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Governo golpista suspende garantias constitucionais
Direito à manifestação, inviolabilidade de domicílio e limite a prisão preventiva são afetados
Presidente interino diz que não vai negociar com OEA e afirma que "há países que começam a entender que há democracia" em Honduras
Orlando Sierra/France Presse
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Roberto Micheletti, nomeado presidente interino pelo Congresso
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA
(HONDURAS)
A pedido do presidente interino hondurenho, Roberto Micheletti, o Congresso do país
decretou ontem estado de
emergência no país, com a suspensão de cinco garantias constitucionais, entre os quais a inviolabilidade de domicílio.
Desde ontem à tarde, estão
restringidos os direitos a manifestação, reunião e livre circulação. Também fica suspenso o
limite máximo de 24 horas para
prisões preventivas.
Além disso, o governo Micheletti estendeu ontem por
mais 72 horas o toque de recolher, em vigor desde domingo à
noite. Com isso, a circulação
continua proibida entre as 22h
e as 5h pelo menos até sábado.
Ontem, houve pequenas manifestações tanto a favor do
presidente deposto, Manuel
Zelaya, quanto em apoio ao novo governo, sem incidentes graves. A maior parte do comércio
funcionou normalmente, mas
os professores das escolas públicas, cujo sindicato é controlado por líderes de esquerda,
estão em greve em protesto
contra Micheletti.
Já a sede da Corte Suprema
de Justiça, que tem tomado
medidas desfavoráveis a Zelaya, foi alvo, anteontem à noite,
de um ataque de granada, que
não chegou a explodir.
Desde domingo, os meios de
comunicação contrários a Micheletti continuam com restrições. Ontem, a rádio Globo, favorável a Zelaya, saiu do ar minutos depois de transmitir uma
entrevista ao vivo com o presidente deposto.
Segundo o dono da rádio, o
deputado pró-Zelaya Alejandro
Villatoro, a rádio já teve o sinal
suspenso oito vezes desde domingo. "Os militares continuam na estação, onde quebraram as portas. Na noite do golpe, eu fui levado a ponta de fuzil
e detido por uma hora e meia,
apesar de ter imunidade parlamentar", disse à Folha ontem.
Procurado pela reportagem,
o ministro da Comunicação,
René Cepeda, negou as medidas contra a rádio Globo. "Eles
mesmo se tiram do ar, o que é
muito suspeito", afirmou. Ele
acusou a emissora de dar notícias falsas de manifestações
pró-Zelaya.
Cada vez mais isolado internacionalmente, Micheletti disse à agência de notícias France
Presse que "não podemos negociar nada" com a OEA (Organização dos Estados Americanos), que ameaçou suspender a
participação de Honduras no
organismo caso Zelaya não seja
restituído ao cargo até sábado.
Em entrevista coletiva a
meios hondurenhos, à qual a
Folha teve acesso, Micheletti
disse que "há países que estão
começando a entender que
aqui há uma democracia". Ele
disse que Taiwan e Israel devem anunciar em breve o reconhecimento de seu governo.
Micheletti voltou a acusar o
presidente da Venezuela, Hugo
Chávez, aliado de Zelaya, de ser
o responsável pela crise política
hondurenha. "A intervenção do
governo venezuelano é clara e
definida nessa situação que está vivendo Honduras."
A crise no país foi desencadeada por uma votação que Zelaya pretendia realizar no país
para buscar apoio político à sua
proposta de substituir a atual
Constituição.
Com o lema de "quarta urna",
Zelaya propôs a realização de
um referendo sobre a convocação de uma Constituinte nas
eleições de novembro, quando
deveriam ser eleitos novos presidente, Legislativo e autoridades municipais.
A consulta foi declarada ilegal pela Justiça e pelo Congresso. Líderes da oposição e do
próprio Partido Liberal acusam
Zelaya de tentar mudar a Constituição para poder tentar a
reeleição. O seu mandato termina em janeiro de 2010.
Desde domingo, Micheletti
vem repetindo que seu governo
é de "transição" e que as eleições de novembro não serão
adiadas nem antecipadas.
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