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Do exílio na Síria, Meshal radicaliza o grupo
ZVI BAR'EL
DO "HAARETZ"
Khaled Meshal deve estar se
sentindo realizado, finalmente.
Depois de lutar durante anos
por um espaço nos primeiros
escalões do Hamas, de superar
o desprezo do xeque Ahmed
Yassin (o fundador do grupo),
que se referia a ele como "aquele garoto", e de sobreviver a um
ataque do Mossad em Amã, ele
finalmente conseguiu ser reconhecido por Israel.
Já não é mais um mero procurado, nem só o chefe de um
bando, mas a pessoa que controla toda a violência nos territórios palestinos e que, do exílio em Damasco, tem endurecido a posição do Hamas na negociação sobre a soltura do soldado israelense seqüestrado.
O próprio Meshal não esperava alcançar um status tão elevado -porque o "campo" e
Meshal estão longe de ser idênticos. No "campo", há celas,
bandos, organizações e movimentos cuja constante comum
é a mobilidade. Por exemplo,
Jamal Abu Samhadana, o comandante de um dos Comitês
de Resistência Popular que foi
morto no início do mês em um
ataque israelense, integrava o
Fatah. Outro comitê era encabeçado até pouco tempo atrás
por Mumtaz Daramshe, que fazia parte do Hamas, até que
uma disputa o levou a criar seu
grupo próprio, agora conhecido
como Exército do Islã.
Lealdade volátil
Os movimentos nos escalões
de liderança desses grupos
sempre são acompanhados por
movimentação dos combatentes fiéis ao comandante. Essa
lealdade nem sempre depende
de uma ideologia -em muitos
casos depende de amizade e de
um passado comum.
Meshal não tem informações
privilegiadas sobre essa mobilidade organizacional, nem tem
conhecimento de cada ataque e
de todas as conspirações. Alguns dos comandantes que
atuam em campo não reconhecem Meshal, nem os chefes de
qualquer outra organização,
como seus líderes. Quem desobedece ao primeiro-ministro
Ismail Haniyeh não necessariamente obedece a Meshal.
Mesmo as iniciativas políticas
locais, como o "documento dos
prisioneiros", que originou o
esboço de acordo entre as facções palestinas, são lançadas
contra a vontade de Meshal.
Meshal concordou com a
"hudna" (o cessar-fogo com Israel) apenas por medo de perder sua posição de liderança
nos territórios. A hostilidade
entre Meshal e Haniyeh veio à
tona em abril, quando o premiê
ameaçou renunciar se Meshal
não retratasse suas declarações
bombásticas contra o presidente palestino, Mahmoud Abbas.
Nascido em 1956, Khaled
Meshal é bacharel em física pela Universidade do Kuait. Até a
Guerra do Golfo, de 1990, ele
residia no Kuait, para onde se
mudou vindo de Silwad, nas
proximidades de Ramallah, depois de Israel ter conquistado
os territórios, em 1967. Quando, após a guerra, o Kuait deportou os palestinos residentes
no país, devido ao apoio que
eles tinham dado à invasão do
Iraque, Meshal mudou-se para
a Jordânia com sua família.
A tentativa de assassinato dele feita pelo Mossad em 1997,
que levou à libertação de Ahmed Yassin da prisão, colocou
Meshal no mapa. Em 2000 ele
foi deportado da Jordânia, juntamente com quatro outros líderes do Hamas, e hoje se desloca entre Síria, Líbano e Irã.
O chefe da inteligência egípcia, Omar Suleiman, costuma
reunir-se com Meshal. Os dois
conversaram nesta semana,
enquanto o ditador egípcio,
Hosni Mubarak, conversava
com o ditador da Síria, Bashar
Assad. Meshal nega ter envolvimento no seqüestro do soldado. Como o Hamas nunca teve
problema em reivindicar ações
no passado, é possível que Meshal esteja dizendo a verdade.
Tradução de CLARA ALLAIN
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