São Paulo, terça-feira, 02 de junho de 2009

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ARTIGO

Obama e os limites do poder suave

GIDEON RACHMAN
DO "FINANCIAL TIMES"

Barack Obama é um presidente de poder suave. Mas o mundo não para de trazer desafios que exigem poder duro.
O problema é exemplificado pela viagem que ele fará ao Oriente Médio nesta semana, com um discurso ao mundo muçulmano na quinta.
George W. Bush lançou uma ofensiva militar no Oriente Médio. Obama está lançando uma ofensiva diplomática. Bush teve um sapato jogado contra ele em sua última aparição no Oriente Médio. Se Obama for ovacionado em pé no Cairo, isso transmitirá uma mensagem simbólica poderosa.
Mas, mesmo se seu discurso for um sucesso, os problemas de política externa ainda o estarão aguardando quando ele voltar à Casa Branca.
Israel pode estar se preparando para atacar as instalações nucleares do Irã antes do final do ano. Obama é contra qualquer iniciativa desse tipo. Mas os EUA não têm veto total sobre as ações de Israel. Um conflito Israel-Irã jogaria por terra os planos de Obama para a paz no Oriente Médio.
Enquanto ele não acontece, os EUA vão seguir adiante com o esforço para conquistar a paz entre israelenses e palestinos. Mas mesmo essa meta tem poucas chances de ser impulsionada pela viagem de Obama. Muitos nutrem a expectativa de que o presidente apresente uma visão completa para um acordo de paz e aplique pressão inequívoca sobre Israel. Por razões de política interna, diplomacia e timing, é altamente improvável que Obama faça isso.
Obama também vem encarando os limites do poder suave em outras partes do mundo. O fechamento da prisão de Guantánamo deveria ser a demonstração máxima da superioridade do poder suave em relação ao poder duro. No entanto, diante de reações contrárias, o governo recuou. Não está claro agora se Guantánamo será fechada dentro do prazo previsto.
As ferramentas da diplomacia, do engajamento e do charme às quais Obama dá preferência tampouco parecem ter grande utilidade junto ao líder norte-coreano Kim Jong-il.
O carisma de Obama e sua habilidade retórica são trunfos diplomáticos reais. O perigo é que o presidente tenha suscitado esperanças exageradas quanto aos resultados que podem ser obtidos com a diplomacia. Nos próximos meses, ficará cada vez mais claro que o poder suave também tem seus limites.


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