São Paulo, sexta-feira, 02 de julho de 2004

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IRAQUE SOB TUTELA

Diante das imagens do tribunal, parte da população continua com medo de falar sobre o ex-ditador

Saddam na TV deixa iraquianos perplexos

Karim Kadim/Associated Press
Iraquianos assistem em barbearia de Bagdá a cenas do comparecimento de Saddam a um tribunal


DA REDAÇÃO

Muitos iraquianos reagiram com silêncio, perplexidade e temor quando Saddam Hussein apareceu na televisão. Independentemente de ser a favor ou contra o ex-ditador, a maioria não deixou de notar a magreza e o tom desafiador.
"Veja, o salafrário está falando", disse o faxineiro Muhammad Ali rompendo o silêncio de 30 segundos que se fez em um salão de chá em Bagdá. "Ouvi dizer que ele costumava comer um veado inteiro por refeição, e agora ele parece muito mais magro."
Outro cliente notou que Saddam não tinha algemas. "Por que suas mãos estão livres? Ele parece confortável. Eles chamam isso de punição de um ditador?", afirmou Arkan Hinmis.
"Saddam tinha muitos palácios, enquanto seu povo morria de fome. Mas hesito em falar, porque ele ainda tem agentes", disse Mustafa, que não quis declarar seu sobrenome. "Mesmo que as imagens fossem da execução dele nós não falaríamos", foi a reação de uma mulher também temerosa.
Em um hotel, 16 homens tinham seus olhos pregados na TV. "Olhe para ele. Não é a face de um prisioneiro. Ele está comandando a corte", disse um homem, com a aprovação dos demais.
Nas áreas em que há forte presença sunita, houve muitas manifestações de apoio ao ex-ditador. "Se dependesse de mim, ele estaria de volta à Presidência hoje, não amanhã", afirmou Ahmed Abdallah, no bairro Adhamiya, em Bagdá. "Pelo menos Saddam nos dava segurança. Não vimos nada de bom dos americanos", disse Odai Faleh, em Ramadi.
Em diversos países árabes, onde raramente uma alta autoridade tem de responder por crimes, o julgamento de Saddam está sendo visto como uma mensagem para os demais líderes da região. "O julgamento deveria ser um exemplo para todos os líderes árabes que governam com ditaduras. Esse será o destino deles", afirmou Mohammed Ruaini, do Iêmen.
"Nós vivemos numa ditadura. Com o tempo, os excessos das autoridades enegrecerão os corações das pessoas e o resultado vai ser pior do que no Iraque", disse o egípcio Bassim Murad.
O governo do Kuait, invadido por Saddam em 1990, anunciou que enviará representante ao julgamento. "O Kuait exigirá que ele seja executado de acordo com o sistema judicial do Iraque", afirmou o ministro da Informação, Mohammad Abulhasan.

Tropas da Jordânia
O rei Abdullah, da Jordânia, anunciou que poderá enviar tropas ao Iraque se houver um pedido do governo interino. Caso isso se confirme, será o primeiro país árabe a mandar soldados. "Minha mensagem é: "Digam-nos como podemos ajudar e daremos 110% de apoio", afirmou Abdullah.

Com agências internacionais


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