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CRISE
Declaração contradiz afirmação feita na semana passada pelo vice-presidente Dick Cheney, que defende ação militar
Bush quer inspetores no Iraque, diz Powell
DA REDAÇÃO
O secretário de Estado dos
EUA, Colin Powell, disse ontem
que seu país quer que seja dado
"um primeiro passo" no sentido
de resolver a crise iraquiana (sem
uma nova guerra), com a volta
àquele país dos inspetores das Nações Unidas para a fiscalização
dos arsenais do ditador Saddam
Hussein.
A declaração de Powell contradiz a afirmação feita na semana
passada pelo vice-presidente Dick
Cheney, para quem não fazia
mais sentido enviar novamente
inspetores, tendo chegado o momento de preparar uma ação militar contra o Iraque.
Em entrevista gravada pela rede
de TV BBC e que será levada ao ar
no dia 8, Powell disse que o presidente George W. Bush quer que
os inspetores retomem no Iraque
a missão interrompida em 1998.
"O presidente tem deixado claro que acredita que os inspetores
devem voltar", afirmou, contrariando as últimas evidências.
Para o secretário de Estado, a
comunidade internacional precisa de informações mais detalhadas sobre a ameaça real de Saddam antes de tomar decisões.
A seu ver, "o mundo deve dispor dessas informações, e um debate precisa ocorrer na comunidade internacional para que todos tenham uma idéia clara".
As declarações de Powell indicam uma divisão entre os chamados "falcões" da política norte-americana, como Cheney e o secretário da Defesa Donald Rumsfeld, que defendem a guerra imediata, e defensores de uma solução negociada.
Com suas declarações, Powell se
alinhou ao chanceler do Reino
Unido, Jack Straw, que na semana
passada disse que a inspeção era a
prioridade da política de Londres
para o Iraque, e não uma "mudança de regime", eufemismo utilizado nos EUA para designar a
queda de Saddam.
O primeiro-ministro Tony Blair
procurou aproximar os dois campos, ao afirmar de maneira vaga
que "alguma forma de ação" deve
ser tomada contra o Iraque.
Blair disse no sábado que o
mundo não poderia permanecer
passivo enquanto o Iraque produz armas de destruição em massa, "em flagrante desafio às resoluções da ONU".
O senador norte-americano
Chuck Hagel, influente na bancada do Partido Republicano e que
se opõe a uma guerra imediata,
exortou Blair a exprimir publicamente seu ponto de vista, por saber que era essa sua opinião sobre
a crise.
O ministro da Defesa do Reino
Unido, Geoff Hoon, se reunirá em
breve com Rumsfeld. O Iraque
deve ser um dos assuntos abordados no encontro.
Em entrevista ao jornal italiano
"La Stampa", o subsecretário de
Estado Marc Grossman disse que
Bush não havia ainda tomado nenhuma decisão sobre o Iraque.
De qualquer forma, segundo a
revista Time, Powell pretende renunciar ao final do atual mandato
do presidente Bush, mesmo se ele
for reeleito. As divergências com
outros integrantes do governo teriam resultado na decisão, disse à
revista uma autoridade norte-americana próxima a Powell.
"Criar pretextos"
Em Bagdá, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores acusou os EUA de criar um quadro
"baseado em mentiras" para em
seguida atacar o Iraque.
Por sua vez, um dos homens de
confiança de Saddam, o vice-primeiro-ministro Tareq Aziz, chegou à África do Sul para participar
da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio +
10). A delegação alemã deu a entender que o chanceler (premiê)
Gerhard Schröder o procuraria e
discutiria caminhos para sair da
crise.
Schröder se opõe abertamente a
uma guerra imediata para derrubar Saddam, posição também defendida pela França.
O presidente da Síria, Bashar al
Assad, exortou ontem os países
árabes e islâmicos a se unirem
contra o que qualificou de "conspiração internacional" para atacar o Iraque.
Assad se reuniu ontem com um
dos dirigentes da diplomacia iraniana, que por sua vez também
exprimiu sua preocupação. O Irã
e a Síria têm divergências históricas com Saddam.
Bagdá anunciou que hoje chegaria ao país um membro da família real da Arábia Saudita. Seria
a primeira visita do gênero, desde
a Guerra do Golfo, em 1991.
Com agências internacionais
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