aterrissar na cobertura do edifício. Mas muitas pessoas continuaram a esperar ser resgatadas de alguma maneira.
""Não posso ir para lugar nenhum, porque nos disseram para não sairmos do lugar", disse Ivhan Carpio, funcionário do Windows, numa mensagem que deixou na secretária eletrônica de sua prima. ""Tenho de aguardar os bombeiros."
Mas os bombeiros estavam lutando para responder aos apelos. Ninguém em Nova York jamais vira um incêndio daquelas dimensões -quatro ou cinco andares tinham começado a queimar em questão de segundos. Seus comandantes, no saguão, não tinham meios de saber se havia escadas com passagem livre. Com a maioria dos elevadores destruída, os bombeiros carregavam equipamento pesado escadas acima, enfrentando a enxurrada de pessoas que desciam. Uma hora depois do choque, ainda estavam 50 andares abaixo do Windows.
No térreo, as autoridades recebiam ligações dos andares superiores. ""Não havia muita coisa que a gente pudesse recomendar que fizessem, exceto molhar uma toalha e colocá-la sobre o rosto", disse Alan Reiss, ex-funcionário da prefeitura. Mas o avião tinha cortado o fluxo de água para os andares de cima. Um garçom do restaurante disse à mulher, pelo celular, que não conseguia encontrar água para molhar um pano e que procuraria nos vasos de flores.
A sala quase não tinha água e tinha pouco ar, mas não faltavam celulares ou comunicadores portáteis capazes de enviar e-mail. Usando esses aparelhos e algumas poucas linhas telefônicas que continuaram funcionando, pelo menos 41 pessoas no restaurante conseguiram falar com alguém fora do edifício.
Peter Mardikian, da Imagine Software, disse a sua mulher, Corine, que ia sair para chegar à cobertura e que não poderia falar por muito tempo, ela recordou. Outros esperavam para usar os poucos telefones que ainda estavam funcionando.
Garth Feeney ligou para a mãe, Judy, na Flórida. Ela o saudou animadamente, recordou mais tarde. ""Mãe", respondeu Feeney, ""não estou ligando para bater papo. Estou no World Trade Center, e um avião bateu no edifício."
Os modos calmos dos funcionários não conseguiam conter a tensão. Laurie Kane, cujo marido, Howard, era contador do restaurante, contou que, quando terminaram sua última conversa, ela ouviu alguém gritando ""estamos presos!". Gabriela Waisman, que participava da conferência, telefonou para sua irmã dez vezes em 11 minutos, desesperada para manter a conexão. Veronique Bowers, a gerente de cobrança de crédito do restaurante, ficou repetindo para sua avó, Carrie Tillman, que o prédio tinha sido atingido por uma ambulância. ""Ela estava tão confusa!", disse Tillman.


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