São Paulo, sexta-feira, 02 de junho de 2006

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LUIS GIAMPIETRI ROJAS

'Intromissão de Chávez no Peru é intolerável'

Para candidato a vice, García tem chance de corrigir erros que cometeu no poder

FABIANO MAISONNAVE

ENVIADO ESPECIAL A LIMA

Os frenéticos dias finais do segundo turno peruano, a ser decidido no próximo domingo, ainda não envolveram o contra-almirante aposentado Luis Giampietri Rojas, o candidato a vice-presidente de Alan García. Discreto ao longo da campanha e figura polêmica durante a guerra contra o Sendero Luminoso, dificilmente aparece em atos públicos e quase não concede entrevistas. O distanciamento de Giampietri contrasta com a cada vez mais agressiva troca de acusações entre García e seu adversário, Ollanta Humala. Ontem, a campanha do ex-presidente mostrou e-mails que comprovariam a ligação do candidato nacionalista com Vladimiro Montesinos, pivô do escândalo de corrupção que derrubou Alberto Fujimori, em 2000. Já Humala convocou uma entrevista coletiva ontem para denunciar a agressão de um líder regional por militantes do Apra, o partido de García. Os dois encerrariam a campanha ontem à noite, com comícios em Lima (García) e em Cuzco (Humala). Acusado continuamente de envolvimento em violações de direitos humanos na luta contra o Sendero, Giampietri foi um dos reféns que ficaram quatro meses sob o poder de guerrilheiros de esquerda na Embaixada do Japão em Lima, há quase dez anos. A seguir, trechos de sua entrevista à Folha:

 

FOLHA - Hugo Chávez tem sido o principal tema das declarações de Alan García nos últimos dias. Trata-se de uma preocupação legítima ou é uma estratégia de campanha para explorar a imagem negativa do presidente venezuelano no Peru? LUIS GIAMPIETRI ROJAS - Evidentemente, é uma intromissão de um presidente estrangeiro na política interna de um país. O mandatário da Venezuela não tem nada que opinar sobre o que queremos ou não. Por último, é o nosso desejo, não é ele que tem de induzir o desejo da gente, menos ainda apoiar um outro candidato. Não é um jogo limpo, ele excedeu amplamente as faculdades de qualquer presidente. É um ato de intolerância.

FOLHA - Muitos eleitores consideram o voto a García um mal menor, e os dois candidatos apresentaram as maiores taxas de rejeição no primeiro turno. A pouca legitimidade do pleito de domingo o preocupa? GIAMPIETRI - Tenho a esperança de que seja uma eleição regular, como no primeiro turno. Haverá alguma votação em branco, mas não creio que seja significativa a ponto de produzir uma distorção da vontade da maioria. Creio que o plano de governo que oferece o Apra, as propostas do presidente García, marcam uma diferença total com o que foi o seu primeiro governo. O entorno mundial é distinto, não há uma crise como a que houve em 1985. Também não se esqueça de que a subversão fez esse país perder cerca de US$ 25 bilhões. Alguém teve de pagar essa conta, e quem pagou foi o presidente García. Disso, ninguém se lembra. Houve muitas coisas além das decisões erradas para que o primeiro governo não fosse tão bom.

FOLHA - O sr. é crítico da Comissão de Verdade e Reconciliação (CVR) e pede anistia aos militares envolvidos na guerra ao Sendero. Essa será a posição de um governo García? GIAMPIETRI - Isso não foi conversado, é uma posição pessoal. Defendo a anistia porque estamos sendo julgados por tribunais que nos condenaram antes de começarem a julgar. Mas não tenho nada, nada do que me arrepender.
No caso da CVR, o presidente Alejandro Toledo disse que vai honrar as indenizações individuais a pessoas, o que é justo, mas a que número de pessoas? Onde estão os nomes dos 70 mil mortos que a CVR declara? Não existem. As estatísticas, as declarações falam de 22 mil, 23 mil mortos, o que é muitíssimo. O resto, de onde saiu?


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