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Esquerda impede discurso de Fox no Parlamento
Deputados tomam posse, apesar de acusar fraude; López Obrador cancela marcha
Medo de confronto deve se repetir no dia 16, durante parada militar; candidato derrotado mantém protesto contra resultado eleitoral
RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente Vicente Fox foi
impedido de fazer o tradicional
discurso sobre o Estado da Nação ontem no Congresso. Os
deputados de esquerda ocuparam o palco, preparado para o
discurso, com cartazes que chamavam Fox de "traidor da democracia".
O presidente entregou o texto do discurso e se retirou. Ele
fez um discurso televisionado
do palácio presidencial, em que
defende o seu governo e diz que
a democracia avançou.
As medidas de segurança que
antecederam o discurso frustrado paralisaram boa parte da
Cidade do México ontem. Um
batalhão de 6.000 policiais cercou não só o Congresso mexicano como uma área de dez quarteirões ao seu redor. Só deputados e senadores eleitos em 2 de
julho e que tomariam posse ontem, além dos moradores da região, podiam passar. As estações de metrô vizinhas foram
fechadas.
O país vive uma polarização
política desde a disputada (e
contestada) eleição presidencial. O esquerdista Andrés Manuel López Obrador se queixa
de fraude e convocou seus simpatizantes a não reconhecer
Calderón. Desde 30 de julho,
milhares de manifestantes bloqueiam a principal avenida da
capital em protesto.
Até o próximo dia 6, o Tribunal Federal Eleitoral deve proclamar o conservador Felipe
Calderón como novo presidente. A posse acontece em 1º de
dezembro.
No final da tarde, López
Obrador disse que ficaria no
Zócalo, maior praça da capital,
onde se encontra acampado,
"para não cair em provocação".
Temia-se que ele pedisse à
multidão para marchar ao Congresso, o que poderia provocar
um violento confronto.
"Passamos de bloqueio em
bloqueio, parece que estamos
em estado de guerra", disse a
senadora Yeidckol Polevnsky,
do Partido da Revolução Democrática (PRD), de esquerda.
López Obrador chama Calderón de "usurpador" e promete criar um governo paralelo.
Ele acusa o presidente Fox de
ter feito campanha para favorecer Calderón.
Momento de desespero
A tensão no país começou logo após as eleições, quando o
Instituto Federal Eleitoral não
divulgou o resultado imediatamente, alegando que a diferença entre os dois favoritos era
"mínima". O esquerdista citou
fraude e manipulação, e os protestos começaram a crescer.
O resultado oficial apontou
vitória de Calderón por menos
de 0,6 ponto percentual. Em 30
de julho, López Obrador reuniu
quase 1 milhão de pessoas para
protestar contra o fraude e exigir a recontagem total dos votos. Na última semana, o Tribunal Federal Eleitoral julgou não
ter havido fraude e confirmou a
vantagem de Calderón por quase 238 mil votos.
"O momento para López
Obrador é de desespero. Se o
movimento dele se estabiliza
ou o protesto diminui, ele corre
o perigo de se condenar ao esquecimento", disse à Folha o
professor de Ciência Política
do Instituto Tecnológico Autônomo do México Federico Estévez. "Mas se o confronto
crescer e chegar a níveis palpáveis de violência, há um risco
ainda maior, de rejeição popular. Sua popularidade caiu muito com o bloqueio da capital".
O discurso de ontem não foi
a última ocasião em que o presidente Fox deve sofrer com a
ameaça de protestos violentos.
No próximo dia 16, dia da Independência do México, ele deve
acompanhar a parada militar
que acontece no Zócalo e dar o
tradicional "grito da Independência". López Obrador já avisou que seus manifestantes
acampados não sairão do Zócalo até lá.
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