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ANÁLISE
Crítica a uso de bases militares explora antiamericanismo
Chávez conseguiu que América Latina desviasse atenção das armas vendidas pela Suécia à Venezuela encontradas com as Farc para reclamar de fato trivial
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente venezuelano
Hugo Chávez é um gênio da
propaganda. Conseguiu que a
América Latina desviasse a
atenção de um fato seríssimo
-a Colômbia ter achado com as
Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) foguetes antitanque AT-4 que foram
vendidos pela Suécia ao Exército da Venezuela-, para começar a reclamar em uníssono
contra um fato trivial: um pequeno aumento do número de
militares americanos em cinco
bases colombianas.
Chávez sabe explorar habilmente o antiamericanismo
sempre latente na região.
Há vários motivos para um
fato ser sério e outro, trivial. Armas das Forças Armadas de um
país serem encontradas com a
narcoguerrilha em um país vizinho é algo sério, ilegal e que
mereceria investigação. Permitir que militares de um país
amigo façam operações conjuntas e utilizem bases é algo
trivial e legítimo em qualquer
parte do mundo, desde que
aprovado pelo governo local.
O aumento do número de militares e civis americanos na
Colômbia já era esperado desde
que o Equador decidiu não renovar a permissão para os EUA
usarem a base aérea de Manta.
Para os EUA poderem continuar fazendo voos com os
aviões-radar de alerta antecipado E-3 Sentry AWACs e de
patrulha marítima P-3 Orion,
precisariam de novas bases.
Pode-se argumentar que os
EUA vão mais que "triplicar" o
número de militares. Mas o número em si é pequeno: de 250
para 800 militares, além de 600
contratados civis. Não é bem
uma invasão.
A localização das bases também deixa claro que o foco é em
operações contra traficantes,
não um "cerco" à Venezuela,
como reclamou Chávez. Há um
fluxo de droga por mar e ar.
Duas das bases onde operam
ou operarão os americanos estão no litoral do Caribe -a base
naval Bolívar, em Cartagena, e
a base aérea Alberto Pouwels,
em Malambo (Barranquilla).
Uma está no Pacífico -base naval Bahía Málaga, ideal para
substituir Manta. E duas estão
no interior -base aérea Palanquero, em Puerto Salgar, e base
aérea Apiay, em Villavicencio.
Um detalhe óbvio está ausente: desde quando os EUA precisariam de bases na América Latina se quisessem intervir militarmente na região?
Há só uma superpotência militar no planeta hoje. Nenhum
outro país tem o alcance global
das Forças Armadas dos EUA.
Ter bases próximas de onde
se queira atacar é útil, mas não
essencial. Se quisessem bombardear Caracas e Chávez, não
seria preciso uma base na Colômbia. Basta lembrar que os
EUA usaram porta-aviões para
atacar o Afeganistão em 2001.
Um porta-aviões nuclear
USS Nimitz tem 100 mil toneladas de deslocamento. Carrega 85 aeronaves e quase 6.000
tripulantes. Basta um para varrer a Força Aérea Venezuelana
do mapa. A Marinha dos EUA
tem dez destes navios e um
mais velho, o USS Enterprise.
O antiamericanismo era típico da época em que de fato os
EUA intervinham militarmente na América Latina. Antes da
Segunda Guerra, era rotina ter
fuzileiros navais ocupando países como Cuba, Haiti, República Dominicana, Nicarágua. Depois, houve na Guerra Fria o
apoio explícito a ditaduras para
evitar novas Cubas.
Mas, com a redemocratização do continente a partir dos
anos 80, desaparecem motivos
e pretextos para intervenções.
Uma curiosa exceção aconteceu em dezembro de 1989,
quando o então presidente
americano George H. W. Bush
ordenou a invasão do Panamá
para derrubar o ditador e narcotraficante Manuel Noriega.
O mais novo porta-aviões nuclear dos EUA chama-se USS
George H. W. Bush -nome que
decerto desagrada a Chávez.
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