São Paulo, sábado, 02 de setembro de 2006

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Esquerda impede discurso de Fox no Parlamento

Deputados tomam posse, apesar de acusar fraude; López Obrador cancela marcha

Medo de confronto deve se repetir no dia 16, durante parada militar; candidato derrotado mantém protesto contra resultado eleitoral

RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Vicente Fox foi impedido de fazer o tradicional discurso sobre o Estado da Nação ontem no Congresso. Os deputados de esquerda ocuparam o palco, preparado para o discurso, com cartazes que chamavam Fox de "traidor da democracia".
O presidente entregou o texto do discurso e se retirou. Ele fez um discurso televisionado do palácio presidencial, em que defende o seu governo e diz que a democracia avançou.
As medidas de segurança que antecederam o discurso frustrado paralisaram boa parte da Cidade do México ontem. Um batalhão de 6.000 policiais cercou não só o Congresso mexicano como uma área de dez quarteirões ao seu redor. Só deputados e senadores eleitos em 2 de julho e que tomariam posse ontem, além dos moradores da região, podiam passar. As estações de metrô vizinhas foram fechadas.
O país vive uma polarização política desde a disputada (e contestada) eleição presidencial. O esquerdista Andrés Manuel López Obrador se queixa de fraude e convocou seus simpatizantes a não reconhecer Calderón. Desde 30 de julho, milhares de manifestantes bloqueiam a principal avenida da capital em protesto.
Até o próximo dia 6, o Tribunal Federal Eleitoral deve proclamar o conservador Felipe Calderón como novo presidente. A posse acontece em 1º de dezembro.
No final da tarde, López Obrador disse que ficaria no Zócalo, maior praça da capital, onde se encontra acampado, "para não cair em provocação". Temia-se que ele pedisse à multidão para marchar ao Congresso, o que poderia provocar um violento confronto.
"Passamos de bloqueio em bloqueio, parece que estamos em estado de guerra", disse a senadora Yeidckol Polevnsky, do Partido da Revolução Democrática (PRD), de esquerda.
López Obrador chama Calderón de "usurpador" e promete criar um governo paralelo. Ele acusa o presidente Fox de ter feito campanha para favorecer Calderón.

Momento de desespero
A tensão no país começou logo após as eleições, quando o Instituto Federal Eleitoral não divulgou o resultado imediatamente, alegando que a diferença entre os dois favoritos era "mínima". O esquerdista citou fraude e manipulação, e os protestos começaram a crescer.
O resultado oficial apontou vitória de Calderón por menos de 0,6 ponto percentual. Em 30 de julho, López Obrador reuniu quase 1 milhão de pessoas para protestar contra o fraude e exigir a recontagem total dos votos. Na última semana, o Tribunal Federal Eleitoral julgou não ter havido fraude e confirmou a vantagem de Calderón por quase 238 mil votos.
"O momento para López Obrador é de desespero. Se o movimento dele se estabiliza ou o protesto diminui, ele corre o perigo de se condenar ao esquecimento", disse à Folha o professor de Ciência Política do Instituto Tecnológico Autônomo do México Federico Estévez. "Mas se o confronto crescer e chegar a níveis palpáveis de violência, há um risco ainda maior, de rejeição popular. Sua popularidade caiu muito com o bloqueio da capital".
O discurso de ontem não foi a última ocasião em que o presidente Fox deve sofrer com a ameaça de protestos violentos. No próximo dia 16, dia da Independência do México, ele deve acompanhar a parada militar que acontece no Zócalo e dar o tradicional "grito da Independência". López Obrador já avisou que seus manifestantes acampados não sairão do Zócalo até lá.


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