São Paulo, sábado, 02 de julho de 2011

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Com megaobras, PC chinês festeja 90 anos

Autocrítica e nostalgia da era maoísta também marcam o aniversário de fundação do maior partido do mundo

Percepção de que a sigla enfrenta sérios problemas de corrupção e de autoritarismo gera protestos diariamente

FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM

Com inauguração de obras faraônicas, autocrítica e nostalgia da era maoísta, o Partido Comunista chinês celebrou ao longo desta semana nove décadas de fundação enquanto se organiza para a sucessão de sua cúpula, no ano que vem.
Em meio à preocupação de evitar protestos semelhantes aos do mundo árabe, o PC usou os vários meios de comunicação estatais para ressaltar a história como originado das camadas populares e de lideranças nacionalistas.
Além da maratona na TV -a BTV (Beijing Television) foi das 6h à meia-noite-, dezenas de salas de cinema exibem o filme "Início do Grande Renascimento", retratando os primeiros passos do líder comunista Mao Tsé-tung.
Em Chongqing, município de cerca de 30 milhões de habitantes, o chefe do PC local, Bo Xilai, reuniu 100 mil pessoas anteontem para um concerto da época maoísta.
Mas a imagem do passado não tem sido capaz de esconder a percepção de que o partido tem sérios problemas de corrupção e de autoritarismo, o que gera diariamente milhares de protestos pelo país.
"Funcionários de alto nível considerados corruptos continuam imunes à Justiça, e a raiva popular tem aumentado pelos reiterados relatos de desvios de bilhões de dólares para o exterior", escreveu o historiador Jeffrey Wasserstrom, em artigo publicado no site da "Foreign Policy".
O combate à corrupção esteve presente no discurso de ontem do dirigente máximo do país, Hu Jintao, que acumula o cargo de secretário-geral do partido.
Ele disse que o partido enfrenta "testes longos, complicados e difíceis" para a governabilidade e que os principais desafios incluem "falta de unidade, incompetência, divórcio da população, falta de iniciativa e corrupção".
Por outro lado, as celebrações incluíram a reafirmação do espetacular crescimento econômico das últimas décadas, talvez a maior realização do PC. Para analistas, é o desempenho na economia que, na falta de eleições, assegura a legitimidade do regime.
Anteontem, começou a operação comercial da maior linha de trem-bala mundial -1.318 km entre Pequim e Xangai, as mais importantes cidades do país. No mesmo dia, a China abriu a maior ponte do mundo, com 42 km, na cidade portuária de Qingdao (a Rio-Niterói tem 13 km).
Na sombra da festa, o governo promove uma onda de repressão que já prendeu dezenas de dissidentes, incluindo o artista Ai Weiwei, recém-libertado após 80 dias preso. Muitos analistas afirmam que é mais uma evidência de que dificilmente haverá uma ampla abertura política, pelo menos no curto prazo.
"Uma coalizão formada por forças de segurança internas, pelas estatais gigantes, pela propaganda e pelos militares se uniu com a linha-dura do partido para conter as reformas", escreve David Shambaugh, da Universidade George Washington, em artigo no "New York Times".
Fundado em sigilo por 12 membros em 1921, hoje o PC chinês é o maior partido do mundo: 80 milhões de filiados, 6% da população.


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