São Paulo, sexta-feira, 02 de junho de 2006

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GONZALO GARCÍA NÚÑEZ

"Manobras de Alan García estão ligadas às de Bush"

"Contraponto moderado" de Humala adota o discurso do colega de chapa

DO ENVIADO A LIMA

O ex-diretor do Banco Central do Peru Gonzalo García Núñez foi convidado para ser o contrapeso moderado na chapa do candidato nacionalista Ollanta Humala, um militar aposentado que se tornou conhecido por promover um levante contra o Estado, em 2000. Mas a polarização na reta final da campanha deixou o discurso do candidato a primeiro vice-presidente mais parecido com o seu companheiro de campanha do que o contrário. Adepto da ortodoxia econômica quando estava no BC, ainda no mandato de Alejandro Toledo (a quem tece algumas críticas no campo econômico), García afirmou ontem que a estratégia do ex-presidente Alan García na campanha eleitoral é "vinculada às manobras de Bush na América do Sul" e disse temer fraudes e violência no pleito de domingo. A seguir, trechos da entrevista concedida à Folha enquanto dirigia seu carro do comitê de campanha à sua casa, no bairro nobre de San Isidro:

 

FOLHA - Como um diretor do Banco Central se tornou o candidato a vice na campanha de Humala? GONZALO GARCÍA NÚÑEZ - Houve outros diretores que participaram de processos eleitorais. O vice-presidente do presidente Fernando Belaúnde, há alguns anos, não é uma situação nova. Mas me interessou muito porque, depois de anos de trabalho em matéria financeira, pude perceber com clareza que a estabilidade das políticas macroeconômicas dependem em grande medida de uma estabilidade política do país, necessária porque você sabe que, em nossos países, há uma grande fratura social, e quando ocorrem acontecimentos sociais, essa estabilidade econômica fica sob alto risco.

FOLHA - Mas por quê optar pelo movimento nacionalista? GARCÍA - Porque é uma proposta de integração de uma maioria que está fora dos grandes benefícios do crescimento econômico. Se conseguirmos estabilizar a política e ter políticas macroeconômicas saudáveis, vamos enfrentar com força a desigualdade social.

FOLHA - Vocês esperam violência no domingo? GARCÍA - Esperamos que não, mas há declarações do presidente da República, Alejandro Toledo, que assinalou que tem alguma evidência do que chamou de "confusão paga". Depois da declaração do presidente, ficamos preocupados, solicitamos ao ministro do Interior as evidências sobre isso e medidas imediatas para que se desative essa possibilidade.

FOLHA - As declarações de Chávez em favor de Humala estão prejudicando a campanha nacionalista? GARCÍA - A operação intelectual da candidatura de García tem sido a seguinte: provocar Chávez com adjetivos desqualificadores, "procurando a língua", como dizem os peruanos. Chávez responde com adjetivos. Imediatamente, García colocou a camisa da seleção peruana e começou a dizer que era uma luta entre o Peru e Chávez. Por detrás, há uma manobra maior, vinculada às manobras de Bush na América do Sul. A partir daí, há declarações de um suposto apoio de Chávez à nossa candidatura, algo que, desde o início, esclarecemos. Esta é a 23ª vez que digo que não há relação, mas amanhã me perguntarão de novo.

FOLHA - Qual foi o erro de Alejandro Toledo, que tem números econômicos invejáveis, como a taxa de crescimento anual acima de 5% e a inflação baixa? GARCÍA - O erro crucial foi não realizar, como prometeu no início do governo, um processo de industrialização do país. Desenvolver, por exemplo, o pólo gasífero petroquímico, a siderúrgica, a química moderna. Isso ficou suspenso no ar, e é o mesmo país que convida investimentos estrangeiros para extrair recursos naturais com uma renda minúscula e pequeno valor agregado.


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