São Paulo, segunda-feira, 02 de setembro de 2002

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CRISE

Declaração contradiz afirmação feita na semana passada pelo vice-presidente Dick Cheney, que defende ação militar

Bush quer inspetores no Iraque, diz Powell

DA REDAÇÃO

O secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, disse ontem que seu país quer que seja dado "um primeiro passo" no sentido de resolver a crise iraquiana (sem uma nova guerra), com a volta àquele país dos inspetores das Nações Unidas para a fiscalização dos arsenais do ditador Saddam Hussein.
A declaração de Powell contradiz a afirmação feita na semana passada pelo vice-presidente Dick Cheney, para quem não fazia mais sentido enviar novamente inspetores, tendo chegado o momento de preparar uma ação militar contra o Iraque.
Em entrevista gravada pela rede de TV BBC e que será levada ao ar no dia 8, Powell disse que o presidente George W. Bush quer que os inspetores retomem no Iraque a missão interrompida em 1998.
"O presidente tem deixado claro que acredita que os inspetores devem voltar", afirmou, contrariando as últimas evidências.
Para o secretário de Estado, a comunidade internacional precisa de informações mais detalhadas sobre a ameaça real de Saddam antes de tomar decisões.
A seu ver, "o mundo deve dispor dessas informações, e um debate precisa ocorrer na comunidade internacional para que todos tenham uma idéia clara".
As declarações de Powell indicam uma divisão entre os chamados "falcões" da política norte-americana, como Cheney e o secretário da Defesa Donald Rumsfeld, que defendem a guerra imediata, e defensores de uma solução negociada.
Com suas declarações, Powell se alinhou ao chanceler do Reino Unido, Jack Straw, que na semana passada disse que a inspeção era a prioridade da política de Londres para o Iraque, e não uma "mudança de regime", eufemismo utilizado nos EUA para designar a queda de Saddam.
O primeiro-ministro Tony Blair procurou aproximar os dois campos, ao afirmar de maneira vaga que "alguma forma de ação" deve ser tomada contra o Iraque.
Blair disse no sábado que o mundo não poderia permanecer passivo enquanto o Iraque produz armas de destruição em massa, "em flagrante desafio às resoluções da ONU".
O senador norte-americano Chuck Hagel, influente na bancada do Partido Republicano e que se opõe a uma guerra imediata, exortou Blair a exprimir publicamente seu ponto de vista, por saber que era essa sua opinião sobre a crise.
O ministro da Defesa do Reino Unido, Geoff Hoon, se reunirá em breve com Rumsfeld. O Iraque deve ser um dos assuntos abordados no encontro.
Em entrevista ao jornal italiano "La Stampa", o subsecretário de Estado Marc Grossman disse que Bush não havia ainda tomado nenhuma decisão sobre o Iraque.
De qualquer forma, segundo a revista Time, Powell pretende renunciar ao final do atual mandato do presidente Bush, mesmo se ele for reeleito. As divergências com outros integrantes do governo teriam resultado na decisão, disse à revista uma autoridade norte-americana próxima a Powell.

"Criar pretextos"
Em Bagdá, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores acusou os EUA de criar um quadro "baseado em mentiras" para em seguida atacar o Iraque.
Por sua vez, um dos homens de confiança de Saddam, o vice-primeiro-ministro Tareq Aziz, chegou à África do Sul para participar da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio + 10). A delegação alemã deu a entender que o chanceler (premiê) Gerhard Schröder o procuraria e discutiria caminhos para sair da crise.
Schröder se opõe abertamente a uma guerra imediata para derrubar Saddam, posição também defendida pela França.
O presidente da Síria, Bashar al Assad, exortou ontem os países árabes e islâmicos a se unirem contra o que qualificou de "conspiração internacional" para atacar o Iraque.
Assad se reuniu ontem com um dos dirigentes da diplomacia iraniana, que por sua vez também exprimiu sua preocupação. O Irã e a Síria têm divergências históricas com Saddam.
Bagdá anunciou que hoje chegaria ao país um membro da família real da Arábia Saudita. Seria a primeira visita do gênero, desde a Guerra do Golfo, em 1991.


Com agências internacionais

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