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OEA dá 72 horas para Honduras reverter golpe
Caso governo interino não aceite ultimato, país será suspenso de organismo; na espera de resultado, Zelaya adia retorno
É a 1ª vez que a organização aplica a Carta Democrática, adotada em 2001, que obriga governos a promover e defender a democracia
JANAINA LAGE
DE NOVA YORK
CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO
A OEA (Organização dos Estados Americanos) deu ontem
um ultimato de 72 horas a Honduras para que restitua o presidente Manuel Zelaya ao poder.
Caso não cumpra a determinação da Assembleia Geral, o país
será suspenso do grupo. A medida aumenta a pressão internacional sobre o governo interino instalado após um golpe de
Estado no último domingo.
Em uma sessão fechada de
emergência que se estendeu da
noite de terça até a manhã de
ontem, a Assembleia Geral da
OEA aprovou resolução que
exige a "restituição imediata,
segura e incondicional do presidente". O texto repete que a
entidade não reconhecerá outro governo.
Foi a primeira vez que a OEA
aplicou a Carta Democrática,
adotada em 2001 e que obriga
todos os governos do hemisfério a "promover e defender" a
democracia. Dos EUA à Venezuela, houve consenso em invocar o artigo 21 do documento,
que prevê a suspensão do país
que não o cumpra.
"A decisão diz respeito a
Honduras, mas também à tutela da Carta Democrática. Ela
perderia seu valor se não fosse
aplicada. A maioria dos países
agiu tendo em mente a necessidade de preservar a validade da
Carta", disse Ruy Casaes, embaixador do Brasil na OEA.
O secretário-geral da organização, José Miguel Insulza,
conduzirá junto com representantes de outros países a negociação para a restituição de Zelaya. Mas, com a insistência do
governo interino hondurenho
de que não haverá recuo, ainda
há dúvidas sobre o êxito da
pressão diplomática e econômica (leia quadro nesta pág.).
Na terça, a ONU já havia
aprovado uma dura resolução
condenando o golpe e exigindo
a reinstalação de Zelaya.
Compromisso e viagem
No Panamá, onde acompanhou a posse do presidente Ricardo Martinelli, Zelaya anunciou ter adiado seu retorno a
Honduras, previsto para ontem. Agora, ele diz esperá até o
fim do prazo de três dias dado
pela OEA para a viagem.
Nos últimos dois dias, o presidente deposto tem reiterado
que só pretende ficar no governo até janeiro de 2010, quando
termina seu mandato.
Segundo a Folha apurou, as
declarações foram bem recebidas entre as delegações da
OEA. Foram vistas como resposta aos opositores que acusam o presidente de pretender
mudar a Carta do país -que
proíbe a reeleição- para se
perpetuar no poder.
Para o cientista político chileno Francisco Rojas Aravena,
secretário-geral da Flacso (Faculdade Latino-Americana de
Ciências Sociais), com a promessa de desistir da reeleição,
Zelaya dá um passo para um
acordo político que será difícil,
mas essencial para a normalização democrática de Honduras. Baseado na vizinha Costa
Rica, Aravena acompanha de
perto a situação hondurenha.
Papel dos EUA
O presidente deposto encontrou-se na noite de terça com o
chefe da diplomacia americana
para a América Latina -e futuro embaixador dos EUA no
Brasil-, Thomas Shannon. Ele
agradeceu pela condenação
americana ao golpe.
Internamente, porém, o governo Obama está sob pressão
de conservadores e progressistas. Para os conservadores,
Washington se mostra muito
mais disposta a defender o chavista Zelaya do que em apoiar
os derrotados na questionada
eleição iraniana. À esquerda,
Obama é criticado por condenar o golpe, de resto uma obrigação da Carta Democrática,
evitando tomar medidas mais
duras como o corte de ajuda.
Os EUA, ainda mantêm um
embaixador em Honduras. Nos
últimos dias, diversos diplomatas de países da região e da Europa deixaram o país.
Washington adiou a decisão
sobre o corte de auxílio financeiro a Honduras até a próxima
segunda. O objetivo, diz o governo, é dar tempo à negociação diplomática para a volta de
Zelaya ao poder.
Em compensação, o Pentágono anunciou ontem a suspensão das atividades conjuntas com as forças hondurenhas.
Os 600 oficiais americanos que
ficam na base de Soto Cano Air,
a 80km da capital, não estão
mais conduzindo atividades
com os militares hondurenhos,
segundo Robert Appin, diretor
para informação pública do Comando do Sul, com sede em
Miami.
A última operação dos militares fora da base foi conduzida
no dia 26. "Ninguém está autorizado a sair da base exceto em
situações emergenciais", disse
Appin.
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