São Paulo, sábado, 02 de junho de 2007

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Voto em Buenos Aires é teste para Kirchner

A quatro meses da eleição presidencial, o presidente argentino pena para emplacar aliado na prefeitura da capital

Kirchner espera resultado da votação de amanhã para definir se vai concorrer à reeleição ou indicar sua mulher, a senadora Cristina

Leo la Valle - 30.mai.2007/Efe
Kirchner participa de comício com ministro da Educação, Daniel Filmus, seu candidato a prefeito


RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES

"Filmus ou Macri." Milhares de cartazes com esses dizeres colados nos muros de Buenos Aires davam ontem o toque final da tentativa de Daniel Filmus, ministro da Educação e candidato kirchnerista a chefe de governo (prefeito) da cidade, conquistar o segundo lugar na eleição de amanhã e ir ao segundo turno, em 24 de junho, contra o empresário e deputado Mauricio Macri.
O cartaz permite uma dupla leitura: apenas Filmus, e não o atual chefe de governo, Jorge Telerman, rival direto do ministro na disputa pelo segundo lugar, poderia impedir a eleição de Macri. Ou então: é melhor votar em Macri do que em Telerman -elevando assim também as chances do candidato de Néstor Kirchner avançar ao segundo turno.
A mensagem é só mais um capítulo das eleições mais que nacionalizadas de Buenos Aires: os principais candidatos à disputa presidencial de 28 de outubro colocaram seu prestígio pessoal em jogo na tentativa de eleger o vencedor, à exceção do ex-ministro Roberto Lavagna, que se pôs em cima de um muro antikirchnerista ao dizer ter simpatia tanto por Telerman quanto por Macri.

"Campanha suja"
O presidente, porém, não poupou esforços na tentativa de eleger Filmus. Participou de vários atos, entre eles o de fechamento oficial da campanha, na última quarta. "Venho de coração aberto aos portenhos [habitantes de Buenos Aires] pedir que me ajudem a continuar mudando a Argentina. Daniel Filmus pode", disse.
O ato coroou o distanciamento de Kirchner e Telerman, peronista como o presidente, que tentou ser candidato oficial. Rechaçado pelo governo, Telerman acabou se aliando a Elisa Carrió, pré-candidata à Presidência e crítica mais mordaz do kirchnerismo.
Os dois acusam o governo de fazer uma "campanha suja" contra Telerman. Na semana passada, os jornais publicaram um anúncio assinado pela Frente pela Vitória, coalizão que apóia Filmus, em que o atual chefe de governo era acusado de "mentir". Isso porque se permitia chamar, em atos públicos, de "licenciado" por ter um suposto grau universitário em comunicação, quando na realidade fez curso técnico.
Obra da "campanha suja" ou não, Filmus chega à véspera da eleição em ascensão -embora ainda em empate técnico com Telerman, a maioria das pesquisas trazem seu nome em segundo. "Em Buenos Aires acontecem mudanças importantes nos últimos dias, mas a lógica que as pesquisas apontam é uma subida de Filmus", afirma Julio Aurelio, pesquisador contratado por Macri.

Repercussão nacional
O governo espera o resultado das eleições na capital para enfim tornar pública a escolha de seu candidato à Presidência. Na avaliação do jornalista e analista político Jorge Lanata, uma vitória de Macri na capital significaria a criação de um até hoje inexistente pólo de oposição importante no país, levando Kirchner a optar por concorrer à reeleição, em vez de indicar a mulher, a senadora Cristina Fernández.
"Kirchner dedicou seus primeiros dois anos de governo a cooptar os governadores de oposição e conseguiu. Se Macri ganhar a eleição em Buenos Aires, será o primeiro oposicionista em um cargo importante. Nesse cenário, creio que Kirchner seria o candidato."
Os aliados de Macri, que em 2003 perdeu a eleição no segundo turno após sair vencedor na primeira etapa, apostam em grande vantagem do candidato amanhã, superior a dez pontos. A alta intenção de voto em Macri -um voto antikirchnerista- mostra uma situação difícil para o governo na capital.
Com índices de popularidade beirando os 60% no conjunto do país, Kirchner tem hoje só 36% de imagem positiva em Buenos Aires, segundo uma pesquisa do fim do mês passado da Universidade Belgrano. Os analistas ainda não enxergam nisso uma ameaça à continuidade da família Kirchner no poder em outubro, mas acham que o presidente pode ter se exposto demais no apoio a um candidato cujas chances de vitória ainda são remotas.


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