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Pentágono reconhece risco de guerra civil no Iraque
Karemm Raheem/Reuters
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Iraquianos xiitas rezam em Bagdá; violência é a pior desde 2003 |
Constatação é inédita no Departamento da Defesa, que diz que situação pode ser contida
Para analistas e oposição, conflito já está deflagrado; divulgação acontece no momento em que Bush defende estratégia no país
DA REDAÇÃO
Pela primeira vez -e com algum atraso em relação a especialistas e mesmo a outros setores do governo americano- o
Pentágono afirmou, em relatório divulgado ontem, que a escalada de violência entre xiitas
e sunitas no Iraque pode levar o
país a uma guerra civil. A constatação também marca, segundo a Defesa, uma mudança na
natureza das ações no país, que
não mais se restringem ao combate de uma insurgência cujo
alvo eram as tropas dos EUA.
O relatório apresentado ontem foi feito a pedido do Congresso americano e analisa a situação de segurança no Iraque
nos últimos três meses. No período, os ataques aumentaram
24%, para 792 por semana, e as
mortes violentas saltaram 51%
para uma média diária de 120.
Curiosamente, o trimestre
abarca o período imediatamente posterior à morte de Abu
Musab al Zarqawi, líder da Al
Qaeda no país, pelas forças
americanas. Zarqawi era tido
como maior fomentador do
conflito entre a minoria árabe-sunita -que representa pouco
menos de 30% dos iraquianos e
detinha o poder durante o regime de Saddam Hussein- e a
maioria árabe-xiita -que perfaz mais de 60% da população e
só chegou ao poder com as eleições do início deste ano, após
mais de duas décadas de repressão pelo ex-ditador sunita.
O relatório também vem em
momento delicado. O presidente George W. Bush acaba de
lançar uma nova ofensiva retórica para defender sua estratégia no Iraque e a manutenção
de seus soldados no país ante o
declínio do apoio à guerra e à
aproximação das eleições legislativas, em novembro.
Percepção distorcida
Além da matança generalizada e do crescimento da ação de
esquadrões da morte, afirma o
relatório, os dois grupos também disputam áreas-chave da
capital, criam encraves sectários, desviam recursos econômicos e impõem suas pautas
religiosas e políticas. Relatos de
jornalistas no Iraque dão conta
da expulsão de membros de
uma facção pela corrente islâmica adversária de determinados povoados e regiões, alimentando o contingente de deslocados internos no país.
"Condições que podem levar
a uma guerra civil existem no
Iraque", afirma o documento
do Pentágono, acrescentando
que a violência sectária se alastra para o norte, na Província
de Diyala e na região de Kirkuk,
maior pólo petroleiro do país.
"Ainda assim, a violência
atual não configura guerra civil,
e o avanço em tal direção pode
ser refreado", segue o texto, que
classifica a situação de segurança como "a mais complexa desde março de 2003", quando os
EUA invadiram o país.
Analistas independentes e
congressistas de oposição, no
entanto, discordam dessa visão. Em agosto, Kenneth Pollack e Daniel Byman, respeitados especialistas em Iraque e
segurança na Brookings Institution (Washington), escreveram em artigo no jornal "The
Washington Post" que não há
outro nome para o presente cenário no país senão guerra civil.
No texto, evocam o risco de a
violência tomar contornos regionais e atrair o envolvimento
de outros países -nos moldes
das guerras civis que pipocam
pela África- que se alinhem
mais com os xiitas (caso do Irã)
ou com os sunitas (majoritários
em todo o restante da região).
O líder dos democratas no
Senado, Harry Reid, usou o documento do Pentágono para
acusar Bush, seu vice, Dick
Cheney, e o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld de estarem "cada vez mais desconectados dos acontecimentos em
campo iraquiano".
"Até o Pentágono reconhece
que o Iraque está entrando em
uma guerra civil", disse.
Com agências internacionais
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